A alegada agressão a uma criança nepalesa numa escola de Lisboa e a justificação para a ameaça à bomba na sede do Chega são os dois casos mais semelhantes à desinformação apontados pelo MediaLab durante a campanha europeia.

Segundo este centro de estudo de ciências da comunicação integrado no (ISCTE-IUL), que celebrou uma parceria com a Comissão Nacional de Eleições para a deteção de noticias falsas durante o período eleitoral das europeias de 9 de junho, nenhum daqueles casos é, porém, um exemplo típico de desinformação.

A razão tem a ver com o facto de, no primeiro incidente, não ter sido até agora possível apurar cabalmente o que aconteceu e, no segundo, embora sendo verdade o facto (a ameaça de bomba), a justificação de que teria sido um ex-militante do partido que reivindicava o pagamento de uma dívida era, afinal, um conteúdo satírico, republicado como genuíno.

De acordo com um relatório do MediaLab, a que a Lusa teve acesso, o caso da alegada agressão à criança “gerou um ciclo de informação e posterior desinformação, que aumentou a polarização nas redes sociais a propósito da problemática da imigração”.

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Este incidente é particularmente complexo e a sua noticiabilidade e partilhas são, segundo os autores do relatório, “um ‘case-study’ que pode ajudar a perceber as dinâmicas desinformativas” em tempo eleitoral.

Os contornos do caso não são ainda claros, com a entidade que o denunciou a admitir “erro na divulgação” e um inquérito do Ministério Público ainda não concluído.

A noticia original, que dava conta de uma tentativa de “linchamento” de uma criança nepalesa por colegas numa escola da região de Lisboa num contexto racista e xenófobo, foi objeto de uma nota do Ministério de Educação no dia seguinte, negando a sua ocorrência, pelo menos nos termos e local em que tinha há sido feita a denúncia.

O relatório do MediaLab refere que “os meios de comunicação social noticiaram o caso baseando-se em informações que vieram a demonstrar-se imprecisas e isso possibilitou o aproveitamento por parte de utilizadores anónimos e agentes políticos para promover as suas próprias agendas políticas”.

Todo o caso é “um exemplo paradigmático da forma como a competição pela atenção entre os media os leva a reproduzir notícias imediatamente sem um ‘double-check’, as quais depois são aproveitadas para aumentar a polarização do discurso político”, dizem os investigadores do MediaLab.

Para estes, a análise das redes e media sociais a propósito deste caso comprova que “a imigração continua a ser uma das tendências principais de desinformação na Europa e de mobilização do discurso político em Portugal, a duas semanas das eleições para o Parlamento Europeu”.

Segundo o relatório, houve, no Instagram, Facebook e Twitter/X, 94.885 interações (soma de ‘gostos’, partilhas, comentários) referentes ao caso da criança nepalesa entre 14 de maio (data da primeira notícia) e 23 de maio.

Quanto ao segundo incidente — o da ameaça de bomba na sede do Chega alegadamente praticado por um ex-militante — é considerado pelos autores do relatório como um “conteúdo impostor“.

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Este ocorre quando alguém utiliza a ironia ou o sarcasmo, mas muitos utilizadores não percebem e republicam-no como verdadeiro, dando-lhe assim potencial desinformativo. O jornal digital Polígrafo desmentiu a notícia.

Os investigadores detetaram “pelo menos cinco partilhas da notícia fabricada”, sendo que algumas delas tinham “características típicas de páginas de humor e sátira, incluindo a conta que primeiro divulgou a imagem”.

Consoante as partilhas realizadas, o tom satírico da publicação original pode perder-se, o que, segundo os investigadores do MediaLab, efetivamente se verificou neste caso.

Ao todo, as cinco contas que publicaram a notícia satírica (entre elas uma conta paródia da dirigente do Chega Rita Matias) obtiveram 1333 interações e um total de 73.040 visualizações.