Chegou o grande dia. O dia de estreia da campeã europeia. O dia de um regresso. Separadas pelo Mar Adriático, Itália e Albânia rumaram a norte e estrearam-se este sábado, em Dortmund, no Campeonato da Europa de 2024, numa partida que encerrou a primeira jornada do Grupo B, apelidado de “grupo da morte”. De um lado estava a atual campeã europeia. Do outro uma das equipas surpresas da fase de qualificação.

Itália (Grupo B). A squadra que vai à guerra sem os habituais generais (e sem o Call of Duty no estágio)

Depois de conquistarem o troféu em Wembley, em 2021, os transalpinos foram do céu ao inferno muito rapidamente e, poucos meses depois, falharam o apuramento para o Campeonato do Mundo do Qatar. Perante o insucesso, azzurra entrou num processo de renovação que levou Luciano Spalletti a assumir o cargo de selecionador e a convocar apenas cinco jogadores que foram titulares na final frente a Inglaterra.

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Na mesma toada encontravam-se as águias. Em relação a 2016, a sua última participação em grandes torneios, muito mudou na Albânia, desde logo com a presença de Sylvinho no comando técnico. A entrada do antigo craque de Arsenal, Barcelona ou Manchester City teve um impacto tremendo na seleção albanesa que, de forma surpreendente, venceu o Grupo E da fase de qualificação à frente de Rep. Checa e Polónia, somando apenas um desaire na campanha (0-1 em casa dos polacos). O sangue novo — apenas cinco jogadores repetem a presença em Europeus — estava finalmente a fazer efeito.

Albânia (Grupo B). O teste sem pressão à vitória de um algoritmo que se vai tentar intrometer no “grupo da morte”

Perante uma equipa bem trabalhada por Sylvinho — tornou-se no segundo treinador sul-americano a participar num Europeu, depois de Scolari — que prima pela postura defensiva e o pouco espaço que concede aos adversários, Spalletti decidiu apostar numa linha de quatro na defesa, em detrimento do habitual trio de centrais. Porém, 23 segundos bastaram para colocar à vista as fragilidades italianas. Num lançamento lateral junto à sua área, Dimarco colocou a bola nos pés de Bajrami que, com espaço, fez o quis e desferiu um remate forte para o golo inaugural, que se tornou no mais rápido da história dos Europeus. Contudo, a vantagem durou pouco tempo, já que Pellegrini descobriu Bastoni solto de marcação ao segundo poste, e o central do Inter Milão cabeceou para o empate (11′).

azzurra respondeu bem à má entrada na partida, assumiu as despesas da partida e, cinco minutos depois, completou a reviravolta, através de um remate fulminante de Barella, à entrada da área, depois de um corte incompleto da defesa albanesa (16′). A vantagem italiana acabou por não mudar o rumo do jogo, e as águias continuaram remetidas à sua defesa, com a Itália a dominar por completo. As oportunidades continuaram a surgir, com destaque para o remate ao poste de Frattesi (33′), mas a vantagem pela margem mínima seguiu para o segundo tempo.

Na etapa complementar, a Albânia apresentou outra postura, subindo as linhas e dispondo de mais posse de bola. No entanto, continuou sem criar ocasiões de perigo e, com o passar dos minutos, a Itália foi ficando mais confortável com o sentido do jogo. A partida tornou-se combativa na reta final, bem ao estilo do futebol transalpino, e os italianos voltaram a remeter os albaneses ao terço defensivo do seu meio-campo, baixando o ritmo do jogo. As substituições não alteraram o desfecho da partida… por pouco. Em cima do minuto 90, Rey Manaj ganhou as costas à defesa transalpina, tentou desviar a bola de Donnarumma, mas o guarda-redes impediu o golo com um toque fulcral. O resultado acabou por manter-se inalterado e Itália confirmou a entrada com o pé direito no Europeu.

A pérola

  • Essencial no processo de construção, um apoio em zonas de finalização. Nicolò Barella continua a afirmar-se como um dos melhores médios do mundo e, frente à Albânia, foi a principal figura da seleção italiana. Com o golo da reviravolta, a importância do médio do Inter Milão vai muito para além do que mostram os números, sendo este o jogador mais versátil e polivalente da formação de Spalletti. Noutra toada, destaque ainda para Donnarumma que, apesar de tido pouco trabalho ao longo do jogo, impediu o empate com uma fantástica intervenção aos 90 minutos.

O joker

  • Apesar da longa carreira e da experiência que falam por si, Luciano Spalletti estreou-se este sábado em Campeonatos da Europa e as críticas depressa começaram. A mudança tática para uma formação com quatro defesas foi a principal nuance apresentada pelos mais críticos, mas a verdade é que a aposta acabou por revelar-se certeira. Apesar do pesadelo no início, o 4x3x3 ou 4x2x3x1 da azzurra acabou por encaixar no 4x5x1 bastante fechado de Sylvinho e a Itália dominou completamente a partida.

A sentença

  • Com esta vitória frente ao adversário teoricamente mais frágil do Grupo B, Itália juntou-se a Espanha na liderança e, com isso, está praticamente apurada para os oitavos de final. As duas jornadas que sobram não são fáceis, mas um empate frente aos espanhóis, na quinta-feira, deverá garantir a presença na próxima fase. Em sentido inverso, a Albânia continua com as contas muito difíceis, e está obrigada a pontuar frente à Croácia, na quarta-feira, para sonhar com o terceiro lugar.

A mentira

  • Incontornavelmente, o histórico golo de Nedim Bajrami acabou por ditar e ser importante no desfecho do jogo. Parece um paradoxo, mas a surpreendente vantagem da Albânia levou os italianos a assumirem rapidamente o controlo do jogo e a partirem para cima do rival, e a verdade é que, desde então, só se viu Itália. As águias acabaram por não conseguir contrariar a forte pressão do adversário e somaram a primeira derrota no Europeu.