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O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou esta sexta-feira que a agência vai enviar para a Faixa de Gaza um milhão de vacinas contra a poliomielite, após este vírus ter sido detetado no enclave.

“O vírus da poliomielite foi detetado na semana passada em amostras de água em Gaza, um desenvolvimento alarmante, mas não surpreendente, dado o estado de desmantelamento do sistema de saúde no território após nove meses de guerra implacável”, afirmou Ghebreyesus num artigo de opinião publicado no diário britânico The Guardian.

A deteção do vírus ocorreu em plena ofensiva lançada pelo exército israelita na sequência dos ataques de 7 de outubro de 2023 do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) e de outras fações palestinianas.

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Ghebreyesus lembrou que “a maioria dos hospitais não consegue funcionar” e disse que se registou um aumento de “doenças diarreicas, infeções respiratórias e hepatite A, entre outras”, enquanto “quase todos em Gaza enfrentam uma grave insegurança alimentar e uma fome catastrófica”.

“Milhares de crianças estão subnutridas, o que as torna ainda mais suscetíveis a doenças”, disse Ghebreyesus, referindo que cerca de 2,3 milhões de pessoas vivem nos 365 quilómetros quadrados da Faixa de Gaza, “cada vez mais concentradas face ao acesso limitado a água potável limpa e segura e à deterioração das condições sanitárias”.

O diretor-geral da OMS referiu ainda que, desde o início de maio, “cerca de um milhão de pessoas foram deslocadas de Rafah para Khan Younis e Deir al-Bala’a, onde foram encontradas amostras de poliomielite”.

“Embora ainda não tenham sido notificados casos de poliomielite, sem uma ação imediata, é uma questão de tempo até que esta atinja milhares de crianças que ficaram desprotegidas“, frisou.

“As crianças com menos de cinco anos estão em risco, especialmente as crianças com menos de dois anos, uma vez que muitas não foram vacinadas durante os nove meses de conflito”, explicou, defendendo que as vacinas a enviar pela OMS “serão administradas nas próximas semanas para evitar que as crianças sejam atingidas pela doença”.

No entanto, reiterou que “sem um cessar-fogo imediato e uma grande aceleração da entrega de ajuda, incluindo uma campanha de vacinação centrada nas crianças, as pessoas continuarão a morrer de doenças evitáveis e ferimentos tratáveis“.

“As condições em Gaza constituem o terreno perfeito para a propagação de doenças”, afirmou.

Por sua vez, o comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), Philippe Lazzarini, sublinhou que a descoberta destas amostras “é mais um acontecimento grave numa viagem interminável de miséria”.

“A poliomielite surge devido a um sistema de saúde falido, à falta de água potável e de materiais de higiene, a abrigos sobrelotados e a um saneamento muito deficiente“, argumentou, referindo que, com a guerra, a vacinação infantil caiu de níveis quase universais para pouco mais de 85%, porque as pessoas têm estado constantemente em movimento, fugindo de zonas de combate e procurando segurança.

“A propagação da poliomielite em Gaza e noutros locais pode ser controlada através de campanhas de vacinação que cheguem a todas as crianças, onde quer que se encontrem”, explicou na rede social X. “O cessar-fogo e o aumento do fluxo de vacinas permitiriam que isso acontecesse”, adiantou Lazzarini.

A 18 deste mês, o Ministério da Saúde de Gaza anunciou a descoberta de poliomielite em amostras recolhidas nas águas residuais do enclave, referindo que a água “corre entre as tendas dos deslocados e nos locais onde os sobreviventes estão alojados devido à destruição das infraestruturas” pelos ataques de Israel.

Segundo a OMS, a poliomielite, uma doença altamente contagiosa que afeta sobretudo as crianças, é transmitida principalmente por via fecal-oral. O vírus é endémico apenas no Afeganistão e no Paquistão, depois de a Nigéria ter declarado a sua erradicação em 2020.

Israel desencadeou uma ofensiva contra a Faixa de Gaza após os atentados de 7 de outubro, que causaram a morte de cerca de 1.200 pessoas e o rapto de 240. Segundo as autoridades de Gaza, controladas pelo Hamas, a ofensiva israelita fez cerca de 39.200 mortos.