As alegações iniciais da defesa e da acusação no julgamento do ator norte-americano Alec Baldwin, em tribunal pela morte da diretora de fotografia Halyna Hutchins, começaram a ser ouvidas esta quarta-feira, 10 de julho, no Primeiro Tribunal Judicial Distrital do Novo México, EUA. Em causa está o disparo fatal durante a rodagem do filme Rust, em outubro de 2021.

Acompanhado pela mulher, Hilaria Baldwin, o ator entrou na sala de audiências, onde ficou sentado juntos dos seus dois advogados principais, Luke Nikas e Alex Spiro, que começaram a sessão por dizer que o que aconteceu a Halyna Hutchins foi uma “tragédia indescritível” mas que “Alec Baldwin não cometeu nenhum crime”, citou a BBC.

Alec Baldwin e a morte na rodagem de “Rust”: o que está em causa no julgamento e o que pode acontecer ao ator americano?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em defesa de Baldwin, Spiro afirmou que as regras sobre a segurança das armas não se aplicam numa cenário de cinema, uma vez que “já todos viram lutas com armas em filmes” e que havia pessoas que tinham a função de garantir a segurança do set do filme e, em consequência, da arma. Foram essas pessoas quem não cumpriu com as obrigações, disse: “Não é suposto haver balas verdadeiras em cenários de filmes”, disse o advogado.

“Ele estava apenas a representar, como tem feito há gerações, e foi o aparelho de segurança que falhou a todos”, continuou, afirmando ainda que a arma foi verificada duas vezes e que as pessoas nos cenários dos filmes apontam-nas umas às outras para obter “um efeito teatral”.

“O Alec tirou a arma aos responsáveis pela sua segurança. Não a adulterou. Não a carregou ele próprio. Não a deixou sem vigilância”, disse Spiro. “Era um ator a manusear um adereço… e a arma disparou”.

Por parte da acusação, os procuradores argumentaram que o ator se comportou de forma imprudente e que “violou as regras fundamentais de segurança das armas de fogo” durante as filmagens de Rust.

“As provas mostrarão que, como em muitos locais de trabalho, há pessoas que agem de forma imprudente e colocam outros indivíduos em perigo, e agem sem a devida consideração pela segurança dos outros”, disse a procuradora Erlinda Ocampo Johnson, citada pela ABC, aos jurados durante a sua declaração de abertura.

Ao manusear a arma de fogo antes do tiroteio, Baldwin “fazia o que lhe apetecia”, incluindo ter o dedo no gatilho ou à volta dele durante dois disparos, continuou.

“As provas mostrarão que, nessa terceira e fatal vez, ele tira a arma mais uma vez, rapidamente”, disse Johnson. “Ele engatilha o cão, aponta diretamente para Hutchins e dispara a arma, enviando a bala viva diretamente para o seu corpo.”

“Acidente trágico.” Tiro de Alec Baldwin com arma de adereço mata diretora de fotografia e fere realizador

De acordo com Spiro, quando a arma foi entregue a Baldwin, foi anunciado “arma fria”, indicando que era segura. Quando disparou, todas as pessoas presentes no cenário ficara “chocadas”: “Alec ficou assustado. Disse imediatamente: ‘Não era minha intenção disparar. Não puxei o gatilho'”.

O advogado continuou a defender que o ator não premiu o gatilho, mas que num cenário de cinema “é permitido premir o gatilho”. Mesmo que o Estado norte-americano conseguisse provar que Baldwin premiu intencionalmente o gatilho, “isso não o torna culpado de homicídio”, acrescentou.

“Ele não sabia, nem tinha qualquer razão para saber, que a arma estava carregada com uma bala viva”, disse Spiro. “Essa é a chave. Essa bala viva é a chave. Esse é o elemento letal.”

Alec Baldwin. Arma não podia ter disparado “sem que o gatilho tivesse sido premido”, conclui FBI

O julgamento de Alec Baldwin teve início esta terça-feira depois de ter sido selecionado um júri de 11 mulheres e cinco homens de entre um conjunto de 70 pessoas. Apenas três dos 70 potenciais jurados disseram que não tinham visto ou ouvido nada sobre o caso, mas todos os selecionados garantiram que não tinham formado uma opinião sobre o incidente e que sentiam que podiam ser justos.

“O nosso trabalho — o dos advogados de ambas as partes — é garantir que o júri seja justo e imparcial”, afirmou a procuradora Kari Morrissey na terça-feira. “Queremos ter jurados que possam ser justos para o Estado. Também queremos ter jurados que sejam justos para com Baldwin”.

Além das alegações iniciais, o julgamento começou a ouvir algumas testemunhas, nomeadamente dois polícias, e mostrou imagens do local no crime. Um deles foi questionado sobre a forma como as pessoas se aproximaram de Baldwin logo após os disparos e o cumprimentavam para perceber como se encontrava, sugerindo que seria incomum que as pessoas o fizessem caso o crime tivesse sido intencional. O agente Nicholas Lefleur acaba por confirmar que nunca viu aquela atitude num cenário daquele género. Timoteo Benavidez, o outro polícia ouvido, recorda a chamada para um “tiroteio acidental” e diz que se trata da maior cena de crime onde já esteve.

O interrogatório foi interrompido após os dois polícias serem ouvidos.