A Associação Renovar a Mouraria afirmou hoje “não ver desvantagens” na construção da mesquita prevista para este bairro de Lisboa, destacando que os problemas existentes no território não estão relacionados com a religião, mas com o consumo de droga.
A responsável pela associação, Filipa Bolotinha, ouvida esta quarta-feira na Assembleia Municipal de Lisboa sobre a eventual construção de uma nova mesquita, destacou que encontra vários pontos positivos na instalação do equipamento religioso na Mouraria.
Um deles é a criação de um espaço digno, que não acarreta riscos de segurança, que acomoda todas as pessoas que fazem a sua oração, por exemplo, a de sexta-feira e um espaço onde também há lugar para as mulheres poderem sair de casa”, disse, sublinhando que não representa os moradores do bairro, mas tem “a leitura” de uma associação de desenvolvimento local que ali trabalha há 16 anos.
Filipa Bolotinha recordou que já que se fala do projeto há mais de 10 anos, pelo que a construção de uma mesquita não está relacionada com os recentes fluxos de migração, mas é “uma necessidade antiga num território que há várias décadas tem uma comunidade de religião islâmica a viver”, já com segundas gerações.
Atualmente, o culto é feito por devotos muçulmanos em espaços provisórios, pequenos, sem condições para a separação entre homens e mulheres, como previsto nesta religião, pelo que estas ficam em casa.
A mesquita vai trazer estas mulheres para a rua e isso para nós, do ponto de vista do trabalho que desenvolvemos, é um ponto bastante positivo” para o processo de integração destas comunidades na sociedade portuguesa, nomeadamente na aprendizagem da língua portuguesa, afirmou.
Outra vantagem, para a associação, é “melhorar em muito” a organização” do espaço, sobretudo “abrir a Rua do Benformoso” para a Rua da Palma, diminuindo “a estigmatização e a marginalização” da rua, “que tem uma dinâmica própria”, onde “o espaço público é usado de uma forma quase auto-organizada”.
Filipa Bolotinha destacou que o bairro da Mouraria está atualmente a enfrentar grandes desafios, nomeadamente conflitos que se prendem “não com a existência de comunidades imigrantes que têm uma cultura e uma religião diferente […], mas com o consumo de droga”.
Existem conflitos, mas nenhum deles tem por base a religião, mas, repito, o consumo de droga naquele território. Isto é o que neste momento está a criar tensão e pressão nesse território. Requalificar o território, criar uma mesquita, que é uma construção arquitetónica bonita, digna, que abre as duas ruas, só vai regular o uso do espaço público”, considerou.
A Assembleia Municipal de Lisboa está a ouvir entidades e responsáveis locais sobre a eventual construção de uma nova mesquita na Mouraria, nomeadamente acerca dos impactos sociais, urbanísticos e no espaço público, já que os locais de culto existentes atualmente têm deficientes condições.
Em outubro de 2015, a Câmara de Lisboa aprovou, por unanimidade, a construção de uma nova mesquita na Mouraria, entre as ruas da Palma e do Benformoso, projeto orçado em três milhões de euros, para servir a comunidade muçulmana, que já ocupa atualmente um espaço na Mouraria, no Beco de São Marçal, mas com condições muito reduzidas face às suas necessidades.