Mil milhões de dólares que sobraram da luta contra a Covid-19 serão aplicados no Acelerador Africano de Fabricação de Vacinas, num importante passo para a autossuficiência do continente nesta matéria, disse esta quarta-feira o presidente da Aliança de Vacinas.

Durão Barroso falava à Lusa, por telefone, na véspera do lançamento, em Paris, do Acelerador Africano de Fabricação de Vacinas (AVMA), num encontro organizado pelo Estado francês, a Aliança de Vacinas (GAVI) e a União Africana (UA).

O Presidente francês Emmanuel Macron e Durão Barroso estarão presentes, ao lado de líderes de Governos, organizações parceiras, sociedade civil e empresas, num evento focado no lançamento do AVMA, mas também no financiamento da GAVI para apoiar e sustentar a imunização de 2026 a 2030.

“A GAVI é uma organização que tem 25 anos e que já vacinou, ao longo destes 25 anos, mil milhões de crianças, evitando assim mortes por doenças consideradas mortais, se não houver vacinação a tempo”, disse à Lusa o ex-primeiro-ministro português e antigo presidente da Comissão Europeia.

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Para o lançamento do AVMA, a GAVI entra com mil milhões de dólares para “facilitar e apoiar a construção de capacidades de fabrico em África”, referiu.

“Durante a pandemia houve um problema, é que África não tinha, ao contrário de outros continentes, como a Europa, América e Ásia, capacidade de produção de vacinas e queremos assegurar que numa próxima pandemia haverá essa capacidade em África”, referiu Durão Barroso.

E adiantou: “Por isso estamos a lançar este acelerador para a manufatura de vacinas em África, com um mecanismo essencial nosso de mil milhões de dólares [cerca de 930 mil milhões de euros], que irá depois permitir que haja outros doadores e a construção dessas capacidades de acordo com as regras gerais de qualidade que são necessárias para o desenvolvimento de vacinas”.

José Manuel Durão Barroso explicou que este montante “era dinheiro que estava dado pelos doadores para a GAVI durante a covid e que não foi necessário” e que a organização conseguiu convencer os doadores a aplicar esse dinheiro na ajuda a África para “desenvolver as suas próprias capacidades”.

Durão Barroso acredita que aos países africanos onde já existe alguma produção, como a África do Sul, o Senegal, o Egito e o Ruanda, se possam juntar mais cinco a seis.

“O que estamos a fazer é ver com os países os que estão em condições de lançar iniciativas, com financiamento adequado, seja público ou privado”, indicou.

Em relação às doenças contra as quais serão produzidas estas vacinas em África, Durão Barroso referiu que são as patologias infetocontagiosas conhecidas, nomeadamente contra a varíola, o sarampo, a febre-amarela, a cólera, a malária ou o ébola.

“Depende dos países, das suas necessidades e o que estarão em condições de produzir”, sublinhou.

A GAVI é uma parceria público-privada que ajuda a vacinar mais de metade das crianças do mundo contra algumas das doenças mais mortais. Reúne Governos de países em desenvolvimento e doadores, a Organização Mundial de Saúde, a UNICEF, o Banco Mundial, a indústria de vacinas, agências técnicas, a sociedade civil, a Fundação Bill & Melinda Gates e outros parceiros do setor privado.