O Prémio Gulbenkian para a Humanidade, no valor de um milhão de euros, foi esta quinta-feira atribuído a três pioneiros da agricultura sustentável e distribuído em partes iguais por pessoas e instituições da Índia, Egito e Estados Unidos.

Com o júri a salientar a importância de uma alimentação de qualidade num contexto de aquecimento global e fenómenos climáticos extremos que afetam a segurança alimentar mundial, o prémio destaca como importante a diversidade de soluções no âmbito de uma agricultura sustentável, distinguindo contributos para a segurança alimentar, resiliência climática e proteção de ecossistemas.

Irão receber o prémio, o programa “Andhra Pradesh Community Managed Natural Farming” da Índia, o professor Rattan Lal, natural da Índia mas que vive nos Estados Unidos, e a organização SEKEM, do Egito.

A agricultura sustentável caracteriza-se por usar processos naturais na produção, respeitando a natureza e os solos e as práticas antigas, não usando por exemplo produtos químicos como pesticidas ou fertilizantes.

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Quando não são usados produtos químicos que prejudicam a saúde humana e o meio ambiente diz-se que essa agricultura sustentável é biológica, ou orgânica. A agricultura biodinâmica é semelhante e todas se caracterizam pelo uso de meios amigos da natureza.

O júri do Prémio Gulbenkian para a Humanidade, presidido pela antiga chanceler alemã Angela Merkel, selecionou os três nomeados, diz a Gulbenkian, “como reconhecimento da complementaridade do seu trabalho e a necessidade tanto de investigação científica como de aplicações práticas para a agricultura sustentável”.

“Andhra Pradesh Community Managed Natural Farming” (APCNF) é um programa que apoia pequenos agricultores, especialmente mulheres, na transição para uma agricultura natural, lançado em 2016 pelo governo do estado indiano de Andhra Pradesh, na costa sudeste da Índia.

O APCNF é considerado o maior programa de agroecologia do mundo, envolvendo mais de um milhão de pequenos agricultores e 500.000 hectares. Permite aos agricultores mais produtividade e mais rendimentos, gera benefícios ambientais e sociais e sequestra mais carbono no solo, revertendo a degradação e a erosão e ao mesmo tempo reduzindo a temperatura e aumentando a biodiversidade.

Nos próximos 10 anos o programa pretende chegar a oito milhões de agregados familiares de agricultores que vivem em Andhra Pradesh. O modelo já está a ser incubado em 12 estados da Índia e será introduzido, ainda este ano, em cinco outros países.

Rattan Lal é um cientista natural da Índia, professor de Ciência do Solos na Universidade de Ohio, nos Estados Unidos. É pioneiro na abordagem à agricultura centrada no solo, que harmoniza a produção alimentar com a preservação ecológica e a mitigação das alterações climáticas.

Os seus métodos têm demonstrado, a nível global, a interligação entre a saúde dos solos e o bem-estar ambiental e humano, bem como a importância de promover a segurança alimentar em paralelo com a conservação dos recursos naturais, contribuindo para desenvolver o conhecimento na área da agricultura sustentável e da resiliência climática.

A organização egípcia SEKEM é uma plataforma de organizações não-governamentais que promovem abordagens abrangentes no combate às alterações climáticas e que foi criada há quase 50 anos numa região desértica do Egito e focada na agricultura biodinâmica, regenerando o solo árido com o envolvimento da comunidade local.

A principal iniciativa da SEKEM é a Associação Biodinâmica Egípcia (EBDA), a maior associação de agricultores independentes do Egito, que dá apoio na transição de modelos agrícolas convencionais para modelos regenerativos, o que promove o desenvolvimento rural. A EBDA já apoiou mais de 5.000 agricultores e converteu mais de 12.000 hectares.

O júri avaliou 181 candidaturas de 117 nacionalidades, o maior número de sempre. O prémio de 2024, segundo a Fundação Gulbenkian, evidencia como os desafios climáticos são interdependentes e conduzem a crises sistémicas interligadas.

As alterações climáticas estão a agravar a perda de biodiversidade, a aumentar os fenómenos climáticos extremos e a levar à degradação dos recursos, perturbando os sistemas alimentares e a saúde humana. A agricultura contribui para as alterações climáticas através das emissões de carbono, da degradação dos solos e dos recursos hídricos, e da perda de biodiversidade.

Angela Merkel salienta que as alterações climáticas põem em perigo a segurança alimentar mundial, um desafio para os agricultores, e os vencedores, diz, mostram como “os sistemas alimentares sustentáveis podem contribuir para a resiliência climática.”

O Prémio Gulbenkian para a Humanidade é uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e distingue indivíduos e organizações que contribuem para enfrentar o maior desafio atual da humanidade: as alterações climáticas e destruição da natureza.