A hora de início foi quase a mesma, o assunto nem por isso. Frederico Varandas fez um balanço dos quatro anos na presidência do Sporting no canal do clube, Rui Costa falou de forma detalhada as operações do Benfica no mercado de transferências no canal do clube. Já tinha explicado em parte essas opções de uma forma mais genérica na apresentação do Relatório e Contas do exercício de 2021/22, que terminou com um prejuízo de 35 milhões de euros, foi agora ao pormenor abordando um a um todas as entradas e saídas neste verão antes de deixar um agradecimento a Lourenço Pereira Coelho, novo homem forte do futebol que regressou à Luz, e a Rui Pedro Braz, diretor desportivo. Pelo meio, deixou uma “bicada” ao rival lisboeta – algo que também acontecia, quase à mesma hora na Sporting TV, pelo homólogo leonino.

“Foi uma premissa minha quando fui eleito: explicar tudo a cada janela de mercado, dar a explicação do que fizemos e porquê. Neste momento, as ações foram muito mais, operações muito maiores e é legitimo que os nossos sócios e adeptos saibam o porquê de cada operação. A estratégia vai ao encontro do plano que traçámos para o clube, que não está concluído mas deu um passo de gigante. Sabíamos que tínhamos de fazer reformulação do plantel mas era difícil que tudo ficasse na perfeição na primeira janela de mercado. Houve poucas entradas para o número de saídas. Queríamos reduzir ativos do clube. Saíram em definitivo da folha salarial do Benfica cerca de 29 atletas mas queríamos dar qualidade ao plantel e isso foi conseguido. Não houve limpezas, nenhum jogador do Benfica é lixo”, começou por referir Rui Costa.

“O primeiro objetivo era trazer qualidade. Dentro desse exercício, houve a possibilidade de reduzir a folha salarial. Este plantel é mais coeso, tem mais qualidade do que o do ano passado. O plantel está muito forte e tem muitos objetivos. Conseguimos reduzir a folha salarial na ordem dos 15 milhões, o correspondente a 21%. Andará depois nos 17% cumprindo outro objetivo, a renovação dos nossos meninos da formação. Queríamos ter um plantel de 27 jogadores, fugiu um pouco à regra porque temos 30 mas com três que estão lesionados. O Lucas Veríssimo esperamos que após a pausa para o Mundial esteja recuperado. João Victor que está a demorar mais tempo, é uma lesão chata de curar. A lesão do Morato surgiu na véspera de terminar o mercado quando Vertonghen já estava de saída”, explicou.

“Roger Schmidt foi o primeiro pilar do projeto. Traçámos o perfil. Definiu-se se seria português ou estrangeiro. O primeiro aspeto era a qualidade, queríamos um jogo atrativo. Desde que tivemos a notícia que poderia não renovar, fizemos primeira abordagem. Na primeira conversa fiquei com a convicção que seria o futuro treinador do Benfica. Se olharmos para o plantel do ano passado e o deste ano conseguimos perceber as mais-valias de futuro. O esforço que fizemos está salvaguardado com o futuro do Benfica e com os ativos que tem. Umas das premissas foi não olhar tanto para os números de forma raciona e apontar a um plantel forte, coeso e que nos dê garantias. Vai ser preciso tempo para estarmos bem desportivamente e financeiramente. Foi uma reestruturação grande mas foi tudo feito com principio, meio e fim”, disse ainda o presidente dos encarnados, antes de se focar mais nas contas e deixar uma “bicada” ao Sporting.

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“No mercado fizemos 128 milhões brutos, mais 33 milhões em suspenso. Está a reter 10% em comissões nestas transferências de saídas, são inevitáveis. Disse na conferência de apresentação dos resultados [do Relatório e Contas de 2021/22] que apontámos muito à parte desportiva. Sabíamos que tínhamos de ter atenção à parte financeira, ao cumprimento de tesouraria que tinha de estar salvaguardado. Ainda não tivemos nenhum perdão bancário, é assim que temos de trabalhar. Fizemos um exercício muito equilibrado, preenchendo no plantel o que havia para preencher”, atirou, visando a nova reestruturação de dívida (que é pública por todas as partes) trabalhada pelo rival com Millennium BCP e com Novo Banco. A seguir, e através de quadros com todos os valores entre compras e vendas, explicou as opções de mercado.

Contratações: “Apostei as fichas todas na contratação do Enzo Fernández”

“As entradas deram-se sobretudo em posições que perderam alguém. O Bah destacou-se e de que maneira na Rep. Checa. Fez uma ótima Liga Conferência e chamou a atenção de muitos clubes. O Ristic veio para reforçar uma posição que precisava de ser reforçada. O Neres veio colmatar saída de Everton. Acaba por ser um negócio muito limpo para o clube: o Shakhtar tinha uma dívida e, como tal, a contratação dele não só elimina isso como ganhámos um ativo de enorme qualidade. Um dos primeiros pedidos de Roger Schmidt foi um central rápido, colocámos quatro possibilidades, escolheu o João Victor. O Musa foi um ponta-de-lança que se destacou e tínhamos necessidade de contratar um avançado que não fosse uma estrela porque apostas claras no plantel: Gonçalo Ramos e o Henrique Araújo. Está tímido, precisa de tempo mas vai dar muitas alegrias. Brooks prende-se com a lesão de Morato. No Draxler, queríamos mais um jogador para o trio da frente e quando surgiu a oportunidade, hesitámos pouco. Precisa de poucos dias para se meter em forma e ser o Draxler que todos conhecemos”, começou por referir sobre as entradas.

“O Fredrik Aursnes foi um dos pedidos de Schmidt, que foi sempre muito equilibrado, não exigiu nada. Este foi um jogador que sempre nos pediu com características para aquela posição. Avaliámos o pedido de Schmidt, vimos a qualidade deste jogador e entendemos que seria mais uma boa aposta. O Enzo Fernández é a aquisição mais cara, se cumprirmos os objetivos. Ninguém tem dúvidas por que insistimos tanto neste jogador, mesmo que fosse em janeiro. Quando o apontámos não foi só para dois meses, apontámos para um futuro no Benfica. Apostei as fichas todas nesta contratação. Hoje é uma mais valia e acredito que os adeptos estejam contentes por ele estar cá”, acrescentou ainda Rui Costa a esse propósito.

Saídas: “Tem pouca discussão esta venda. Era praticamente impossível manter o Darwin”

“Em relação ao Darwin, estamos a falar de uma das transferências mais altas do mercado. Tem pouca discussão conseguir uma venda destas. Olhando para o mercado internacional, está mais que justificado, não havia nem condições para continuar. Era praticamente impossível manter o Darwin, quer pelas propostas, quer pelo que ele ia auferir. O Everton [Cebolinha], quando foi contratado, era titular da seleção do Brasil mas não teve a adaptação esperada. É um excelente jogador mas decidimos que seria melhor a saída dele para a entrada de outro jogador que até foi o David Neres. Decidimos que apostar num stop loss era o mais indicado, para nós e para o próprio jogador”, salientou Rui Costa nas vendas.

“Sobre o Yaremchuk, as pessoas não sabem o que ele passou. Teve dificuldades de adaptação inicial, porque saiu de uma zona de conforto na Bélgica para um grande clube como o Benfica, e depois houve a guerra no país dele, com os pais dele no meio da guerra. No início da guerra, nas primeiras duas ou três semanas de guerra, ele perdeu seis quilos. Apresentava-se com uma disposição tremenda mas com uma dificuldade real de fazer o que sabe fazer. Depois apareceu a possibilidade de voltar à Bélgica, onde é a sua zona de conforto, e tanto nós como ele entendemos que era o indicado”, acrescentou.

Empréstimos: “Com Meité não falhámos o critério mas sim a adaptação do jogador”

“O Seferovic ia perder espaço neste plantel. No ano passado, azarado com lesões, acabou por perder também, o Darwin também estava a emergir… Em relação ao Meité, podemos falhar a contratação do jogador, todos os clubes falham, o que não é permitido aqui é falhar o critério. Não falhámos o critério mas falhámos a adaptação do jogador. Procurávamos um médio robusto, que esteve bem na Itália, mas não conseguimos a sua adaptação. Encontrámos em Itália o sitio certo para reeencontrar-se. Weigl era um titular indiscutível e é o que pode gerar mais confusão. Não chegou uma proposta que considerássemos ser oportuna. O próprio assumiu que estava a perder espaço neste plantel. Manter um jogador que foi o que foi nas últimas épocas não era oportuno, pelo que o regresso ao seu país e podendo lutar por uma vaga para o Mundial… Na Alemanha vai sentir-se bem”, destacou o presidente do Benfica ainda na BTV.

Rescisões: “Vertonghen foi das melhores pessoas que conheci, um senhor”

“O Pizzi em janeiro foi emprestado para a Turquia. Merece-nos o maior respeito. O Pizzi tem um historial diferente que merece respeito. Tem uma postura e é respeitado por todos dentro do clube mas chegou a um patamar em que iria perder espaço no plantel principal. O Taarabt é um jogador que perdeu-se durante parte da carreira. Estava no ultimo ano de contrato. O Taarabt foi muitas vezes titular na última época, mas por via da escolha do treinador, acabou por não se encaixar. Perdeu-se uma parte da carreira mas nunca vi alguém que tivesse uma transformação tão positiva na sua vida. Teve a capacidade de recuperar e mostrar o grande jogador que é”, começou por referir sobre as outras saídas de maior peso.

“O Vertonghen foi das melhores pessoas que conheci no futebol. Um senhor, um exemplo, com muita seriedade no que faz, mas chegou a um patamar que até no Bessa, com Otamendi castigado, jogou o António Silva. Para um jogador com este currículo, com a ambição de ir ao Mundial, não seria solução para ele passar a não ser convocado no Benfica. Quero agradecer ao Vertonghen por tudo mas seguimos caminhos diferentes”, concluiu Rui Costa na análise a todo o mercado de transferências de verão.