O antigo chefe militar do Exército general Pinto Ramalho defendeu nesta quarta-feira que as Forças Armadas têm que ser vistas como uma instituição distinta das forças de segurança, pedindo ao poder político coragem para valorizar a condição militar.

Se nós quisermos mudar o paradigma, nós temos que olhar para as Forças Armadas na perspetiva de algo que é uma instituição diferente das forças de segurança. E, portanto, não podemos estar à espera de ver o que é que acontece nas forças de segurança para fazer um mimetismo com as Forças Armadas”, defendeu o general.

Pinto Ramalho falava na comissão parlamentar de Defesa Nacional, a pedido do PS, enquanto presidente da direção do Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI), que reúne vários antigos chefes militares, e foi nesta quarta-feira ouvida pelos deputados.

Na ótica deste antigo chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), entre 2006 e 2011, “ou a política tem a coragem de tratar de forma diferente aquilo que é diferente, e, portanto, ou dignifica e valoriza a condição militar, ou estaremos a voltar a soluções idênticas à espera de resultados diferentes”.

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O general alertou também que as Forças Armadas, em alguns casos, não têm problemas de recrutamento, mas de retenção, nomeadamente nos quadros permanentes.

“Os militares, a sua generosidade, a sua dedicação, a sua disponibilidade por virem para as Forças Armadas, em determinado momento da carreira, quando começam a olhar para o sistema de pensões, para a retribuição, para aquilo que é, enfim, a forma como a condição militar é valorizada e dignificada, começam a pensar duas vezes”, avisou.

Pinto Ramalho salientou que se antes se perdiam “pilotos e médicos” agora saem das Forças Armadas “pilotos, médicos, técnicos de informática, tecnologias de informação, eletrónica, enfermeiros e por aí fora”.

Na opinião do antigo chefe militar, “é preciso fundamentalmente dignificar e valorizar a condição militar” uma vez que “é isso que distingue os militares” de outras profissões como as forças de segurança, guardas prisionais ou enfermeiros, salientado, contudo, a sua importância.

Pinto Ramalho rejeitou responsabilizar mais ou menos PS ou PSD sobre o estado atual da Defesa, após algumas críticas trocadas entre partidos, apontando que “as responsabilidades são de todos” e que há muitos anos que se tem percorrido “um caminho de uma só direção”.

“E, mesmo perante a guerra, que decisões é que se tomaram no sentido de alterar a situação concreta das nossas FA em relação aos efetivos? É aumentar o período de contratos, é baixar a altura [para admissão] dos candidatos, é aumentar 70 euros na condição militar, é a medida estrutural para captar a atração dos cidadãos para vir para as FA?”, interrogou.

Interrogado pelo deputado da Iniciativa Liberal Rodrigo Saraiva sobre se há o risco de os três ramos funcionarem “a velocidades distintas” no que toca a meios e tecnologia, Pinto Ramalho respondeu que essa “é uma preocupação legítima”.

“Temos uma visão pelos meios que equacionamos para a Marinha e Força Aérea de média ou grande potência e estabilizamos no Exército numa visão colonial em que parece que não é preciso um investimento exatamente na mesma dimensão e com a mesma intensidade financeira do ponto de vista tecnológico”, lamentou.

Pinto Ramalho defendeu a necessidade de “ver muito concretamente qual é o investimento que está a ser feito em cada um dos ramos e se realmente se está a criar essa harmonia para que as FA sejam um instrumento conjunto”.

No início da sua intervenção, o militar recordou que “os efetivos em 2009 estavam a ser estabilizados em relação ao sistema de forças” e que a ‘troika’ aplicou, à data da sua presença em Portugal, “uma redução de cerca de três mil militares”, alertando que “quando se fazem as contas a partir de 2015” no que toca a efetivos, é preciso ter este dado em conta.

Pinto Ramalho criticou ainda a Reforma Defesa 2020 que serviu para “reduzir efetivos e não para modernizar coisíssima nenhuma”.