A secretária executiva da ONU Comércio e Desenvolvimento (antiga UNCTAD) defendeu esta quarta-feira que a competição entre as principais potências por influência em África é positiva, desde que seja saudável, salientando que aquele continente precisa de apoio.
“A competição saudável é boa, mas precisamos de apoiar África com melhores negociações e com mais transparência e contratos melhores sobre os recursos naturais”, disse Rebeca Grynspan em entrevista à agência Lusa a partir de Genebra.
“Precisamos de melhores negociações. Se não aprendermos com os erros do passado, teremos mais países dependentes de matérias-primas, em vez de países que conseguem adicionar valor à exploração de recursos naturais e criar empregos decentes para os jovens”, respondeu Grynspan, quando questionada sobre se o interesse de grandes blocos económicos, como os Estados Unidos, a China, a Rússia ou o Médio Oriente, em África, é benéfico ou não para o continente.
África “tem esta oportunidade, que é a competição, e isso pode dar-lhes mais valor pelo que têm, mas precisamos de mais transparência e contratos melhores para explorar os recursos naturais de África, e ao mesmo tempo precisamos de políticas públicas que garantam adição de valor, para evitarem a armadilha da dependência das matérias-primas”, disse Rebeca Grynspan.
O continente africano tem das mais vastas reservas de recursos naturais cruciais por exemplo para a transição energética, como os componentes para as baterias dos veículos elétricos.
Na entrevista, Rebeca Grynspan salientou que África está perante “uma grande oportunidade” e elencou três razões para o seu otimismo: “o acordo de livre comércio comercial, que pode acrescentar muita força à participação africana no comércio mundial, as grandes reservas de minerais que África tem para a transição energética, e a juventude da população continental, que faz com que, no futuro, a maior parte dos jovens esteja em África”.
Estas, concluiu, “são três razões para acreditar no crescimento sustentado e na melhoria da qualidade de vida das suas populações”.
No que diz respeito à reorganização das instituições multilaterais de financiamento, Grynspan exemplificou que a ONU Comércio e Desenvolvimento, antes conhecida como UNCTAD, vai passar a ter “um coordenador residente nos países, para organizar a reação do sistema da ONU de forma mais organizada, respondendo melhor às prioridades do país”.
“As agências especializadas da ONU podem ser muito mais importantes neste momento da história, em que os países precisam de conhecimentos específicos para apoiar a transição, e como não emprestamos dinheiro nem vendemos nada, somos uma entidade neutra, talvez possamos ser um parceiro confiável e neutro relativamente aos objetivos que os países querem prosseguir”, referiu.