Francisco Paupério foi escolhido para encabeçar a lista do Livre às europeias num processo cheio de percalços, que a Comissão Eleitoral do partido chegou a tentar reverter. Ao Observador, em entrevista a partir do congresso do partido, Paupério conta agora que não concordou com o acionamento dos meios legais do Livre, nem concorda que partindo daqui se façam mexidas de fundo no modelo de eleições primárias abertas: “Eu sou a favor das primárias abertas pelo nome primárias abertas. Como existem”.
O candidato europeu acredita que, desde o momento em que as listas foram entregues — e encerrado o processo legal dentro do partido — o partido ficou “unido”, até porque a questão “não era pessoal“. A votação sobre o elenco para as europeias foi, na Assembleia (o órgão máximo do Livre entre congressos), dividida, mas Paupério fecha assim o assunto: “Os membros da Assembleia têm o direito de não estar de acordo com algumas decisões e a questionar o processo”.
Quanto ao que pode acontecer ao modelo das primárias abertas, e depois de Ricardo Sá Fernandes ter defendido ao Observador que a melhor solução poderá ser a criação de um “voto ponderado” que dê um peso maior ao voto de militantes, Paupério rejeita mudanças de fundo.
[Ouça aqui a entrevista a Francisco Paupério]
Francisco Paupério: “Não concordei com processo sobre primárias”
“Podemos obrigar as pessoas a ordenar mais do que um candidato [no boletim de voto], isso é perfeitamente razoável. Esse tem de ser o caminho, e não fechar as primárias, ou obrigar a ponderações”, sem “reações precipitadas”. Agora, diz estar “em contacto com a direção” e a contar com Rui Tavares, “essencial” para o Livre, na campanha e na rua.
Sobre a uma possível candidatura de António Costa ao Conselho Europeu, diz que a opção “só pode ser considerada efetivamente real” quando se colocar, preferindo falar, para já, das prioridades que o Livre leva à Europa: ação climática, habitação, e uma ecologia que tenha um impacto “transversal” e não de nicho.
Ao Observador, o candidato do Livre defende uma “estratégia comum” externa e de defesa para a UE, criticando as instituições europeias por reagirem “a várias velocidades” à situação em Gaza. Mas rejeita explicar se concorda com a proposta, retirada depois de agitar os ânimos do congresso, que incluía a condenação explícita do Hamas no programa do Livre: “Se eu quisesse que a minha opinião fosse pública, teria falado primeiro para dentro. Mais uma questão de forma e de não sermos mal interpretados pelos outros”.
Ainda no plano externo, defende que o envio de tropas para a Ucrânia não é neste momento viável, embora apoie o envio de “armas defensivas” para a Ucrânia. Já dentro de portas, garante que o Livre está “sempre preparado para ir a eleições”, critica o Governo por não ter “um comportamento correto, de negociação” e defende coligações de esquerda, sobretudo a nível autárquico.