Afinal, há vida na Fórmula 1. As primeiras sete provas do Mundial de 2024 até tiveram aquela desistência na Austrália e o segundo lugar em Miami atrás de um Lando Norris para a história, mas Max Verstappen, um tricampeão a acelerar para o tetra com um Red Bull sem opositores à altura, ganhou cinco corridas e mostrou que aquilo que se poderia discutir ao longo da temporada era tudo menos o vencedor no final. No Mónaco, e por um fim de semana, a realidade foi outra. Charles Leclerc esteve fantástico no Grande Prémio da “sua” casa, Oscar Piastri e Carlos Sainz Jr. fecharam um pódio inédito, o neerlandês não foi além do sexto. Era só uma exceção que nunca iria passar a regra mas que abria um cenário de maior “imprevisibilidade”.

Do caos no início à tranquila vitória de Leclerc: piloto da Ferrari vence pela primeira vez no Mónaco

Que Max Verstappen é mais do que favorito para se sagrar de novo campeão, ninguém tem dúvidas. Que a Red Bull tem o carro mais completo e fiável para o neerlandês, também não. Ainda assim, com o passar das semanas, a concorrência subiu. A McLaren foi uma grande surpresa a colocar pilotos em quatro pódios consecutivos, a Ferrari demonstrou uma capacidade redobrada no Mónaco. Agora, foi a vez de também a Mercedes dar um ar da sua graça no Canadá, onde Verstappen vinha de dois triunfos seguidos.

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Numa situação incrível e praticamente inédita, George Russell assegurou a pole position para o arranque da nona corrida da temporada com o mesmo tempo do que Max Verstappen na Q3, passando para a frente do neerlandês por ter sido o primeiro a alcançar a marca (1.12,000). Mas havia mais: os McLaren de Lando Norris e Oscar Piastri ficaram na segunda linha com registos muitos próximos dos dois primeiros e havia as surpresas Daniel Ricciardo (RBH Honda) e Fernando Alonso (Aston Martin) antes do outro Mercedes de Lewis Hamilton. Os Ferraris, esses, passaram do paraíso a uma espécie de semi inferno, ficando apenas na sexta linha da grelha. E era neste contexto que o arranque assumia uma especial importância para a prova que, com os ritmos de qualificação, teria também grande peso na estratégia de paragens das equipas, até pela chuva que tinha caído e que voltou a aparecer momentos antes do arranque da volta de formação.

Todos patinaram um bocado no arranque, com Russell a conseguir aguentar a primeira posição à frente de Versatappen e os dois McLaren nos lugares seguintes. Um pouco mais atrás, Alonso e Hamilton passaram Ricciardo, ao passo que os Ferraris se iam afundando mais na classificação enquanto Magnussen, com pneus de chuva, já ia no sexto posto apenas com duas voltas percorridas. Sergio Pérez, esse, rodava em 17.º, muito longe de qualquer hipótese de chegar aos pontos para melhorar o atual quinto lugar no Mundial. O destaque era mesmo o dinamarquês da Haas, que saindo da 14.ª posição beneficiava da maior tração à pista para ir subindo lugares até colocar-se entre os McLaren à frente de Piastri. O céu ficava azul mas…

A pista começava a formar uma linha mais seca mas Magnussen aproximava-se de Lando Norris enquanto Russell rodava com mais de dois segundos e meio de avanço sobre Verstappen mas com o neerlandês a fazer tempos a reduzir a desvantagem. Também a luta pelo quinto posto aquecia, com Hamilton a fazer uma curva em frente e a ceder depois a posição a Alonso que também “patinou” quando passou pelo inglês. Voltava o sol, os Haas tinham ido trocar de pneus, colocando os intermédios depois do brilharete inicial à chuva, tudo começava a “normalizar” depois da interferência da chuva naquilo que foi o desempenho no arranque. Se Norris tentava não descolar de vez dos dois primeiros, Verstappen começava a colar-se a Russell na frente mas um erro numa curva voltou a colocar a diferença para a liderança do inglês a rondar os dois segundos.

Aquilo que estava a ser uma luta pelo primeiro lugar passou a ser uma luta pelo segundo, com Norris colado ao neerlandês quando se faziam contas para novo aparecimento da chuva, ainda que ligeira, em Montreal. À 20.ª volta, antes dessa previsão, o McLaren de Norris conseguiu passar o Red Bull de Verstappen e foi logo para a traseira de Russell, que dos três parecia ser aquele que tinha mais dificuldades. Se dúvidas existissem, era só mais uma volta: Norris passou Russell, o piloto da Mercedes teve uma ligeira saída de pista e Max Verstappen assumiu a segunda posição, sendo que o McLaren não demorou a criar um avanço superior a dez segundos antes do safety car depois da terceira saída de Logan Sargeant que levou tudo às boxes.

Esse foi um momento de viragem na corrida que pouco depois voltaria a ter um curto período de três voltas de chuva (mais forte do que se pensava até) antes de novo aparecimento do sol: Verstappen assumiu o topo, Russell passou a segundo e Norris desceu a terceiro depois da troca de pneus após o peão de Sargeant que foi a pior notícia para o piloto da McLaren, ao passo que Hamilton estava na quinta posição ainda a tentar ter carro para lutar com os dois da frente após superar Alonso. Mais atrás, Leclerc passava entre saídas e mais problemas de vencedor no Mónaco para 19.º e desistente, ao passo que Carlos Sainz Jr. corria em 13.º.

A pouco mais de 20 voltas do final, as passagens pelas boxes para a segunda troca de pneus deixou Norris a tentar sem sucesso passar ainda Verstappen mas Russell a descer à terceira posição antes da passagem do Mercedes de novo a segundo e novo erro de Russell a estender a passadeira de novo a Norris. Quem ia aproveitando tudo isso? Verstappen, claro. Até nova entrada do safety car, desta vez depois de um acidente entre Alexander Albon e Carlos Sainz Jr. que deixou o Ferrari na relva (enquanto o espanhol pedia desculpa pela rádio). Todos os da frente tinham pneus novos, sendo que Russell já tinha caído para quarto sem que se percebesse o que motivara essa falta de ritmo. Com zonas da pista de novo molhadas e outras ao sol, Max Verstappen aguentou bem a liderança à frente de Norris e Hamilton aproveitou da melhor forma o toque entre Russell e Piastri para rodar em terceiro antes de perder o lugar para o companheiro de equipa.