A cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos está a causar polémica. Ou, pelo menos, alguns segundos da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos estão a causar polémica. O longo espetáculo incluiu uma cena em que vários espectadores viram semelhanças com a célebre “Última Ceia” de Leonardo da Vinci, mas representada com uma drag queen, uma mulher transgénero e um homem nu a surgirem onde surgiria Jesus Cristo e os 12 apóstolos — e a paródia não agradou a todos.

A organização dos Jogos Olímpicos explicou que o que estava em causa era uma representação do deus grego Dionísio, ou Baco, numa interpretação que tinha como objetivo chamar a atenção para “o absurdo da violência entre os seres humanos“. Mais do que a “Última Ceia” de Leonardo da Vinci, o objetivo da encenação seria recriar a “Festa dos Deuses“, do pintor holandês do século XVII Jan van Bijlert — um quadro encontra-se no Museu Magnin, em Dijon. No centro dessa pintura não está Jesus Cristo, mas Apolo.

A explicação não foi suficiente para convencer os mais críticos. Desde logo, a interpretação não agradou à Conferência Episcopal Francesa. Num comunicado enviado à agência Reuters, os bispos de França lamentaram as “cenas de escárnio e zombaria ao Cristianismo”, que “deploram profundamente”. “Pensamos em todos os cristãos de todos os continentes que foram feridos pelo excesso e pela provocação de certas cenas. Desejamos que compreendam que a celebração olímpica vai muito além dos preconceitos ideológicos de alguns artistas”, acrescenta a nota.

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Quem também criticou o momento da cerimónia de abertura foi Marion Maréchal, neta de Jean-Marie Le Pen e sobrinha de Marine Le Pen que é atualmente eurodeputada. “A todos os cristãos do mundo inteiro que estão a ver a cerimónia de abertura de Paris 2024 e sentiram-se insultados por esta paródia da Última Ceia com drag queens, saibam que não é França que está a falar, mas sim uma minoria de extrema-esquerda que está pronta para qualquer provocação”, escreveu nas redes sociais, acrescentando a hashtag “não em meu nome”.

O momento já teve ondas de choque, com a C Spire, uma empresa de telecomunicações, a mostrar-se “chocada” e a garantir que irá retirar toda a publicidade que tinha nos Jogos Olímpicos. Entretanto, o diretor criativo de toda a cerimónia de abertura já saiu em defesa da paródia, garantindo que não existiu qualquer intenção de provocar.

“Não há qualquer desejo de subversão ou de choque, mas sim de dizer que somos este grande Nós com as ideias republicanas de inclusão, generosidade e solidariedade de que tanto precisamos. Aqui, a criação artística é livre e temos a sorte de a ter. Não há qualquer desejo de transmitir mensagens militantes, apenas republicanas: em França, temos o direito de nos amarmos uns aos outros como quisermos, em França, temos o direito de acreditar ou não acreditar”, explicou Thomas Jolly em declarações ao jornal Le Parisien.

Também a própria organização já veio falar sobre a polémica, pedindo desculpa a todos os que se sentiram ofendidos. “Claramente, nunca houve intenção de mostrar desrespeito por qualquer grupo religioso”, disse aos jornalistas a porta-voz dos Jogos Olímpicos de Paris, Anne Descamps, sublinhando que a cerimónia de abertura procurou apenas “celebrar a tolerância da comunidade”, uma ambição que foi “alcançada”, garantiu. “Se as pessoas ficaram ofendidas, lamentamos muito.