O realizador guineense Sana Na N’hada defendeu, em declarações à Lusa, que Portugal devia enviar professores de português para a Guiné-Bissau como forma de reparar, como defendeu o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, as consequências do colonialismo.

“Eu acho que o que Portugal podia fazer bem, se quisesse pagar, era melhorar a estrutura que há no país. Mandava professores portugueses para nos ensinar o português correto“, disse.

Sana Na N’hada, que veio a Portugal apresentar o seu último filme, e quarto da sua filmografia, confessa que ele próprio aproveitaria a presença dos professores. “Eu não falo bem o português. Eu queria aprender o português”, salientou e, fazendo o diagnóstico do atual estado da língua portuguesa no seu país, conclui que “a língua portuguesa está a desaparecer na Guiné-Bissau“.

O envio dos professores “era bom para a Guiné-Bissau e para Portugal também. Isso era uma reparação”, reiterou.

Cinema na Guiné: está tudo por fazer

Quanto ao estado do cinema na Guiné-Bissau, Sana Na N’hada considerou que está tudo por fazer. “Infelizmente não há definição, ninguém fez nada para ter uma política de cinema na Guiné-Bissau, para além de surgimento do Instituto Nacional de Cinema, em 1978 nunca mais houve nada”, lamentou.

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A alternativa são as coproduções e Sana Na N’hada nomeia ainda os realizadores guineenses Flora Gomes e Suleimane Biai como, consigo, os únicos que procuram fazer algo pelo cinema guineense. “Somos três pessoas que não fazem outra coisa senão cinema, mas isso leva tempo”, acrescentou.

“Nome”, coprodução portuguesa que junta Lu´is Correia e a Lx Filmes (Portugal), a Spectre Productions (Franc¸a), a Geba Films (Guiné-Bissau), a Geração 80 (Angola) e a The Dark (Franc¸a), foi apresentado em antestreia em Portugal no passado dia 27 no Indie Lisboa e entra ainda este ano no circuito comercial.

Marcelo insiste em “reparação” às ex-colónias. “Não podemos meter isto para baixo do tapete. Temos obrigação de liderar”

O filme fala da Guiné-Bissau em 1969, durante a guerra de libertação contra o colonialismo português e apresenta Nome, que deixou a sua aldeia para se juntar à guerrilha do PAIGC. Anos depois Nome regressa à aldeia como herói mas a alegria do retorno dá lugar à amargura e ao cinismo.

Esta quarta longa-metragem de Sana Na N’hada teve a sua primeira exibição no ACID de Cannes, em 2023, e esteve este ano em destaque na secção Harbour do Festival Internacional de Cinema de Roterdão, no Festival Internacional do Filme Independente de Bordeaux 2023, onde venceu o Grande Prémio da Competição Internacional e a atriz Binete Undongue recebeu uma menção especial.

Noutros festivais, como no Du Grain à Démoudre 2023, ganhou o Prémio de Melhor Longa-metragem e no Festival Internacional de Cinema Pan-africano de Luanda 2023 venceu o Prémio de Melhor Filme, tendo sido também atribuído o Prémio de Melhor Realização e Prémio de Melhor Atriz para Binete Undonque.