Os críticos da liderança de Jordan Bardella na União Nacional pedem um “exame de consciência” após o mau resultado na segunda volta das eleições em França. Entre aqueles que dão a cara e outros que falam com a imprensa sob anonimato, há várias figuras do partido que criticam Bardella por ter, na sua opinião, desaparecido quase por completo da campanha eleitoral, preferindo passar os dias entre a primeira volta e a segunda volta junto de Marine Le Pen, a preparar um eventual governo liderado pelo jovem presidente da União Nacional.
“É como Napoleão, que foi dormir a Moscovo sem cuidar das suas bases, à retaguarda”, compara um dos críticos (anónimos) de Bardella, citado pelo francês Le Monde. Se este membro do partido preferiu não ser identificado, houve outros que aceitaram falar publicamente sobre o “exame de consciência” que dizem ser necessário na União Nacional – é, por exemplo, o caso de Bruno Bilde, deputado eleito pelo círculo de Pas-de-Calais, no norte de França.
“Não podemos continuar assim”, afirmou o deputado, criticando em particular as escolhas de Bardella para as listas de deputados. “Tivemos perfis extremamente divisivos, em alguns casos escolhas preocupantes”, considerou Bruno Bilde, referindo-se às listas compiladas por Gilles Pennelle, o homem encarregado por Jordan Bardella para selecionar as listas de deputados para a eventualidade de haver eleições antecipadas.
Pennelle, que era diretor-geral do partido, demitiu-se na noite de segunda-feira, depois de ter escolhido candidatos que revelaram publicamente terem posições racistas, homofóbicas e anti-semitas. A União Nacional garante que a demissão já estava planeada, independentemente do resultado das eleições, já que o agora ex-diretor-geral tinha sido eleito para eurodeputado nas recentes eleições europeias e, por isso, as duas funções nunca seriam conciliáveis.
Além de Bruno Bilde, Bardella também foi criticado (abertamente) por Louis Aliot, que é vice-presidente do partido depois de, em 2022, ter perdido para o atual presidente na disputa pela liderança da União Nacional, em 2022. Aliot, que é presidente da câmara de Perpignan, pediu na segunda-feira que o partido supere o estado de negação coletiva em que se encontra. À RTL, o responsável foi rotundo nas suas críticas: “A vitória é possível, eu consegui uma vitória em Perpignan, mas é necessário esforço – e não devemos fugir a um exame de consciência“.
O presidente do partido, Jordan Bardella, está, segundo a imprensa francesa, a sofrer o primeiro grande revés da sua curta carreira política. Após ter ficado em terceiro lugar na segunda volta das eleições, no domingo, Bardella admitiu a sua “quota-parte de responsabilidade”. “Todos cometemos erros, eu também os cometi”, afirmou o candidato a primeiro-ministro, recuperando a memória da recente vitória nas europeias como prova do seu mérito.
Marine Le Pen, através de uma publicação no X (antigo Twitter), veio dar a sua bênção ao jovem Bardella, considerando “incríveis” os progressos que o partido fez nos últimos dois anos. Para Le Pen, esses “progressos” tornam “inevitável” que a União Nacional irá ter uma vitória “no curto prazo”, numa presumível referência a novas eleições antecipadas no país. Ainda assim, Le Pen pediu que se avalie a campanha que foi feita e que se reflita sobre “aquilo que, sem dúvida, pode ser melhorado no futuro“.
Tous mes remerciements aux dix millions d’électeurs qui ont fait du RN, le premier parti en nombre de voix et en nombre de députés !
La progression en deux ans est incroyable et rend notre victoire à court terme inévitable. Elle va nous inviter à faire aussi le bilan de ce qui…
— Marine Le Pen (@MLP_officiel) July 8, 2024