Enviado especial do Observador em Paris, França

Foi muita coisa ao mesmo tempo, literalmente. Com a passagem de Patrícia Sampaio às meias-finais no judo na manhã em que Jorge Fonseca viu cair (ou adiou) o sonho de tornar-se campeão olímpico, não era difícil perceber que todo o dia podia ser complicado em termos logísticos. Pelas melhores razões, foi mesmo. Apesar da derrota no acesso à final, a atleta de Tomar conseguiu resgatar depois uma histórica medalha de bronze, a primeira de Portugal em Paris-2024. Festa após o combate, primeira passagem pela zona mista, regresso ao recinto para a cerimónia de entrega de medalhas, muitas fotografias, mais uma passagem pela zona mista, a ida à conferência de imprensa. Aí, o “jogo” passava a ser outro: chegar à La Defénse Arena.

Se as participações dos atletas nacionais no triatlo e no tiro em fosso olímpico com um total de três diplomas tinham deixado algo no ar, esta quinta-feira essa espécie de prenúncio confirmou-se. Fonseca acabou por cair logo no primeiro combate frente ao campeão olímpico (agora ex, que falhou até o acesso às medalhas) mas Patrícia Sampaio colocou o pescoço aquilo que por uma conjugação cósmica se percebia que estava a chegar, um pouco à semelhança do que se passou em Tóquio-2020 em que também o judo deu o primeiro pódio. Era uma questão de aproveitar a onda. Da nossa parte, correu bem: uma entrada na linha 8 do metro com a carruagem a chegar, uma passagem para o RER A com o comboio a chegar, um último forcing do andamento que deixou literalmente marcas na camisa pelo calor que se fazia sentir, objetivo conquistado.

Também aqui, era a tal conjugação cósmica. No entanto, e ao contrário do que se passara antes, um anúncio sem confirmação oficial. E tudo porque, depois das qualificações desta manhã, a primeira meia-final em Jogos Olímpicos não correu de feição a Diogo Ribeiro – algo que o próprio admitiria na zona mista.

De manhã, as coisas prometiam. Refeito de um apuramento nos 100 livres que teve 50 metros fantásticos e outros tantos para esquecer na altura decisiva da qualificação, Diogo Ribeiro ganhou a sétima de dez sérios dos 50 livres com o tempo de 21,91, num registo mais condizente com aquilo que consegue nesta altura fazer. Ainda assim, e antes da festa, era hora de esperar: seguiam-se três séries com os melhores da distância no mundo, com o único registo que contava a ser o tempo. Com o final da última, as boas notícias acabaram por confirmar-se: o português tinha terminado em 13.º, num “corte” feito por Maxime Grosset aos 21,94.

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“São coisas que acontecem nem sempre conseguimos programar bem aquilo que é a nossa melhor forma, mas depois destes 50 livres vi que 20% disso é psicológico e que tenho mais para dar, especialmente nestas provas rápidas. Amanhã [sexta-feira] nos 100 mariposa, sendo a minha prova de eleição, tenho a certeza que não posso deixar de dar o meu melhor por coisas que se passam na minha cabeça. Acho que é normal, às vezes, os melhores também ficarem preocupados com as coisas. Estava triste mas eles estão cá, estão-me sempre a acompanhar, apesar de eu sempre dizer que não quero que eles venham para não gastarem dinheiro. Nestes momentos é que nós percebemos o quão importante é. E, para mim, foi muito importante. E quero que isto fique escrito é que eu amo muito a minha família e sou muito feliz por ter quem tenho ao meu lado. E a minha namorada especialmente também”, comentou então na zona mista e antes aos microfones na RTP, assumindo que na véspera chorara com a família sem saber o que se estava a passar.

[Já saiu o primeiro episódio de “Um rei na boca do Inferno”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de como os nazis tinham um plano para raptar em Portugal, em julho de 1940, o rei inglês que abdicou do trono por amor.]

“Queria ganhar experiência, competir com estes seres humanos que parecem máquinas… E agora vejo-me aqui a passar empatado com o Caeleb Dressel, um nome para mim  que é referência neste desporto. Só tenho de agradecer, mesmo não estando na minha melhor forma, conseguir passar a umas meias-finais”, ressalvou. Por um lado, Diogo Ribeiro admitia não estar no melhor; por outro, já olhava para algo mais.

Por se tratar de natação, a lógica era que o tempo das qualificações fosse superado. Aliás, quando a primeira série das meias-finais terminou, ficava a ideia de que um tempo entre os 21,74 de Thomas Finnon e os 21,83 de Lorenzo Zazzeri poderia até chegar para uma presença na decisão desta sexta-feira. A nadar na pista 1, onde antes correra e ficara quase apurado Caeleb Dressel, o português parecia estar com pressa: entrou para a sua zona, ficou só de calções, colocou-se a jeito da partida e estava pronto para seguir quando alguns ainda iam tirando os ténis e o casaco. Parecia aquela imagem de quem está com uma confiança tal que só quer que a prova arranque para mostrar do que é capaz. Aqui, não correu bem e não só Diogo Ribeiro esteve longe do que é capaz de fazer (22,01) como o “corte” foi feito por Florent Manaudou nos 21,64.

“Não foi o que estava à espera. O que correu mal? Não sei, a chegada, a preocupação que tinha na prova porque estava a pensar nos outros e quando é assim as provas não correm bem. Amanhã [Sexta-feira] vai ser um estilo diferente, só tenho nadado crawl até agora, vamos ver o que é que pode sair dali. De agora só fica a experiência, nunca se perde nada. Foi a primeira vez nos Jogos Olímpicos a nadar à tarde, sempre foi um sonho estar aqui a nadar à tarde com os melhores mas não vou mentir, gostava de nadar amanhã a final, como é óbvio”, começou por admitir o nadador de 19 anos na zona mista depois da meia-final dos 50 livres.

“São dois Diogos diferentes antes e depois dos Mundiais, qualquer pessoa que ganhe um Campeonato do Mundo muda um bocado em alguma coisa, para pior ou para melhor. Depois cabe-nos a nós, dentro da nossa equipa, ver o que está a correr mal. A pressão também é outra, tenho mais olhos em mim, por mais que não a sinta ponho mais pressão em mim. Nunca vou sentir que as pessoas é que estão chateadas comigo mas sim que eu é que estou chateado comigo mesmo. O que tenho feito estes anos pela natação portuguesa, até em termos internacionais, é uma prova que tenho dado o meu melhor. Os resultados não estão a sair como eu esperava, fica um sabor amargo e agora é esquecer o que se passou estes anos todos…”, prosseguiu.

“Tenho 19 mas comecei neste mundo de medalhas internacionais com 16, nos Europeus de juniores, depois tive o acidente, mas desde aí tenho ganho todos os anos alguma coisa. Estou nos Jogos Olímpicos mas já consegui ganhar no Mundial de absolutos. Para o ano pode ser que ganhe também. Mariposa? Tudo é possível, posso chegar à final e ficar nas medalhas como posso nem passar da primeira fase. São os Jogos, eu dou o melhor, os outros dão o melhor e estão todos bem. É a primeira experiência, quando fui aos Mundiais de Fukuoka fiquei com a prata. Nunca ganhei a primeira competição onde fiz a estreia, foram quase todas experiências para aprender. Nos Europeus absolutos também fiz bronze mas não ganhei. Não perdi nada por não ter chegado à final e sinto que ganhei experiência e uma lição, mais uma vez: tenho de me preocupar com a minha prova e não com o que os outros estão a fazer”, concluiu Diogo Ribeiro.