O LU.CA – Teatro Luís de Camões já levantou o véu da programação da temporada 2024/25. Até dezembro, o teatro na Calçada da Ajuda, em Lisboa, com programação vocacionada para o público mais jovem, vai estrear espetáculos de Joana Estrela, Nicolau e Raquel Castro, com novos olhares sobre histórias clássicas, além de um ciclo dedicado a Alexandre O’Neill no ano do centenário do nascimento do poeta, escritor e publicitário.
“Num tempo em que escrevemos mensagens tão rápidas e demoramos tão pouco tempo nos textos, nas palavras, achámos que era muito bom pegar num autor português e trazê-lo para o tempo de hoje e mostrar como era uma pessoa tão contemporânea”, justifica Susana Menezes, diretora artística do LU.CA, ao Observador.
Autor de “obra vasta e diversa, que se cruza connosco todos os dias sem que tenhamos noção disso”, “é dado no secundário muito en passant. Há muitas pessoas a conhecer mal a obra de Alexandre O’Neill. Vamos lembrar para não esquecer”, afirma a responsável. O ciclo arranca em novembro e inclui uma exposição, uma oficina e uma playlist, além da peça Um Poeta em Forma de Assim: visita guiada à cabeça de Alexandre O’Neill, de Malu Vilas Boas e Luís Leal Miranda, em cena de 8 a 24 de novembro, com sessões para escolas e famílias.
Outro dos destaques da programação revelada esta quarta-feira é o espetáculo TPC: Frei Luís de Sousaaa. Trata-se de uma encomenda do LU.CA à encenadora Raquel Castro sobre o texto dramático de Almeida Garrett estreado em 1843. “Fechados num quarto, um grupo de adolescentes junta-se para fazer um trabalho de casa sobre a peça, discutindo sobre o que os afasta e aproxima daquelas palavras escritas há mais de 180 anos”, lê-se na nota sobre o espetáculo, em cena de 10 a 27 de outubro.
A ideia é “sair do espetáculo a conhecer a obra”, mas também questionar se “devemos ou não estudar a obra de Almeida Garret nos tempos de hoje”. Com várias sessões para escolas, “os professores podem ficar descansados porque vão sair daqui a saber a obra”, assegura a diretora artística do LU.CA, lembrando que “o teatro pode ser uma boa ferramenta para uma possível compreensão, mas também é mais do que isso”.
Já em setembro (de 13 a 24), os ilustradores Joana Estrela e Nicolau estreiam-se numa criação que tem como ponto de partida a clássica história de Esopo sobre um rato do campo e um rato da cidade. Dois Ratos é uma peça “com desenhos, música e algumas minhocas”, antecipa a sinopse.
Ainda no primeiro mês da temporada, o LU.CA inicia uma nova série de leituras intitulada Não é ficção, a partir da leitura de livros “sobre temas e questões que importam abordar”. A primeira sessão parte do livro Deputados do Futuro, Olá!, de Isabel Minhós Martins e Carolina Celas, e vai contar com interpretação do ator Romeu Costa e música de Noiserv.
No final do outubro, o teatro municipal volta a transformar-se numa pista de dança com Baile Fantástico, recuperando a tradição de bailes nos teatros. É na noite do dia das bruxas que pais e crianças podem dançar embalados pela seleção musical da apresentadora e radialista Inês Lopes Gonçalves.
O LU.CA — Teatro Luís de Camõe, aberto desde 2018, é o único teatro municipal do país com uma programação dedicada ao público infanto juvenil. Susana Menezes sublinha que “o desafio é ser o único e manter uma programação contínua, relevante e de qualidade para estes públicos”. “Agora, como é que no futuro, para um teatro destas características, vamos conseguir crescer? Para onde vamos?”, questiona.
“Há uma enorme confiança do executivo que gere este equipamento, a EGEAC. Não há interferência, o que nos dá muito espaço para continuar este trabalho. Há um orçamento que é ajustado e isso dá-nos um contexto favorável”, nota. “É preciso não ter medo de arriscar e continuar com esse risco”, diz sobre a falta de projetos semelhantes noutros pontos do país, não escondendo que “seria bom se [o LU.CA] pudesse ser replicado a nível nacional”. Mais teatros dedicados ao público jovem, afirma, permitiriam “criar uma rede”.
Para o próximo ano, a diretora deste teatro antecipa ao Observador o desejo de aumentar a carreira dos espetáculos. “Há público, faz sentido”, diz, notando que muitas são as apresentações que se esgotam antes mesmo da estreia. Por isso mesmo, em 2026, o LU.CA vai dedicar o ano a “reposições em larga escala”, com espetáculos já estreados ou co-produzidos pelo LU.CA, com mais récitas do que é habitual. “Vamos voltar a lugares que reconhecemos que foram de clara competência e eficácia para crianças e jovens. Não se pode desperdiçar.”