Pelo menos 2.229 pessoas foram detidas, incluindo 13 jornalistas, na Venezuela em ligação aos protestos pós-eleições presidenciais.
“Já há 2.229 terroristas capturados, com provas, e no sábado serão transferidos para Tocorón e Tocuyito”, disse na terça-feira o Presidente Nicolás Maduro, cuja reeleição é contestada pela oposição, referindo-se a duas penitenciárias.
Num evento televisivo, Maduro garantiu que “Tocorón e Tocuyito estão prontos para os terroristas, para os criminosos” e para deter “todos os gangues da nova geração que estão envolvidos nos protestos violentos”.
Num encontro com dezenas de apoiantes idosos à porta do palácio presidencial, divulgado pela televisão estatal VTV, o Presidente acusou os detidos de atacarem e assassinarem pessoas — sem especificar o número de vítimas — e de queimarem hospitais, escolas, liceus e universidades, bem como esquadras policiais, autarquias e sedes do partido no poder.
Maduro apontou o dedo ao candidato presidencial da oposição, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia, e à líder da oposição, María Corina Machado.
De acordo com o governo, pelo menos 59 agentes da polícia e 47 membros das forças armadas ficaram feridos, enquanto dois militares morreram.
A estas vítimas juntam-se, disse a organização não-governamental (ONG) Provea, 24 mortes de civis, alguns deles assassinados por membros das forças de segurança ou de milícias.
Também na terça-feira, a ONG Foro Penal avançou que 1.102 pessoas foram detidas na Venezuela no âmbito dos protestos.
“Balanço da repressão, pós-eleições. Prisões verificadas pelo Foro Penal desde 29 de julho a 6 de agosto pelas 8h00 horas [13h00 horas em Lisboa]: 1.102 detenções, entre elas, 100 adolescentes e cinco indígenas”, anunciou a ONG na rede social X.
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Segundo o Sindicato de Trabalhadores da Imprensa (SNTP) e a organização não governamental Programa Venezuelano de Educação e Ação em Direitos Humanos (Provea), pelo menos 13 jornalistas foram detidos na Venezuela desde as eleições presidenciais.
Os dois organismos referiram que os 13 jornalistas são acusados dos crimes de terrorismo, espionagem e conspiração, após terem publicado nas redes sociais fotografias de protestos contra o regime.
Por outro lado, de acordo com o Instituto de Imprensa e Sociedade da Venezuela (IPYS Venezuela) desde 3 de agosto que foram detidos 11 trabalhadores da imprensa, entre jornalistas e operadores de imagem.
Alguns destes trabalhadores foram entretanto expulsos do país, entre eles os chilenos Ivan Núñez e José Luis Tapia, os italianos Marco Bariletti e Ivo Bonito e os espanhóis Cake Minuesa e Álvaro Nieto.
De acordo com o SNTP e o IPYS Venezuela, várias estações de rádio foram advertidas pela Comissão Nacional de Telecomunicações da Venezuela de que poderiam perder as autorizações de emissão se mencionassem os protestos da oposição no país.
Várias organizações de direitos humanos têm denunciado um clima de repressão no país e alegadas violações maciças dos direitos humanos contra os manifestantes detidos no âmbito dos protestos que saíram às ruas venezuelanas após as eleições de 28 de julho.
O regime de Caracas diz estar em curso um golpe de Estado, mantendo nas ruas milhares de polícias e militares para controlar os manifestantes, e pediu à população que, de maneira anónima e através da aplicação VenAPP, denuncie quem promove os protestos.
A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral atribuiu a vitória a Maduro com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.
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