Nem coisas boas, nem coisas más. Em Bruxelas, simplesmente não se pensa no Reino Unido e nas conversações sobre o Brexit. Com duas guerras em curso, uma dentro e outra próxima da Europa e com as instituições europeias em plena reconfiguração após as eleições europeias, nos corredores da União Europeia (UE) a prioridade está longe de ser a manutenção das relações com o país que abandonou o bloco de países em 2016.
Uma fonte sénior próxima da Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, revelou ao The Guardian que “reabrir as conversações sobre o Brexit exigiria muito capital político e absorveria muitos recursos em Bruxelas”. Recursos que neste momento se encontram alocados a outros assuntos considerados prioritários pelos principais quadros europeus, nomeadamente a ascensão da extrema-direita, que se consolidou este domingo com a vitória da União Nacional em França. O partido liderado por Marine Le Pen juntamente com os seus aliados, obteve 33,15% dos votos na primeira volta das eleições, segundos os dados oficiais divulgados pelo Ministério do Interior francês.
Uma segunda fonte sénior revelou ao jornal britânico que “não há apetite pelo Brexit nas capitais europeias” e deu garantias de que a UE não se apressará a reabrir as negociações do Brexit com o Reino Unido, mesmo que na próxima quinta-feira os trabalhistas cheguem ao poder após mais de 14 anos de conservadores no poder. O Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, segue à frente na maioria das sondagens.
Fontes de alto nível na Comissão também indicaram que o Reino Unido teria de fazer uma grande oferta em troca de quaisquer concessões para reforçar as relações com o bloco ocupado. “Se nos pedirem para dar uma prenda ao Reino Unido, a questão será o que receberemos em troca. As pessoas vão perguntar-se se vale a pena o sofrimento”, afirmou um diplomata sénior de Bruxelas.
No último debate antes das eleições, Rishi Sunak foi claro e assegurou que não quer mudar nada nas relações com a UE, enquanto Keir Starmer — que já excluiu a possibilidade de voltar a aderir à união aduaneira ou ao mercado único — pretende um acordo comercial mais robusto com o bloco comunitário.
No entender do ainda primeiro-ministro britânico, há que respeitar a decisão do referendo de 2016 para a saída do Reino Unido da UE e que cabe agora ao governo britânico fazer o “melhor que consegue”. Keir Starmer discorda, reconhecendo que votou para ficar na UE, o trabalhista considera que tem de haver um “acordo comercial melhor” com Bruxelas, uma vez que o atual prejudica os britânicos.
Como destaca o The Guardian, mesmo que uma mudança de governo britânico agrade aos altos quadros europeus, “as profundas cicatrizes” deixadas pelos conservadores durante as negociações do Brexit, juntamente com as novas prioridades causadas pela guerra na Ucrânia e a ascensão da extrema-direita, pesam muito na pouca importância que é atribuída a eventuais negociações entre os 27 e o Reino Unido.
As eleições no Reino Unido decorrem a 4 de julho. São candidatos o atual primeiro-ministro, o conservador Rishi Sunak, e o líder do partido Trabalhista, Keir Starmer. A maioria das sondagens publicadas após o segundo debate, indicam que o Partido Conservador, no poder há 14 anos, está a caminho de uma derrota pesada.