As bolsas a nível mundial reagiram com apreensão aos sinais de que a economia dos Estados Unidos (EUA) pode estar a abrandar, sinalizando um cenário de possível recessão. Na última sexta-feira foram divulgados os dados do emprego nos EUA em julho, que ficaram aquém das expectativas: foram criados 114 mil postos de trabalho, quando os analistas antecipavam números na ordem dos 175 mil empregos. A subida da taxa de desemprego, de 4,1% em junho para 4,3% no mês passado, também não ajudou a acalmar os ânimos. Principalmente por esta ser a taxa de desemprego mais alta em quase três anos.

As principais praças globais reagiram logo na sexta-feira aos resultados, com vários índices a fechar no vermelho. O norte-americano S&P 500 encerrou com uma queda de 1,8%, enquanto o tecnológico Nasdaq recuou 2,4%.

O receio de uma recessão na maior economia do mundo manteve-se esta segunda-feira. Logo pela manhã, quando encerraram as praças asiáticas, era possível perceber a tendência negativa. O índice japonês Nikkei, que termina a sessão quando a manhã ainda está a começar na Europa, tombou 12,4%, a maior queda diária desde a ‘Segunda-feira Negra’ de outubro de 1987.

A queda de 4.451,28 pontos neste índice foi mesmo a maior de sempre numa sessão, fazendo com que já tenha “eliminado todos os ganhos alcançados este ano e acumulado uma queda superior a 20% face a máximos”, nota a análise diária da consultora BA&N, que fala num “‘fantasma da recessão” nas bolsas globais. Na Coreia do Sul, o índice Kospi teve o pior desempenho diário desde a crise financeira de 2008, com uma queda de 8,8%.

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A “reviravolta dramática” no sentimento dos investidores é notória “na aversão extrema aos ativos de risco e quedas muito pronunciadas nas bolsas globais”, continua a nota da consultora.

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A Europa também não conseguiu escapar ao pessimismo dos investidores e o Stoxx 600, o índice bolsista que agrupa as maiores empresas do continente, também terminou o dia com uma queda de 2,17%. Todos os setores de atividade encerraram no vermelho, com destaque para o desempenho negativo das empresas das “utilities”, com uma depreciação coletiva de 3,56%.

Num dia negativo nas várias praças do velho continente (o inglês FTSE teve a pior sessão desde julho de 2023), a bolsa de Lisboa recuou 1,87%, até aos 6.467,97 pontos, o valor mais baixo desde abril. Das 16 cotadas que compõem atualmente o índice de referência, 14 terminaram o dia a vermelho — só a Jerónimo Martins, dona dos supermercados Pingo Doce, e o banco BCP escaparam às quedas, com valorizações de 0,94% (16,16 euros) e 0,61% (0,36 euros), respetivamente.

Também o ouro foi apanhado nesta maré vermelha. Pelas 19h30 cedia 0,64%, para 1.193,71 dólares por onça. Apesar de ser habitualmente visto como um ativo refúgio, procurado em tempos de incerteza, alguns analistas acreditam que se trate de uma correção temporária no valor do metal precioso. “Os investidores estão assustados e estão a vender o que podem e isso inclui o ouro e a prata”, disse à Reuters Jim Wycoff, analista sénior da Kitco Metals.

Entre as “Sete Magníficas”, Apple e Nvidia estão especialmente pressionadas

“Os mercados estão um pouco fora de controlo”, comentou ao New York Times Andrew Brenner, da National Alliance Securities. “Isto é só pânico total. Não é real, mas é doloroso e poderá ficar connosco durante mais algumas semanas.” Em Wall Street, onde a sessão ainda decorre, as ações das tecnológicas estão no centro das atenções, com particular destaque para as “Sete Magníficas” — Alphabet, Amazon, Meta, Microsoft, Tesla, Apple e Nvidia. Por volta das 19h30, a Apple e a Nvidia eram das mais pressionadas. Os títulos da dona do iPhone negociavam com uma queda de 4,09% (210,88 dólares) e a Nvidia cedia 6,26% (100,56 dólares).

“O sell-off nas bolsas globais está a ser liderado pelo setor tecnológico, com os investidores a abandonarem em força aquela que foi a principal aposta nos últimos meses”, é possível ler na nota diária da consultora BA&N. “A notícia de que Warren Buffett cortou a metade a posição na Apple contribuiu para agravar o pessimismo e a desconfiança no setor (…)”.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 fechou a cair 3,06% e o Nasdaq perdeu quase 4%. Já o Dow Jones foi varrido em mais de mil pontos. Os três índices registaram a maior queda em três dias desde junho de 2022.

As atenções ficam agora viradas para a Reserva Federal dos EUA. Irá cortar nos juros?

Muitos analistas referem que os dados do emprego, que estarão a contribuir para a apreensão nos mercados, deverão ser analisados à lupa pela Reserva Federal dos EUA. É a Fed que tem nas mãos a decisão de cortar nas taxas de juro nos EUA.

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O Citigroup e o JPMorgan antecipam cortes de 50 pontos base nos juros na próxima reunião, que está marcada para setembro. “O arrefecimento do mercado de trabalho pode levar a Reserva Federal a reduzir as taxas de juro na reunião de setembro, com especulações sobre um corte significativo de até 50 pontos base”, nota Antonio Ernesto Di Giacomo, analista sénior de mercados da XS.com.

“Esta perspetiva tem gerado um debate intenso entre os economistas e especialistas sobre as possíveis direções da política monetária”, refere o mesmo especialista, “com alguns a argumentar que um corte na taxa de juro poderá ser necessário para estimular o crescimento económico e outros a avisar sobre os riscos de um estímulo prematuro”.

O analista considera que a economia norte-americana está “num momento crucial”, devido ao mercado de trabalho e à taxa de desemprego crescente, e que a Fed enfrenta “o desafio de equilibrar os riscos inflacionários com a necessidade de apoio ao crescimento económico”. Por isso, a decisão da próxima reunião “será crucial em determinar a direção da economia dos EUA nos próximos meses”.

Bitcoin atingiu um mínimo de seis meses

A criptomoeda mais popular do mundo não escapa à maré vermelha que chegou neste início de semana. Ao início da noite desta segunda-feira caía 9,5% para os 53.622 dólares. Durante o dia, chegou a desvalorizar ainda mais, na ordem de 10%, chegando ao valor mais baixo desde março.

“A bitcoin começou a semana sob forte pressão, após cair brevemente abaixo dos 50 mil dólares pela primeira vez em seis meses”, refere George Pavel, diretor-geral da Capex.com Médio Oriente, numa nota divulgada à imprensa.

Outras criptomoedas, como a Ethereum, também registam uma queda significativa. A Ethereum cede mais de 11% para 2.399,21 dólares.

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