A retalhista chinesa Shein aumentou os preços em cerca de um terço em alguns dos seus produtos, numa altura em que prepara a entrada na bolsa de Londres através de uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês). A subida dos preços foi superior à das principais concorrentes H&M e Zara, de acordo com dados agregados pela empresa londrina Edited, que compara os preços a 1 de junho deste ano com o mesmo período do ano anterior.

Segundo a Reuters, a decisão de aumentar os preços terá sido tomada com o intuito de aumentar as receitas e, assim, a avaliação antes de a IPO se concretizar. “Se conseguirem demonstrar que conseguem manter estes preços, a avaliação aumenta significativamente”, observa Alex Romanenko, diretor de retalho da consultora de preços Pearson Ham Group, à agência de notícias. E isso pode favorecer os planos para a IPO.

No site do Reino Unido, um vestido custa agora, em média, 24,12 libras (cerca de 28,55 euros), 15% acima do valor de há um ano. Já o preço médio em França, Alemanha, Itália e Espanha subiu 36%. O Observador pediu dados sobre Portugal e aguarda resposta.

Nos EUA, a subida calculada ronda os 28% no caso dos vestidos, para 28,51 dólares (cerca de 26,44 euros) em média. O ritmo de subida foi superior às concorrentes, mas a gigante chinesa continua a ter preços mais baixos (na H&M a média nos EUA é de 38 euros e na Zara é de 73,90).

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Mas, nos EUA, foi nos sapatos que os preços mais subiram: há um ano, um par custava em média 25,3 dólares (cerca de 23,44 euros) e hoje está nos 40,7 dólares (37,31 euros). O aumento pode explicar-se, em parte, com o facto de a Shein ter trazido outras marcas para a sua plataforma, como a Skechers, cujos preços variam entre 32 dólares e 174 dólares no site da Shein.

A Shein tinha inicialmente planos para entrar em Wall Street, mas acabou por mudar os planos para Londres devido à tensão entre Washington e Pequim. Em fevereiro, foi noticiado que estava a estudar a entrada na bolsa de Londres ao perceber a baixa probabilidade de receber luz verde do regulador da bolsa norte-americana.

Além do TikTok, há outras empresas chinesas como Temu e Shein em risco nos EUA?

Segundo a Sky News, a Shein tenta obter, com a entrada em bolsa, uma avaliação de 50 mil milhões de libras, o equivalente a mais de 46 mil milhões de euros. Se concretizado, este IPO seria um dos maiores de sempre no Reino Unido.

Mas a Bloomberg escreve que o processo não será fácil para a retalhista, que tem de convencer reguladores, políticos e investidores de que cumpre os requisitos europeus a nível ambiental e social. A empresa tem sido associada ao uso de algodão vindo da região chinesa de Xinjiang, onde há suspeitas de violação dos direitos humanos na minoria uighur.

Os dois maiores partidos políticos no Reino Unido (o Partido Conservador e o Labour) já se encontraram com representantes da retalhista, mas nenhum expressou publicamente o apoio à operação. O Labour não terá intenção de bloquear a operação, mas ainda não fez nenhuma due diligence, adianta a Bloomberg. Já Nigel Farage, do Reform UK, defendeu que seria uma “muito má ideia” e “não vai mudar a crise de IPO” na bolsa londrina.

Em março, o Financial Times avançou que a empresa — criada na China mas que entretanto se mudou para Singapura — mais do que duplicou os lucros em 2023, para mais de dois mil milhões de dólares.