De um lado, os Países Baixos sabiam que não existia qualquer hipótese de serem eliminados. Do outro, a Áustria não queria arriscar o campeonato dos melhores terceiros. Em Berlim, no mesmo estádio que daqui a pouco mais de duas semanas irá receber a final do Euro 2024, neerlandeses e austríacos fechavam o Grupo D com um olho em Dortmund, onde a já apurada França defrontava a já eliminada Polónia.

Depois da vitória contra a Polónia e o empate com França, os Países Baixos lutavam essencialmente contra eles próprios: a qualidade das exibições não tem sido brilhante, a ausência de Frenkie de Jong é sentida em todos os momentos e Ronald Koeman não tem um plantel com muitas soluções. Ainda assim, para o selecionador, não existiam desculpas.

A velha laranja travou o galo: Países Baixos e França protagonizam nulo no Europeu… 50 jogos depois

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Sabemos que será um jogo difícil, porque nunca podemos subestimar a Áustria, especialmente a forma como conseguem colocar o adversário sob pressão. Teremos de estar muito concentrado e focados quando tivermos a bola. Vamos ter de lidar bem com isso, com a posse de bola, e saber quando jogar de forma mais direta para escapar a essa pressão”, disse o treinador na antevisão.

Já a Áustria, depois da derrota com França e da vitória com a Polónia, assumia por completo o estatuto de wildcard dos oitavos de final que poderá dar muito trabalho a um eventual adversário. E, apesar dos confessos elogios aos neerlandeses, Ralf Rangnick não escondia que o objetivo para esta terça-feira era sair com a vitória e procurar o surpreendente primeiro lugar do Grupo D.

Os rapazes de Rangnick queriam tanto ganhar que uma águia órfã da sua maior estrela foi presa fácil (a crónica do Polónia-Áustria)

“Eles jogam muito à holandesa, adoram ter a bola, adoram encontrar soluções com bola, ser criativos, ser flexíveis. Por outro lado, será importante para nós jogar o mais perto possível, ganhar bolas no meio-campo deles, ganhar as segundas bolas. Temos de estar a um nível muito alto novamente porque, individualmente, eles estão praticamente no mesmo patamar que França”, explicou o selecionador austríaco.

Neste contexto, Koeman fazia três alterações face ao último jogo, trocando Dumfries, Xavi Simons e Frimpong por Geertruida, Veerman e Malen. Rangnick seguia o exemplo e mudava quatro peças, com Trauner, Mwene, Baumgartner e Laimer a darem o lugar a Wöber, Alexander Prass, Wimmer e Schmid. A Áustria começou melhor, criando o primeiro lance de perigo logo nos instantes iniciais, e a verdade é que nem sequer demorou 10 minutos a abrir o marcador.

Alexander Prass, um extremo a jogar a lateral, desequilibrou na esquerda e cruzou à procura de Arnautovic na área. Malen, em missão defensiva, desviou ao primeiro poste e marcou na própria baliza (6′), assinando o sétimo autogolo do Euro 2024. O mesmo Malen poderia ter empatado antes da meia-hora, ao surgir a rematar ao lado quando estava na cara de Patrick Pentz (24′), mas a verdade é que os Países Baixos demonstravam muitas dificuldades na hora de escapar à pressão alta e eficaz dos austríacos.

Ronald Koeman assumiu isso mesmo pouco depois da meia-hora, quando fez a primeira substituição e devolveu o lugar a Xavi Simons, sacrificando Veerman. Ainda assim, até ao intervalo, foi mesmo a Áustria a ficar mais perto de voltar a marcar, com Sabitzer a obrigar Verbruggen a uma defesa atenta e Arnautovic a falhar o desvio na cara do guarda-redes logo depois (38′). No fim da primeira parte, com o nulo a manter-se em Dortmund entre França e Polónia, a Áustria estava no primeiro lugar do Grupo D.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e os Países Baixos precisaram de pouco mais de um minuto para empatar: Geertruida ganhou a bola e soltou o contra-ataque através de Xavi Simons, que abriu em Gakpo na esquerda e viu o avançado puxar para dentro para rematar cruzado (47′). Os austríacos entraram na segunda parte algo lentos e desconcentrados, permitindo um domínio claro dos neerlandeses, mas agarraram-se à eficácia — e demoraram pouco mais de 10 minutos a recuperar a vantagem.

Jogada pela esquerda, triangulação perfeita a encontrar Grillitsch junto à linha de fundo e cruzamento atrasado a encontrar a cabeça de Romano Schmid, que cabeceou para marcar (59′). Rangnick mexeu nessa altura, lançando Querfeld, Konrad Laimer e Baumgartner, e Koeman respondeu com Wijnaldum e Van de Ven, sendo que foi forçado a retirar Malen por motivos físicos e colocou Weghorst.

E o avançado acabou por ser preponderante para o regresso do empate. Recebeu uma bola nas alturas, ainda que sem conseguir dominar, e empurrou para Depay, que segurou de forma pouco ortodoxa e atirou para bater Patrick Pentz (75′). A igualdade, porém, não durou cinco minutos: do outro lado, Sabitzer combinou com Baumgartner e recebeu na área, rematando cruzado para recuperar a vantagem austríaca e a aproveitar a abordagem errada de Van Dijk, que o deixou em jogo (80′).

Já nada mudou até ao fim e a Áustria venceu mesmo os Países Baixos em Berlim, aproveitando o empate entre França e Polónia em Dortmund para ficar com o primeiro lugar do Grupo D e garantir a presença nos oitavos de final — e o triunfo no jogo mais extraordinário do Euro 2024 até aqui.

O joker

  • Xavi Simons. Apesar de não ter sido titular e de não ter conseguido alcançar sequer o empate para os Países Baixos, o médio do RB Leipzig deixou claro que dificilmente pode sair do onze inicial — e até mais pela falta que fez enquanto não estava do que pelo que fez quando já estava. Entrou pouco depois da meia-hora e quando Ronald Koeman quis corrigir a entrada no jogo, fez a assistência para Gakpo e mostrou que, atualmente, é o elemento mais ofensivamente esclarecido dos neerlandeses.

A pérola

De forma óbvia, Marcel Sabitzer. Depois de uma temporada em que foi dos elementos mais importantes de um Borussia Dortmund que chegou à final da Liga dos Campeões, o médio austríaco realizou mais uma exibição impressionante e esteve no lance dos dois primeiros golos até alcançar o seu, numa movimentação brilhante que garantiu a vitória e o primeiro lugar do Grupo D.

A sentença

  • Com este resultado e o empate entre França e Polónia em Dortmund, a Áustria ficou no primeiro lugar do Grupo D e está diretamente apurada para os oitavos de final do Euro 2024. França ficou no segundo lugar, o que coloca a seleção de Didier Deschamps em rota de colisão com Portugal nos quartos de final, e os Países Baixos qualificam-se através da terceira posição e cruzando desde já com um vencedor de grupo nos oitavos de final.

A mentira

  • Os Países Baixos estão longe de serem candidatos à conquista do Euro 2024. Apesar das fortes individualidades, mais do meio-campo para a frente do que propriamente para trás, a equipa de Ronald Koeman tem debilidades defensivas profundas e uma ausência de critério alarmante. Sobram mesmo os rasgos individuais, com Gakpo e Xavi Simons a evidenciarem-se nesse capítulo.