Os rumores estão agora confirmados: o festival de Cannes arranca mesmo com o abalo de mais um caso de denúncias de assédio e agressões sexuais, desta vez dirigidas ao produtor Alain Sarde, um dos mais aclamados do cinema francês. Depois de ter sido noticiado, durante as últimas semanas, que circulavam rumores sobre um novo caso que surgiria inserido no movimento #MeToo, há de facto um grupo de nove mulheres que avançou com um conjunto de denúncias sobre Sarde.

A história é contada num trabalho publicado pela revista Elle, que recolheu os testemunhos destas mulheres — algumas sob anonimato, outras assumindo a sua identidade — sobre acusações que remontam sobretudo às décadas de 1980 ou 1990.

Há histórias que denunciam mesmo alegadas violações: é o caso de uma atriz de “séries de televisão” não identificada que assegura que Sarde a violou em 1985, tinha a atriz 15 anos e o produtor 33, depois de a chamar para uma suposta reunião profissional no seu apartamento. “Ainda sinto a pressão do corpo dele sobre o meu. Segurou-me e violou-me”, conta a alegada vítima. Outra atriz que preferiu falar sob anonimato relata que em 1989, quando tinha 20 anos, Sarde a obrigou a fazer sexo oral quando também se encontrariam, supostamente, para uma reunião profissional. Depois do episódio, terá desistido de tentar uma carreira no cinema.

[Já saiu o primeiro episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui.]

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Já a atriz Annelise Hesme diz que em 1997, com 20 anos (tinha Sarde 45), o produtor quis contratá-la não como atriz, mas como “acompanhante” (“é o maior produtor de Paris, é a palavra dele contra a tua”, ter-lhe-á respondido o seu agente na altura). Outras acusações falam em tentativas de violação e tentativas de proxenetismo, como resume o El País.

À Elle, a advogada do produtor, Jacqueline Laffont, nega o que diz serem “falsas acusações” sobre “comportamentos que são completamente alheios” ao produtor. Segundo a advogada, Sarde “refuta [essas acusações] com a maior firmeza e afirma que nunca utilizou a mais mínima violência ou coerção nas relações com mulheres, cujo consentimento sempre foi essencial para ele”.

Como a Elle conta, Sarde, hoje com 72 anos, foi um dos “reis de Cannes” durante 30 anos, tendo o festival colocado na sua competição oficial cinquenta dos filmes que produziu (entre eles, Mulholland Drive, de David Lynch, ou O Pianista, de Roman Polanski). Deixou de fazer cinema em 2014.