O que podia ter sido uma simples festa de anos tornou-se num escândalo que chocou a Austrália: Omar (ou melhor, a sua família) decidiu celebrar os seus quatros anos com uma festa temática inspirada pelo Hamas, usando como motivo o líder das brigadas militares do grupo terrorista, Abu Ubaida. As imagens do bolo e dos cupcakes personalizados foram eliminadas das redes sociais, mas não suficientemente rápido, gerando comentários e reações de utilizadores do Instagram e ainda de altos executivos de Nova Gales do Sul.

Inicialmente, as imagens foram divulgadas pela Oven Bakery by Fufu, uma pastelaria em Sydney que faz bolos personalizados. Ainda que apagadas, as capturas de ecrã foram recuperadas e divulgadas por vários jornais, como o The Telegraph e o The Jerusalem Post e correm ainda a rede social X (antigo Twitter), onde o The New York Post as publicou . Estas mostram cupcakes intercalados com dois desenhos diferentes. Sobre o fundo branco, surge ou a bandeira palestiniana ou a reprodução de uma imagem de Abu Ubaida. Não o primeiro, o ‘verdadeiro’ Abu Ubaida, quem protegeu e acompanhou, durante o sétimo século depois de Cristo, o profeta Maomé, criador do islamismo, religião fundada no século VII.

Mas sim o atual Abu Ubaida, nome de guerra do porta-voz oficial das brigadas Al-Qassam, braço militar do Hamas. Segundo o jornal Al-Sharq Al-Awasat (sediado em Londres), Abu Ubaida é porta-voz destas desde pelo menos 2007. A sua identidade é objeto de muita especulação: segundo este jornal, o seu verdadeiro nome será Hudhayfa Samir, se bem que nem o Hamas nem as brigadas Al-Qassam confirmem a sua identidade.

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Desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, quando o grupo terrorista matou 1200 pessoas e fez 240 reféns, que Abu Ubaida aparece recorrentemente em vídeos de propaganda de rosto tapado por um keffiyeh – lenço tradicional palestiniano – aos quadrados encarnados e brancos, copiando Imad Aqel, ex-líder da Al-Qassam, preso por Israel em 1993. Face à ofensiva israelita a Gaza, Ubaida terá chegado a ameaçar matar um refém por cada casa em Gaza que fosse bombardeada sem aviso prévio, recorda o The Telegraph,

Outra imagem do aniversário, mostra ainda Omar de rosto tapado com um keffiyeh e com um fato camuflado militar, levantando o dedo indicador, reproduzindo a imagem do comandante da brigada do Hamas. Atrás, vê-se o bolo de anos, enorme, de vários andares, com a bandeira palestiniana e a imagem do comandante. Ao pé, os mini cupcakes, sobre uma toalha verde e mais acima, fios pendurados com bandeirolas da Palestina.

Charles Minns, chefe de governo do Estado de Nova Gales do Sul, classificou as imagens de “horríveis” e descreveu o Hamas como “uma organização terrorista malvada”. Acrescentou ainda que as festas de crianças deviam ser “inocentes e divertidas” em vez de transmitirem mensagens de ódio.

A posição do líder da oposição de Nova Galês do Sul, Mark Speakman, não diferiu muito da de Minns, considerando as fotografias “muito chocantes”, sugerindo que “em vez de bolos que celebrem terroristas, devíamos celebrar as pessoas da nossa comunidade que promovem uma sociedade mais coesa”.

A propósito de comunidade, Robert Gregory, chefe executivo da Australian Jewish Association, declarou que “o extremismo islâmico e a radicalização de jovens não é apenas um problema para a comunidade judaica. É uma ameaça a todos os australianos”. Recordando que, recentemente, a Austrália assistiu a “vários incidentes” da juventude muçulmana, quem, alegadamente, esfaqueia ou planeia atacar os australianos. “O doutrinamento dos jovens começa cedo e é semelhante ao que observamos por todo o Médio Oriente”, concluiu.

Assim mesmo, Alex Ryvchin, co-executivo do Executive Council of Australian Jewry, também condenou as imagens, afirmando que “É preciso padecer de uma rara espécie de psicose para se querer ensinar a um miúdo que os terroristas do Hamas devem ser admirados e emulados”. Os “rapazes com pais normais vão estar a celebrar com o Batman ou o Real Madrid, promovendo uma compreensão do bem contra o mal, de modelos que lutam pela excelência. Se de facto isto é o que se passa nalgumas casas em Sydney, então temos de nos preparar para uma geração de jovens violentos e extremistas”, avisou. Terminou por dizer que “os pais e os pasteleiros que pensaram que era aceitável glorificar terroristas proibidos pela lei deviam ter vergonha. As autoridades deviam estar a par deste incidente”.

A polícia federal australiana, por sua vez, está a investigar a pastelaria, localizada numa zona eclética e cada vez mais multicultural de Sydney, como avançado pelo The Telegraph.