Nesta 25.ª edição, no ano em que se celebram 50 desde a revolução de 25 de Abril de 1974, a marcha voltou a descer a Avenida da Liberdade, artéria emblemática de Lisboa.
Na dianteira da marcha seguia uma tarja em que se lia “25.ª Marcha do Orgulho LGBTI+ [Lésbico, Gay, Bissexual, Trans e Intersex]) de Lisboa 2000-2024” e, ouvida pela Lusa, a organização estimou a presença de “mais de 50 mil pessoas”.
Houve animação, com música, dança e muita cor e brilhos ao longo do desfile, com as bandeiras arco-íris, e as várias variações alusivas a esta comunidade, a repetirem-se. Estas cores compunham camisolas, sacos, chapéus, acessórios e roupa. E as bandeiras, das mais pequenas aos ombros ou nas mãos dos participantes, até uma de vários metros, debaixo da qual seguiam dezenas de pessoas.
Ao longo do percurso, desde a praça Marquês de Pombal até ao Terreiro do Paço, os participantes exibiam cartazes e faixas em que se liam palavras de ordem que aludiam sobretudo a qualquer um poder amar livremente e à luta contra o preconceito e a discriminação.
“Existo, logo resisto”; “a minha relação não é teu fetiche”; “mais amor por favor”; iguais na diferença”; “transmissível é o orgulho”; “a minha mãe ensinou-me a comer um pouco de tudo”; “o teu preconceito mata, a nossa existência resiste”; “o armário tem pó e eu tenho rinite” ou “há cura contra a homofobia: educação”, foram alguns dos cartazes empunhados.
Foram ouvidos também cânticos e palavras de ordem como “deixa passar, eu sou LGBT e o mundo vou mudar”; “bichas unidas jamais serão vencidas”.
Margarida (pronome ela) há três anos que marca presença na Marcha do Orgulho porque “é importante defender os direitos de todas as pessoas, lutar pela igualdade entre todas as pessoas e pelos direitos da comunidade LGBT e das pessoas com deficiência”.
Em declarações à Lusa, a jovem de 22 anos relatou “discriminação na rua, as pessoas não aceitarem os pronomes, serem olhados de lado por se vestirem de forma diferente, com comentários menos bonitos”.
Entre as medidas que gostaria de ver implementadas, Margarida considerou necessário “a educação sexual nas escolas, partilhar informação não só com crianças, mas também trabalhar com idosos, e lutar pela igualdade de género”.
“É uma demonstração do orgulho, de que não temos medo e de que temos orgulho de ser quem somos, que não temos medo dos padrões que a sociedade nos impõe, que estamos cá fora e que existimos”, foi assim que Gonçalo (pronome ele) definiu este evento.
Com a bandeira do progresso às costas, o jovem de 19 anos considerou que a Marcha do Orgulho “é uma celebração do amor, da identidade” e sustentou que é importante este desfile sair à rua porque “ainda há muito ódio na sociedade, muitos crimes, muitas pessoas a sofrer, tanto psicologicamente como fisicamente”.
“Isso tem de acabar, somos todos pessoas, somos todos humanos. Só queremos amor, só queremos ter a nossa própria identidade e não queremos sofrer por conta disso”, pediu o estudante de gestão.
João Brito, 58 anos, pertence ao GAT – Grupo de Ativistas em Tratamentos, organização que aproveitou a marcha para divulgar uma campanha lançada através das redes sociais, que visa difundir a informação de que as pessoas que vivem com VIH, “quando tratadas eficazmente, não transmitem a infeção”.
“É importante sair à rua porque os direitos estão conquistados mas é preciso mantê-los. Com o aumento dos movimentos de extrema-direita, esses direitos estão ameaçados e é bom que todas as pessoas se mobilizem, independentemente de serem LGBTI+ ou não, se juntem para defender as causas uns dos outros, porque todos juntos será muito mais fácil”, salientou.
A marcha, organizada por cerca de 25 associações, incluiu também ativistas por outras causas, contra o racismo ou pela Palestina.
BE e PAN alertam que ascensão da extrema-direita põe em risco direitos das pessoas LBGTI+
A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, e a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, consideraram hoje que a ascensão da extrema-direita pode pôr em risco os direitos das pessoas LGBTI+.
As duas líderes partidárias marcaram hoje presença na 25.ª Marcha do Orgulho LGBTI+, que juntou milhares de pessoas em Lisboa.
“Estas marchas celebram muito o que foi possível fazer até aqui, celebram os direitos que conquistámos, a liberdade que conquistámos, mas fazem-nos lembrar que essa conquista não é garantida e há sempre quem queira ameaçá-la. E é por isso que hoje, quando cresce a extrema-direita, é tão importante que milhares de pessoas saiam à rua para dizer nós somos a maioria, nós temos a maioria das pessoas que querem um país livre, um país tolerante, um país que acolhe, um país de todas as cores, onde somos todos diferentes, e é daí que vem a nossa riqueza”, afirmou a coordenadora do BE.
A bloquista defendeu que “as marchas do orgulho têm-se transformado ao longo dos últimos anos nas mais belas manifestações pela liberdade”, em que “a rua enche-se de milhares de pessoas que querem estar na rua para afirmar isso mesmo, a liberdade de amar, de poderem viver como são”.
Mariana Mortágua assinalou que este evento é também antirracista e pela igualdade, constituindo “um dos maiores símbolos de esperança” e uma “enorme demonstração de determinação e de esperança” contra “as sombras da extrema-direita que vão crescendo um pouco por todo o lado”.
A Marcha do Orgulho “representa um país que acolhe, que celebra a igualdade, que celebra a diversidade e o respeito por cada pessoa de viver como quer, como escolhe e como é”, referiu a líder do Bloco de Esquerda.
“É em nome dessa alegria e dessa liberdade que estamos aqui e é por isso que estas marchas são sempre tão bonitas e tão emocionantes. E é por isso que hoje, nos 50 anos do 25 de Abril, nos 25 anos da marcha, mais do que outra coisa, esta marcha é uma manifestação pela liberdade, mas é um ato de esperança”, defendeu Mariana Mortágua.
A porta-voz do PAN afirmou que nos 50 anos do 25 de Abril “pintar a Avenida da Liberdade das cores do arco-íris é de facto muito importante”.
“Nós não nos podemos esquecer que, apesar dos valores fundamentais que nos levaram ao 25 de Abril, há muitos direitos, liberdades e garantias que estão por cumprir”, salientou Inês de Sousa Real, referindo que “no caso das pessoas LGBTIQA+, há muita forma de discriminação”.
A deputada única do partido Pessoas-Animais-Natureza defendeu também que é necessário garantir que, “face à ascensão da extrema-direita, não existe o risco de ver retroceder os direitos, quer em relação ao casamento homossexual, quer em relação à adoção, ou até mesmo naquilo que possam ser fatores de acesso a tratamentos médicos, em particular das pessoas trans”.
Inês de Sousa Real considerou que esta iniciativa que juntou milhares de pessoas e arrancou da Praça Marquês de Pombal em direção ao Terreiro do Paço, “é, de facto, muito especial e demonstra que a sociedade civil está viva, está desperta para os direitos das pessoas LGBTI e que, claramente, hoje a liberdade também se pinta de arco-íris”.
“Precisamos de garantir uma sociedade plural, uma sociedade que respeite os direitos de todas as pessoas e em que seja possível amar quem se quiser, ser aquilo que se quiser ser, porque não nos podemos esquecer que o direito de identidade de género não é um mero conceito como procuram fazer crer as forças políticas que são anti direitos humanos, é sim uma liberdade fundamental, um direito fundamental que seria impensável negar nos 50 anos de 25 de Abril”, salientou.