O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, apelou esta segunda-feira à Coreia do Sul e ao Japão para rejeitarem o “protecionismo” e a “dissociação” económica da China, na abertura de uma cimeira trilateral em Seul.

“Li pediu à Coreia do Sul e ao Japão para não transformarem as questões económicas e comerciais em jogos políticos ou questões de segurança e para rejeitarem o protecionismo, a dissociação ou a rutura nas cadeias de abastecimento”, informou a imprensa estatal chinesa.

O governante fez o apelo durante a abertura da nona Cimeira Trilateral entre China, Japão e Coreia do Sul. O primeiro encontro trilateral em mais de quatro anos é visto como um sinal positivo para aliviar as tensões no nordeste asiático.

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“É necessário melhorar a conectividade económica e comercial, reforçar a cooperação nas cadeias industriais e de abastecimento regionais e trabalhar para reiniciar as negociações de um acordo de comércio livre trilateral”, afirmou Li, segundo uma nota partilhada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

O objetivo das principais economias do mundo de reduzir os riscos no comércio com a China foi estabelecido, no ano passado, pelo grupo G7. Nesta estratégia, as empresas estrangeiras podem fazer negócios com o país asiático, mas com algumas salvaguardas: vetar a venda de tecnologias críticas com potenciais utilizações militares e reduzir dependências nas cadeias de abastecimento.

Japão e Coreia do Sul restringiram já o fornecimento a entidades chinesas de chips semicondutores avançados, componentes essenciais na produção de alta tecnologia, incluindo inteligência artificial, mas que tem também aplicações militares.

Entre os maiores riscos está a possibilidade de um conflito em Taiwan, que Pequim reclama como território chinês, apesar de funcionar como entidade política soberana. Uma invasão da ilha pela China é suscetível de desencadear um conflito que envolverá Estados Unidos, Japão e outros países da região.

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“É importante que os três países lidem adequadamente com questões sensíveis, diferenças e desacordos, acomodem os interesses centrais e as principais preocupações uns dos outros e pratiquem o verdadeiro multilateralismo, para salvaguardar conjuntamente a segurança e a estabilidade no nordeste asiático”, afirmou Li Qiang.

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Li Qiang fez estes comentários no domingo, durante um encontro com Lee Jae-yong, presidente da Samsung Electronics, na véspera da cimeira trilateral entre a Coreia do Sul, China e Japão.

O gigante mundial da produção de semicondutores e telemóveis, que é uma das maiores empresas estrangeiras na China, investiu milhares de milhões de dólares em instalações para produzir chips e produtos eletrónicos.

“As empresas estrangeiras são essenciais para o desenvolvimento da China e o mega mercado chinês estará sempre aberto às empresas estrangeiras”, afirmou Li, durante a reunião com o diretor da Samsung, segundo a agência de notícias oficial chinesa Xinhua.

“Pequim vai adotar medidas como a expansão do acesso ao mercado para melhorar o ambiente empresarial, de modo a que as empresas estrangeiras possam ter confiança no seu investimento e desenvolvimento na China”, acrescentou.

A China dá as boas-vindas às empresas sul-coreanas, incluindo a Samsung, para que continuem a desenvolver o seu investimento e cooperação na China”, vincou.

A Câmara de Comércio da União Europeia na China declarou recentemente que os seus membros enfrentam dificuldades no país, nomeadamente em termos de acesso ao mercado e de barreiras regulamentares.

Durante o seu encontro com o presidente da Samsung, Li Qiang também “apelou às empresas da China e da Coreia do Sul para explorarem ainda mais o seu potencial de cooperação em novos domínios, como a inteligência artificial”, noticiou a imprensa local.

A Samsung é uma das poucas empresas capazes de produzir chips semicondutores avançados, componentes essenciais na produção de alta tecnologia, incluindo inteligência artificial, mas que têm também aplicações militares.

Os chips estão no centro do braço de ferro tecnológico entre os Estados Unidos e a China. Washington tomou uma série de medidas para impedir que a China tenha acesso às tecnologias de ponta em semicondutores, incluindo a oferta de incentivos no valor de milhares de milhões a empresas como a Samsung para deslocalizarem a produção para os EUA.

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Na véspera da reunião, o Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, realizaram uma série de reuniões bilaterais, que incluíram alguns temas espinhosos, como a Coreia do Norte, Taiwan e o mar do Sul da China.

Após a reunião com Li, Kishida disse que manifestou preocupação relativamente à situação no mar do Sul da China, em Hong Kong e na região de Xinjiang, no noroeste da China. Kishida afirmou ainda que o Japão está a acompanhar de perto a evolução da situação na ilha autónoma de Taiwan.

Kishida referiu-se à assertividade militar da China no mar do Sul da China, à repressão dos movimentos pró-democracia em Hong Kong e às violações dos direitos humanos contra minorias étnicas de origem muçulmana em Xinjiang. Na semana passada, a China também lançou um grande exercício militar em torno de Taiwan para mostrar a sua ira face à tomada de posse do novo líder da ilha, que se recusa a aceitar que o território faz parte da China.

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Quando Yoon se reuniu com Li separadamente no domingo, falou sobre o programa de armas nucleares da Coreia do Norte e o aprofundamento dos laços militares com a Rússia, e pediu à China, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, que contribuísse para promover a paz na península coreana, de acordo com o gabinete de primeiro-ministro sul-coreano.

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A Coreia do Sul, o Japão e os Estados Unidos há muito que instam a China – o principal aliado e parceiro económico da Coreia do Norte – a utilizar a sua influência para persuadir Pyongyang a abandonar as ambições nucleares. Mas a China é suspeita de evitar a aplicação integral das sanções da ONU contra o regime norte-coreano e de enviar carregamentos clandestinos de ajuda ao vizinho empobrecido.

Num acontecimento que pode aumentar ainda mais as tensões na península coreana, a guarda costeira japonesa disse esta segunda-feira que a Coreia do Norte a informou de um plano para lançar um satélite no início da próxima semana, num provável esforço do país para colocar em órbita o segundo satélite espião militar. A Coreia do Norte afirmou que precisa de satélites espiões para monitorizar a Coreia do Sul e os Estados Unidos e melhorar a capacidade de precisão dos seus mísseis.

Os temas sensíveis que envolvem a China não constam da agenda oficial da reunião desta segunda-feira.

As autoridades da Coreia do Sul, anfitriã da reunião, afirmaram que uma declaração conjunta após a reunião trilateral vai abranger a discussão dos líderes sobre a cooperação em áreas como intercâmbio interpessoal, alterações climáticas, comércio, questões de saúde, tecnologia e resposta a catástrofes.

As três nações asiáticas representam, em conjunto, cerca de 25% do produto interno bruto mundial. Mas as suas relações têm sofrido retrocessos, devido a questões relacionadas com a agressão do Japão em tempo de guerra, as ambições da China de ser a potência dominante na região e o esforço dos EUA para reforçar as suas alianças asiáticas.

A Coreia do Sul e o Japão são ambos aliados fundamentais dos EUA na região. As suas iniciativas para reforçar a parceria de segurança trilateral com os Estados Unidos foram objeto de repreensões por parte da China.

A reunião trilateral China – Coreia do Sul – Japão deveria ter lugar anualmente, após a primeira reunião em 2008. Mas as sessões foram interrompidas desde a última, em dezembro de 2019, em Chengdu, na China, devido à pandemia da covid-19 e ao agravamento dos laços entre os três países.