A banca está disponível para financiar um “fortíssimo programa de construção habitacional em Portugal” que, para o presidente do BPI, será a única solução para se resolver o problema do acesso à habitação. Para João Pedro Oliveira e Costa, a solução não pode passar por continuar a subsidiar o crédito de modo a que as pessoas consigam comprar casas – casas essas que, devido à escassez, se tornam mais e mais caras. O acesso à habitação só irá melhorar com um programa de “construção industrial” que a banca está interessada em financiar – e fazê-lo sem as “misturadas” do passado, que agravaram a crise profunda que os bancos viveram na década passada.
João Pedro Oliveira e Costa, o primeiro banqueiro a apresentar em conferência de imprensa os resultados do primeiro trimestre, aproveitou a atenção dos jornalistas para insistir na necessidade de “o Estado assumir a liderança” no lançamento de um ambicioso programa de construção habitacional. Tal programa, além de melhorar significativamente o acesso à habitação, poderá gerar um “motor” de “dinamismo” que será “muito vantajoso” para a economia portuguesa, defendeu.
“Alguns que dizem que há muita habitação que está fechada, vaga há muito tempo, mas para que a solução passasse por aí teríamos de motivar os proprietários a arrendarem essas casas, ou seja, teríamos de alterar a lei do arrendamento tendo em conta que, por alguma razão, durante estes anos todos, essas casas não vieram para o mercado. Se não vieram para o mercado, é porque a lei do arrendamento não é favorável”, afirmou João Pedro Oliveira e Costa. Porém, seria “bem mais proveitoso e geraria maior criação de emprego e dinamismo económico termos aqui um movimento de construção que eu penso que é muito necessário”, considerou.
Temos algumas empresas portuguesas que já fazem construção industrial. Em Portugal já existe essa capacidade de construir não peça-a-peça mas, sim, de forma industrial, que é o que é necessário. Acho que iríamos criar aqui um movimento de emprego muito significativo, além do facto de termos no País um dos números mais elevados de arquitetos per capita e termos das melhores escolas de engenheiros de construção civil”, afirmou João Pedro Oliveira e Costa.
Questionado pelo Observador na conferência de imprensa, em Lisboa, o líder do BPI diz que esta deve ser uma prioridade dos responsáveis políticos e garantiu que a banca está interessada em “apoiar” esta missão – permitindo que “o Estado não tenha de fazer o esforço financeiro de ser ele a pagar a construção”. “Tenho a certeza de que todos [os bancos] irão querer competir numa situação dessas“, isto é, de um lançamento de um grande plano de construção habitacional, afirmou João Pedro Oliveira e Costa, admitindo até que “bancos estrangeiros” queiram vir a Portugal concorrer ao financiamento destes programas.
No programa de Governo de Luís Montenegro está o objetivo de atenuar a crise da habitação por via do aumento da oferta de casas, o que se admite poder passar por parcerias público-privado (PPP) capazes de acelerar a construção. Foi, também, aprovado recentemente (ainda pelo governo anterior) o chamado simplex urbanístico, que tem como objetivo declarado acelerar a construção de casas em Portugal.
À questão do Observador sobre como é que isso pode ser feito sem que a banca volte a ver-se “encharcada” de créditos ruinosos à promoção imobiliária, João Pedro Oliveira e Costa começou por garantir que “o BPI pode falar com alguma propriedade porque nunca teve qualquer problema no crédito da habitação, nem no crédito de construção”.
Por outro lado, acrescentou, “é importante perceber o que é crédito à construção para habitação e o que é promoção imobiliária. Promoção imobiliária é outra coisa”, indicou o banqueiro, acrescentando que há hoje condições para que a banca avance para o financiamento destes projetos sem as “misturadas” do passado. “Muito do que aconteceu na banca [na crise da década passada] deveu-se a outros aspetos que não foram puramente o negócio objetivo de crédito à construção. Tivemos construtores que eram acionistas dos bancos e havia uma misturada entre os vários papéis das várias pessoas”, atirou.
Acho que hoje, com a regulação que temos, com a gestão que temos nos bancos, com regras perfeitamente definidas, não haverá problema”, garantiu João Pedro Oliveira e Costa.
Os comentários do líder do BPI surgiram depois de o banco anunciar que aumentou os lucros do primeiro trimestre em 43%, para 121 milhões de euros, 112 milhões dos quais na atividade em Portugal.
O aumento dos proveitos deveu-se, tal como aconteceu no ano passado, à evolução favorável da margem financeira – que, ainda assim, segundo o banco, já ultrapassou o pico. Por isso, os lucros de 2024 devem ser mais baixos do que em 2023, antevê o banco.
“Já atingimos um pico em relação à evolução da margem financeira“, afirmou João Pedro Oliveira e Costa, indicando que esse ponto mais alto terá sido no quarto trimestre. Neste primeiro trimestre, a margem financeira aumentou 19% em comparação com os primeiros três meses de 2023, para 245 milhões de euros. Porém, já foi um valor um pouco mais baixo do que os 255 milhões do quarto trimestre de 2023.
O presidente do BPI confirmou que é expectativa do banco que os resultados anuais sejam mais baixos em 2024 do que foram em 2023 (ano em que o BPI obteve lucros de 524 milhões de euros). “Apesar do aumento do negócio que vamos tentar fazer, aumentando comissões (não subindo os preçários mas, sim, através de mais negócio), não antevemos que isso tenha uma dimensão que se possa sobrepor à redução da margem financeira”, afirmou João Pedro Oliveira e Costa, confirmando que 2024 trará “uma redução” dos lucros anuais, embora não se preveja que seja muito expressiva.