Um dos grandes mistérios do antigo Egipto poderá ter sido finalmente revelado com novos dados de um estudo agora publicado. No ano passado, um grupo de arqueólogos liderados pela geóloga egípcio-norte-americana Eman Ghoneim tinha descoberto um rio, hoje subterrâneo, que passava por 38 pirâmides do Egito.

Este braço perdido do Nilo ofereceria uma resposta para a pergunta que há séculos interpela os investigadores: como é que os materiais, as enormes pedras, e os trabalhadores, tinham sido transportados para o deserto para construir estes gigantescos monumentos, incluindo a famosa Grande Pirâmide de Gizé? Pelo Ahramat, o tal braço do Nilo.

Em 2023, quando os cientistas revelaram o seu achado, com recurso a potentes radares de satélite, faltava confirmar a tese com o estudo do solo, o que aconteceu já este ano.

A descoberta (vista do espaço) que pode mudar a história das pirâmides do Egipto: o curso de água que as liga a todas

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O estudo publicado esta quinta-feira no jornal científico Nature revela que, não só a partir de imagens de satélite obtidas através de radares, mas com dados geofísicos e análises a sedimentos do solo (o que faltava fazer em 2023), havia uma extensão do rio Nilo, de cerca de 64 km, que terá corrido nas encostas do Planalto do Deserto Ocidental, onde se encontram a maioria das pirâmides.

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Os arqueólogos, liderados pela equipa da Universidade da Carolina do Norte Wilmington (nos Estados Unidos da América) sugerem que “o braço Ahramat [“pirâmide” em árabe] teve um papel na construção dos monumentos sendo utilizada simultaneamente como canal para transportar trabalhadores e materiais de construção para os locais das pirâmides”.

“A grande dimensão deste ramo do Nilo, a sua proximidade ao complexo das pirâmides e o facto de os passadiços das pirâmides terminarem na sua margem sugerem que esta ramificação estava ativa e operacional durante a fase de construção das pirâmides.”

The water course of the ancient Ahramat Branch

O Ahramat é contíguo a 31 pirâmides datadas do Reino Antigo ao Segundo Período Intermediário (2686-1649 a.C.) e estende-se entre as Dinastias III e XIII.

O canal — que poderá ter sido a chave para a construção da Grande Pirâmide de Gizé e outros edifícios — terá existido no tempo dos faraós e está enterrado sob terras agrícolas e deserto há milhares de anos.

A ramificação Ahramat teria uma profundidade entre 2 e 8 metros, um comprimento de cerca de 64 km e uma largura de 200-700 metros, o que é semelhante à largura de um curso vizinho contemporâneo do Nilo.

A conclusão dos cientistas afirma que esta via naútica teria conectado “localizações importantes no antigo Egipto, incluindo cidades e vilas, e por isso, teve um papel importante na configuração da paisagem cultural da região”.

Os cientistas descrevem que esta descoberta tornará os arqueólogos mais capazes de “priorizar localizações para investigação no terreno e, consequentemente, sensibilizar para a conservação destes locais e planeamento moderno do seu desenvolvimento”.