A polícia queniana disparou esta quinta-feira balas de borracha e gás lacrimogéneo contra pequenos grupos de manifestantes que voltaram a protestar em Nairóbi contra as políticas do governo, avançou a agência de notícias France-Presse (AFP).
Polícia queniana usa gás lacrimogénio e detém três pessoas em protesto contra impostos
A polícia, que se encontrava em grande número nas ruas do centro da capital, utilizou gás lacrimogéneo e disparou balas de borracha contra grupos dispersos de dezenas de manifestantes, dois dias depois de se terem registado 22 mortos numa manifestação em Nairóbi, segundo o organismo queniano de proteção dos direitos humanos.
Polícia queniana dispara balas de borracha contra manifestantes
Esta quinta-feira, a polícia queniana bloqueou todas as estradas que levam à sede da Presidência, antecipando novos protestos contra o aumento de impostos.
Os manifestantes tinham prometido marchar para expressar a sua insatisfação com o atual governo do Presidente, William Ruto.
De acordo com a agência de notícias EFE, foram colocadas estacas de bloqueio e sinais de aviso em cinco autoestradas e estradas adjacentes, vigiadas pela polícia de choque, para que os automobilistas sejam desviados para rotas alternativas.
A polícia também montou patrulhas no centro de Nairóbi e nas principais estradas que levam à capital, onde estão localizados o parlamento, os ministérios do governo e muitas empresas.
O destacamento foi feito depois de Ruto ter afirmado, na quarta-feira, que se recusou a assinar o controverso projeto de lei sobre o aumento de impostos que provocou protestos na passada terça-feira, que levaram à invasão do parlamento por manifestantes.
“Eu cederei. Não assinarei a Lei das Finanças 2024. Será completamente retirada”, disse o chefe de Estado numa conferência de imprensa na State House.
O projeto de lei não poderá assim entrar em vigor depois de a Assembleia Nacional (câmara baixa do parlamento), onde a coligação governamental tem a maioria, o ter aprovado na terça-feira com 195 votos a favor e 106 contra.
Na terça-feira, o governo ordenou a mobilização do exército para ajudar a polícia a fazer face à “emergência de segurança” causada pelos protestos.
O que começou nesse dia como um protesto pacífico de milhares de jovens contra o aumento dos impostos na capital do Quénia – e noutras cidades de pelo menos 35 dos 47 condados do país – transformou-se numa batalha campal entre as forças de segurança e os manifestantes.
Com o controverso projeto de lei, o governo pretendia arrecadar 2,53 mil milhões de euros em impostos adicionais para reduzir o défice orçamental e o endividamento do Estado.
No entanto, os manifestantes antigovernamentais argumentam que tais medidas fiscais empurram a população para a pobreza, num país onde os elevados salários dos funcionários públicos e a corrupção política são generalizados.
Para o governo, estas medidas fiscais eram necessárias para restaurar a margem de manobra do país, fortemente endividado, com a dívida pública a representar cerca de 70% do Produto Interno Bruto, e para financiar o seu ambicioso orçamento para 2024-25, com uma despesa recorde de 4.000 mil milhões de xelins (29 mil milhões de euros).
O Quénia, uma das economias de crescimento mais rápido da África Oriental, registou uma inflação homóloga de 5,1% em maio, com os preços dos alimentos e dos combustíveis a aumentarem 6,2% e 7,8%, respetivamente, segundo o Banco Central.
Um terço dos cerca de 51,5 milhões de habitantes do país vive abaixo do limiar de pobreza. O projeto de orçamento está atualmente a ser debatido no parlamento, com vista a uma votação final antes de 30 de junho.