André Ventura assegurou que o posicionamento do Chega relativamente Marcelo Rebelo de Sousa por este ter sugerido “reparações” aos países colonizados não se trata de campanha eleitoral, mas considera que as declarações atiram o atual Presidente da República para o leque dos piores de sempre, dizendo que “nem Mário Soares foi tão longe”.
“Não tem nada de campanha eleitoral, até há muita gente que me diz que há muitos portugueses que não gostam disso porque intensidade neste tipo de ações”, explicou em entrevista à CNN, frisando que tanto o líder do partido como a liderança da bancada parlamentar têm “dúvidas” sobre o que fazer quanto à ação criminal contra o Presidente da República por haver visões diferentes entre juristas.
Porém, não tem dúvidas de que houve uma “traição” ao país — algo que já tinha referido anteriormente. “Politicamente não tenho dúvidas de que é uma traição à pátria, juridicamente tenho dúvidas porque não é um tema simples, nunca aconteceu em Portugal”, entendeu o líder do Chega. “Foram declarações tão graves que nunca pensei ouvir de um Presidente da República. Achei que estava noutra dimensão”, realçou o presidente do Chega, notando que entenderia que presidentes de outros países o fizessem, mas não o Presidente português por ser “grave, despropositado e inadequado que nunca esperei ouvir dizer isto”.
Neste seguimento, André Ventura recordou que em 2016 acreditou que “Marcelo era importante para a democracia portuguesa” e com estas declarações mudou completamente de visão, mesmo que tenha havido Presidentes de esquerda e “ideologicamente mais distantes”: “Acho que Marcelo Rebelo de Sousa sai como um dos piores senão o pior Presidente da República da nossa História.” E disse ainda que, na sua visão, “nem Mário Soares foi tão longe”.
O líder do Chega teme que, com este tema, “se abra uma caixa de pandora que não vai acabar” e que Portugal enfrente uma circunstância de “quase todos os países estarem a pedir dinheiro, indemnizações ou obras de arte”. Ainda que reconheça que Marcelo Rebelo de Sousa é uma “personalidade que as pessoas gostam”, Ventura sublinhou que a sua “consciência” o leva a agir “independentemente de termómetros de popularidade”. “Diria o mesmo se fosse Luís Montenegro ou Passos Coelho”, assegurou, para justificar que não é contra “Marcelo Rebelo de Sousa enquanto homem”, mas contra o facto de as suas declarações terem o efeito de “coagir o Governo” e também por aquilo “que fica para o futuro”.
“Se não é não, estão a queixar-se de quê?”
André Ventura recusou que o Chega esteja a construir uma coligação negativa com o PS ao ter aprovado propostas para o IRS e portagens, mas recordou o “não é não” de Luís Montenegro e deixou a pergunta ao PSD: “Se não é não, estão a queixar-se de quê?”
“[PSD e Chega] não chegam a acordos nenhuns, o único acordo que havia a fazer era um acordo de legislatura que o PSD não quis e agora está-se a queixar. O Governo é que não quer acordos”, insistiu o líder do Chega, que reiterou que Luís Montenegro tem o seu número e que o pode contactar, mas que até agora não o fez — pelo menos para discutir quaisquer uma dessas questões.
Dizendo-se pouco preocupado com o impacto eleitoral que determinadas posições possam ter, Ventura entende que os portugueses não estão satisfeitos: “Com um Governo tão mau a funcionar tão mal nestes primeiros dias não é difícil que as pessoas compreendam que o Chega tinha razão quando disse que este governo sem o Chega ia ser um flop.” “Professores, polícias e oficiais de justiça desapontados”, destacou, sublinhando que não há respostas: “Só passaram 30 dias e não conheço um setor que não diga que o Governo falhou às suas promessas e estão desapontados.”
Questionado sobre as últimas posições no Parlamento, o líder do Chega reiterou que “não votou ao lado do PS” mas sim de “uma proposta do PS porque reduzia portagens” e explicou que “não é nenhuma coligação negativa, é uma conjugação de forças de programas eleitorais”.
O líder do Chega justificou ainda que não aprovou a proposta do PSD porque “disse que só havia acordo se baixassem os impostos para a classe média e para quem ganha menos, até disse quais eram os escalões” e que o PSD não atendeu às imposições. “Quando chegaram à votação perceberam que não mandam e que não têm esse poder e teve de ser o Parlamento a corrigir os erros do Governo”, notou. E insistiu: “Fico estupefacto que um partido que disse ‘não é não’ ande a chorar-se nas televisões porque dialogou com o Chega e chegámos a um acordo. Se não é não, não há nenhum diálogo a ter.”