O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) alertou esta quarta-feira para o “drama” dos internamentos inapropriados, afirmando que muitos doentes acabam por contrair infeções nos hospitais e alguns acabam por morrer enquanto aguardam resposta social.
Os dados da 8.ª edição do Barómetro dos Internamentos Sociais (BIS), esta quarta-feira divulgados numa sessão pública no Centro de Reabilitação do Norte, em Valadares, revelam que, em 20 de março, 2.164 camas dos hospitais públicos estavam ocupadas com internamentos sociais, mais 11% face ao mesmo período de 2023, com um custo de mais de 68 milhões de euros para o Estado.
Em declarações à agência Lusa no final da sessão pública, o presidente da APAH, Xavier Barreto, disse olhar para este aumento “com muita preocupação”.
“Temos 11% das camas dos hospitais de agudos do Serviço Nacional de Saúde ocupadas com doentes que de facto não deveriam lá estar. É um dado que nos devia alarmar a todos pelo impacto que tem logo à partida nos doentes”, salientou.
Xavier Barreto disse ser importante não esquecer que “muitos destes doentes que estão internados de forma inapropriada ficam no hospital durante meses à espera de uma resposta de um lar, de uma vaga na rede de cuidados continuados”.
“Não sei se as pessoas têm consciência do drama que isto é, porque estes doentes já têm o seu problema clínico resolvido, mas tem ainda algumas dificuldades, por exemplo, na sua autonomia, o que os obriga a ficar à espera de uma resposta e enquanto esperam pela sua resposta, muitos já não saem do hospital e é isto que devemos alarmar a todos imediatamente”, afirmou.
Entre março de 2023 e março deste ano foram registados 378.068 dias de internamento inapropriado (mais 13%) por falta de resposta da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) e da Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI).
Xavier Barreto disse ser urgente pôr em execução o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que prevê a criação de 5.500 camas de cuidados continuados, que disse “serem urgentes” para poder dar resposta aos doentes.
“Já passaram quase dois anos desde o início da aplicação do PRR e nós não temos informação nenhuma (…) neste investimento em concreto”, lamentou.
O administrador hospitalar alertou também para o “impacto muito significativo” dos internamentos sociais nos hospitais, considerando que “se as camas estão ocupadas com estes doentes, não vão ser suficientes para, por exemplo, doentes cirúrgicos que são internados a partir do serviço de urgência”.
“Quando às vezes dizemos que o serviço de urgência está congestionado, que tem dezenas de doentes à espera” isto acontece porque “as camas para onde deviam ir estão ocupadas com outros doentes que não deviam lá estar”, adiantou.
Para combater este problema, Xavier Barreto defendeu ser necessário melhorar a articulação entre os setores da saúde e segurança social, mas também aumentar a capacidade da RNCCI e dos lares.
Também apontou o apoio às famílias e aos cuidadores informais como “uma questão fundamental”, defendendo que devem ser capacitados e em muitos casos apoiados financeiramente para poderem levar o seu familiar para casa.
“Muitos não têm rendimentos para fazer face à necessidade de cuidar de um pai ou de um familiar que está a precisar em determinado momento” do seu apoio.
Para Xavier Barreto, esta situação resulta de políticas que têm sido seguidas nos últimos anos e que “não têm acautelado devidamente esta questão”.