Chegou à Luz no verão de 2021/22, terminando a temporada com nove golos e quatro assistências, acabou por sair para mais mais voltar no mercado de janeiro de 2022/23 quando levava apenas cinco partidas com uma assistência. Pelo meio, houve uma ligação de empatia que se criou com os adeptos do Benfica. Foi pela pior razão, criou “conexão” pelos melhores motivos: a guerra na Ucrânia e a clara perceção de como tudo isso estava a mexer com o estado de Roman Yaremchuk. Assim, e de forma quase natural, a entrada em campo do avançado no primeiro encontro depois da invasão russa a território ucraniano teve uma substituição muito aplaudida aos 62′, a braçadeira de capitão e as lágrimas perante a receção de um Estádio da Luz rendido.

As lágrimas de Yaremchuk valem por mil palavras (a crónica do Eslováquia-Ucrânia)

“As pessoas não sabem o que o Yaremchuk passou. Teve dificuldades de adaptação inicial porque saiu de uma zona de conforto na Bélgica para um grande clube como o Benfica, e depois houve a guerra no país dele, com os pais dele no meio da guerra. No início da guerra, nas primeiras duas ou três semanas de guerra, ele perdeu seis quilos. Apresentava-se com uma disposição tremenda mas com uma dificuldade real de fazer o que sabe fazer. Depois apareceu a possibilidade de voltar à Bélgica, onde é a zona de conforto, e tanto nós como ele entendemos que era o indicado”, explicou Rui Costa sobre o dianteiro que tinha chegado do Gent e que saiu para a Liga belga mas a caminho do Club Brugge pelos mesmos 18 milhões que custara.

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“Yaremchuk perdeu seis quilos no início da guerra”: Rui Costa explica opções de mercado (e deixa uma “bicada” ao Sporting)

“Foi tudo muito difícil para mim. Foi a guerra na Ucrânia, depois também contraí Covid-19, a adaptação a um novo país e uma nova liga revelaram-se complicados… Foi muito para mim. A experiência no Benfica não foi aquilo que esperava, tive algumas oportunidades mas não aproveitei”, assumiu Yaremchuk.

Já esta temporada, depois de quatro golos em cinco jogos pelo Club Brugge (que representou na Liga e ainda na Champions, tal como tinha acontecido no Benfica), o avançado foi cedido ao Valencia onde voltou a não encontrar a tal felicidade que tanto tem procurado já com 28 anos. Agora, o Campeonato da Europa surgia como hipótese de redenção, mesmo sabendo que tinha à sua frente Dobvyk como referência atacante. Foi na mesma chamado por Rebrov e, na hora da verdade, mostrou aquilo que levou o Benfica a apostar nele: com um grande domínio orientado na área após passe de Shaparenko, enganou Dúbravka e marcou o golo da reviravolta que manteve a Ucrânia viva no sonho de apuramento para os oitavos. Mais uma vez, chorou.

“Tem sido uma época difícil para mim com lesões, mudanças de clube, etc. Mas ainda estou aqui, estou numa boa posição e não estou surpreendido por ter marcado porque trabalho arduamente todos os dias. Deus vê tudo e dá-me oportunidades para marcar. Estou orgulhoso por estar aqui hoje e jogar pelo meu país. Hoje é um dia especial para mim. Nestas competições não podes depender de 11 jogadores, precisas dos 26 que podem entrar em campo e mudar o jogo, que podem fazer algo especial. Todos têm de estar preparados. Depois tens a oportunidade de fazer algo especial”, comentou na zona de entrevistas rápidas em Düsseldorf, após agradecer em lágrimas aos adeptos que marcaram presença no jogo com a Eslováquia.

O golo colocou também Yaremchuk num lugar à parte da história do futebol ucraniano. O avançado passou a ser o quarto melhor marcador de sempre passando curiosamente o atual selecionador, Rebrov (16 golos, atás dos 48 de Shevchenko, dos 46 de Yarmolenko e dos 21 de Konoplyanka), e tornou-se o melhor marcador de sempre do conjunto de Leste em fases finais do Europeu (três), sendo também o primeiro a marcar em duas edições diferentes depois dos dois golos de Shevchenko em 2012 e de Yarmolenko em 2020.