“Os tempos não estão nada animadores, não é?”, começa por reconhecer Carlos Seixas, diretor artístico e de produção do Festival Músicas do Mundo (FMM), que se realiza de 20 a 22 na aldeia de Porto Covo e de 23 a 27 na cidade de Sines.

A Europa — diz o diretor, em declarações telefónicas à Lusa — está “cada vez mais fechada”, o que faz aumentar as dificuldades em movimentar os artistas.

Carlos Seixas não se refere apenas a “barreiras físicas”, mas “políticas, a mentalidade também, a guerra e depois aqueles problemas que são quase ‘usuais’, a xenofobia, o racismo”.

A este respeito, o diretor destaca, no programa de atividades paralelas, a conversa “A Cultura e a Arte depois do Colonialismo”, com Flávio Almada, Vítor Belanciano e Nael D’Almeida, moderada por António Brito Guterres (dia 23, em Sines).

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O FMM propõe, nesta 24.ª edição, “sobretudo celebrar Abril”, nomeadamente “a influência dos países de expressão portuguesa, das antigas colónias”, resume Carlos Seixas.

Para isso, “há todo um programa ligado aos países de língua portuguesa”, dos “clássicos” às “novas gerações”.

A música nacional será representada por Duarte, Salvador Sobral, Três Tristes Tigres, Cara de Espelho, JP Simões (a cantar José Mário Branco), Prétu (um projeto do rapper Xullaji) e José Manuel David (que se estreia na versão a solo, depois de ter estado no festival com os Gaiteiros de Lisboa).

Ainda em língua portuguesa, Carlos Seixas destaca a atuação da Orquestra Locomotiva (dia 23), com o moçambicano Joni Schwalbach e o cabo-verdiano Vasco Martins, e assinala a estreia de artistas de Cabo Verde (Ferro Gaita), Guiné-Bissau (Fattú Djakité) e Moçambique (Moticoma), a que se junta a cabo-verdiana Mayra Andrade, repetente no FMM, onde esteve no início da carreira, em 2006.

“Cinquenta anos depois sabemos que a luta de libertação foi muito importante naquilo que é o 25 de Abril. Temos de lembrar, temos sempre de lembrar”, repete Carlos Seixas.

O FMM dá também “voz à Palestina, aos povos da zona do Levante, que são bastante importantes, à África subsariana, a continuar a história dos ritmos globais”, elenca.

“A nossa luta é para que não haja limite da diversidade e [pela] aceitação do diferente”, realça, vincando: “Aquilo que nós queremos é continuar a dar voz aos artistas de outras de outras geografias, aceitá-los, venham de onde vierem, não os esquecer.”

O festival vai também mostrar “a conexão com o Brasil” e a América do Sul, “que estão sempre presentes e são muito importantes naquilo a que chamamos as músicas do mundo”.

O contingente do Brasil tem como porta-estandarte a atual ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes (que atua no dia 23), e inclui também a acordeonista Lívia Mattos, a cantora e compositora carioca Ana Frango Elétrico e MOMO, nome artístico de Marcelo Frota, a viver atualmente em Londres, representante da diáspora brasileira na Europa.

No FMM haverá ainda lugar para “encontros intercontinentais”, “músicas mais atuais” e identidades “híbridas”, já que, “ao fim ao cabo, onde há tradição, ela está sempre em movimento e adapta-se ao contexto das sociedades atuais”, observa Carlos Seixas.