Era a despedida do Estádio da Luz, era a despedida de Rafa, era a despedida de uma temporada de má memória. O Benfica recebia o Arouca no último jogo da época em casa e na penúltima jornada do Campeonato e procurava reencontrar memórias melhores do que a derrota da há uma semana em Famalicão que acabou por confirmar o título do Sporting.

A semana encarnada ficou algo engolida nos festejos dos leões, mas a verdade é que a eventual continuidade de Roger Schmidt, a potencial saída de Roger Schmidt ou até a relação de Roger Schmidt com os adeptos é o assunto que mais preocupa o universo do clube. O treinador alemão continua a insistir na ideia de que tem contrato e pretende cumpri-lo — mas as bancadas da Luz e de todos os estádios onde o Benfica tem jogado têm demonstrado ter uma opinião contrária, assobiando-o sempre que é anunciado pelos speakers ou faz substituições.

Ficha de jogo

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Benfica-Arouca, 5-0

33.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Fábio Melo (AF Porto)

Benfica: Trubin, Fredrik Aursnes, António Silva (Morato, 65′), Otamendi, Álvaro Carreras, Florentino (Tiago Gouveia, 65′), João Neves, Di María (Rollheiser, 76′), João Mário, Kökçü (Tengstedt, 76′), Rafa (João Rêgo, 85′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Juan Bernat, Gianluca Prestianni, Diogo Spencer

Treinador: Roger Schmidt

Arouca: Arruabarrena, Tiago Esgaio, Robson Bambu, Javi Montero, Weverson, Pedro Santos (Eboue Kouassi, 50′), David Simão (Miguel Puche, 76′), Jason (Yusuf Lawal, 85′), Cristo González (Oriol Busquets, 76′), Morlaye Sylla, Morozov (Alfonso Trezza, 50′)

Suplentes não utilizados: João Valido, Matías Rocha, Bogdan Milovanov, Vitinho

Treinador: Daniel Sousa

Golos: Di María (gp, 25′), Kökçü (gp, 32′), Rafa (42′ e 46′), Tengstedt (77′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Tiago Esgaio (28′), a Florentino (36′), a Di María (59′), a David Simão (59′)

“A minha situação, de momento, é muito clara: estou completamente focado nos últimos dois jogos. Neste momento temos circunstâncias especiais em que os jogadores têm de atuar, como é óbvio. Sentimos as sensações negativas de parte dos adeptos, mas, para mim, de momento, não é tempo para pensar muito sobre isso. Penso que, depois dos dois jogos, temos muito tempo para pensar sobre isso. Nestas circunstâncias é muito difícil atingir os objetivos do Benfica, isso é muito claro. Se temos de jogar sempre com este ambiente, como equipa, para os jogadores atuarem ao seu melhor nível, é muito difícil ganhar jogos e sermos suficientemente fortes no Campeonato e nas outras competições. O meu foco está nos últimos dois jogos, em preparar a equipa da melhor forma, e depois pensaremos em tudo”, explicou o treinador alemão na antevisão da partida deste domingo.

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Assim, no confirmado último jogo de Rafa no Estádio da Luz, Roger Schmidt não contava com os lesionados Alexander Bah, David Neres, Tomás Araújo, Arthur Cabral e Marcos Leonardo e lançava o avançado português enquanto referência ofensiva, com Kökçü a aparecer a ’10’ e Florentino a regressar ao onze em conjunto com João Neves no meio-campo. Do outro lado, num Arouca perfeitamente tranquilo na classificação, Daniel Sousa tinha Sylla, Cristo González e Jason no apoio a Morozov e já não contava com Rafa Mújica, que assinou pelo Al Sadd do Qatar.

O Arouca procurou demonstrar personalidade na Luz, com uma pressão alta e eficaz que não deixava que o Benfica tivesse a bola durante longos períodos de tempo, mas os encarnados não demoraram muito a encontrar o antídoto e criaram várias oportunidades ainda nos 10 minutos iniciais. Rafa atirou ao lado (6′) e permitiu a defesa de Arruabarrena quando estava isolado (7′), João Neves rematou para nova intervenção do guarda-redes (7′) e Di María tentou em jeito e também ao lado (8′), com a superioridade da equipa de Roger Schmidt a revelar-se evidente.

O Arouca até tinha bola, algo que ia desagradando a uma franja das bancadas da Luz, mas demonstrava-se inconsequente e sem capacidade para entrar no último terço adversário. Do outro lado, a lógica era oposta, com o Benfica a precisar de poucos passes e poucos segundos para se aproximar da baliza contrária. João Neves teve mais uma oportunidade com um cabeceamento que Arruabarrena defendeu (17′), João Mário acertou no poste pouco depois (22′) e ainda antes da meia-hora, de forma natural, apareceu o primeiro golo.

João Mário tentou cruzar, Bambu intercetou com a mão dentro de área e Fábio Melo não hesitou na hora de assinalar grande penalidade, com Di María a converter e a abrir o marcador (24′) — apesar de ter oferecido a ocasião a Rafa, que rejeitou. Cinco minutos depois, novo penálti, com Arruabarrena a derrubar Kökçü na área, Rafa a rejeitar novamente a oportunidade e o médio turco a capitalizar o castigo máximo (32′). Até ao fim da primeira parte, Rafa ainda teve tempo para responder aos pedidos das bancadas e aumentou a vantagem com um bom pontapé cruzado já na área e na sequência de um desequilíbrio de Aursnes na direita (42′).

Ao intervalo, o Benfica estava a vencer o Arouca de forma justa e convincente, já que a equipa de Daniel Sousa não tinha qualquer oportunidade, qualquer canto ou qualquer remate enquadrado, somando-se apenas um pontapé de Sylla que passou muito por cima da baliza de Trubin (41′). Em resumo, a Luz ia desenhando uma despedida da temporada bem mais sorridente do que o conjunto da época.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e Rafa precisou de poucos segundos para bisar e carimbar a goleada: recebeu de Carreras, aguentou a carga de um adversário e ficou isolado, picando a bola à saída de Arruabarrena para chegar aos 22 golos na atual temporada, o melhor registo da carreira. Daniel Sousa reagiu com uma dupla substituição, lançando Kouassi e Alfonso Trezza, mas a lógica do jogo mantinha-se e o Arouca não demonstrava qualquer capacidade para contrariar a superioridade do Benfica.

Di María voltou a colocar a bola no fundo da baliza pouco depois, com o lance a ser anulado por fora de jogo do argentino (58′), e Roger Schmidt mexeu já depois da hora de jogo para lançar Tiago Gouveia e Morato e tirar Florentino e António Silva, recuando João Mário para a zona do meio-campo. A partida entrou em autêntica velocidade-cruzeiro, com o Benfica a realizar uma espécie de treino mais intenso e o Arouca a esperar apenas pelo apito final, com um remate fraco e desenquadrado de Cristo a ser uma espécie de oásis no deserto (68′).

Até ao fim e na primeira vez em que tocou na bola, Tengstedt ainda foi a tempo de fechar a goleada com direito a passe de Rafa, que juntou a assistência aos dois golos marcados (77′). Nos últimos minutos, Roger Schmidt estreou João Rêgo, avançado de 18 anos que cumpriu os primeiros instantes pela equipa principal — e permitiu a última ovação do Estádio da Luz a Rafa.

O Benfica goleou o Arouca na despedida do Estádio da Luz, mantendo a total invencibilidade em casa para o Campeonato durante toda a temporada, e regressou às vitórias depois da derrota em Famalicão. Num jogo muito marcado pelo total divórcio entre as claques encarnadas e os restantes adeptos, com cânticos, tochas, assobios e muitos insultos apesar do resultado, Rafa assinou uma última dança na Luz que foi uma autêntica valsa à antiga.