Noventa minutos separavam a confirmação do sonho. A confirmação de um estatuto que vem desde o século passado. O sonho de um país que, por muito que se mantenha neutro à escala mundial, tem sido um autêntico rolo compressor ao longo do Europeu e apresenta-se como a grande sensação da prova. Foi desta forma que Inglaterra e Suíça pisaram este sábado o relvado da Merkul Spiel-Arena, em Düsseldorf.

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Os ingleses chegaram à fase a eliminar deste Campeonato da Europa com muito sofrimento e contestação à mistura e, nos oitavos de final, não conseguiram reverter esse cenário. Depois de uma partida pouco brilhante frente à Eslováquia, Bellingham salvou os três leões no tempo de compensação e, no prolongamento, Kane garantiu o triunfo, confirmando o estatuto de seleção mais forte.

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Por sua vez, os helvéticos fizeram uma primeira fase bem mais acima do esperado, com o empate diante da Alemanha à cabeça, e confirmou o estatuto de surpresa nos oitavos de final. Frente à campeã da Europa Itália, a equipa de Murat Yakin deu um autêntico show de bola e eliminou os italianos. A Suíça chegou assim pela segunda fez ao top 8 da competição e queria continuar a surpreender a Europa com o seu bom futebol.

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Nas equipas iniciais, a grande surpresa acabou por aparecer no conjunto de Southgate, que apostou num esquema tático com três centrais para tentar parar os suíços. Assim, Konsa ganhou a titularidade a Guéhi e Saka apareceu a fazer o corredor direito na sua plenitude. Em sentido inverso, Yakin manteve todas as peças do último jogo. O apito inicial de Daniele Orsato trouxe uma partida muito disputado a meio-campo, com ligeiro ascendente inglês depois de uma boa entrada helvética, mas sem oportunidades claras de golo. As equipas continuaram sem arriscar até ao intervalo — só Saka tentou desequilibrar — e, de forma natural, o nulo seguiu para a segunda etapa.

Na etapa complementar, os três leões voltaram a entrar mais fortes, no entanto, o primeiro remate enquadrado com a baliza pertenceu aos suíços, com Embolo a atirar para uma defesa fácil de Pickford (51′). Pouco depois foi a vez de Embolo aparecer com perigo dentro da área, mas a marcação de Konsa acabou por dificultar a ação do avançado e o lance perdeu-se nas mãos do guarda-redes (56′). Depois das ameaças, os rossocrociati chegaram mesmo ao golo, com Embolo a desviar para dentro um cruzamento de Ndoye (75′).

Southgate mexeu de imediato, colocando a carne toda no assador. E acabou por correr bem. Cinco minutos depois, Saka teve um grande momento de inspiração e, com um excelente pontapé de fora da área, empatou o desafio (80′). A fechar o tempo regulamentar, Ndoye falhou o golo da vitória de cabeça e a partida seguiu para o prolongamento, uma tendência nestes quartos de final.

No tempo extra, a primeira ocasião pertenceu a Rice que, com um remate de longe, obrigou Sommer a aplicar-se (95′). Os ingleses foram dominadores ao longo dos 30 minutos adicionais, mas perderam o controlo na parte final, com Shaqiri a atirar à barra (117′) e Pickford a parar o remate de Amdouni (120′). Nas grandes penalidades, Akanji permitiu a defesa do guarda-redes do Everton e o triunfo decidiu-se nesse instante, já que Palmer, Bellingham, Saka, Toney e Alexander-Arnold não desperdiçaram. Assim, três anos depois de ter perdido a final nos penáltis, Inglaterra voltou a triunfar no desempate desde a marca dos 11 metros.

A pérola

  • Bukayo Saka foi o principal destaque desta partida. E que partida fez o extremo do Arsenal! Apesar de aparecer mais recuado no terreno e destinado a mais tarefas defensivas do que tem sido a norma, o jovem inglês foi o principal desequilibrador do ataque inglês e o mais inconformado ao longo dos 120 minutos. Criou, cruzou, rematou e empatou o jogo com um grande remate de fora da área. Nos penáltis, redimiu-se da falha na final de 2021 e fechou com chave de ouro uma grande exibição.

O joker

  • Num jogo com pouca história e decidido nos penáltis, torna-se complicado escolher mais um elemento de destaque. Arrisquemos com Jordan Pickford. Apesar de ter estado quase duas horas sem trabalho, o guarda-redes inglês negou o golo a Amdouni em cima do minuto 120. Nos penáltis, foi graças a si que Inglaterra triunfou, já que defendeu o remate — fraco — de Akanji.

A sentença

  • Sem brilho, com sofrimento e alguma sorte, a seleção inglesa está de novo nas meias-finais do Campeonato da Europa. É certo que a equipa de Gareth Southgate não tem praticado um futebol vistoso, mas também é certo que a qualidade dos adversários tem aumentado de jogo para jogo e Inglaterra consegue responder com vitórias — ou empates com sabor a vitória. Segue-se Países Baixos ou Turquia, mas o objetivo é claro: fazer o troféu regressar a casa.

A mentira

  • Quem disse que os derradeiros jogos de uma competição são emotivos, enganou-se. Ao terceiro jogo deste Europeu… o terceiro prolongamento. À semelhança dos jogos anteriores, este duelo entre ingleses e suíços foi tático, com as equipas a arriscarem muito pouco… até marcarem. Apesar de ter animado na parte final e no prolongamento, o duelo de Düsseldorf não vai perdurar na mente dos adeptos.