“Este tipo atirou-me para fora. Atirou-me para fora. Estando [os Jogos] em França e sendo um francês a tirar-me para fora não vejo o que pode acontecer”. As palavras de George Mills, logo após a meia final dos 5.000 metros no atletismo, à Eurosport diziam tudo ou quase tudo.
Perto do final da corrida, o britânico Mills caiu, arrastando consigo mais três atletas — Thierry Ndikumwenayo de Espanha; Dominic Lokinyomo Lobalu da equipa de refugiados e o neerlandês Mike Foppen. Assim que a corrida terminou, Mills apontou o dedo a um outro atleta — ao francês Hugo Hay. No final foi-lhe pedir satisfações.
Controversy at Stade de France ????
George Mills speaks after the dramatic fall in the 5000m heat. #Paris2024 #Olympics pic.twitter.com/eD6O71zMYY
— Eurosport (@eurosport) August 7, 2024
Faltavam 100 metros para a reta da meta. George Mills, filho do ex-jogador do Leeds, da Premier League, Danny Mills, estava bem posicionado para chegar à final. O derrube deixou-o fora e garantiu a Hugo Hay o acesso à final. Mas os árbitros decidiram incluir Mills na final de sábado, assim como os três outros atletas que caíram. Também o australiano Stewart McSweeyn que reclamou viu o júri decidir incorporá-lo na final, porque considerou que tinha sido penalizado pelo incidente da prova.
A imagem fica para a história e o caso também. No sábado voltarão a encontrar-se em pista. Hugo Hay garantiu que não se apercebeu de ter sido ele o causador das quedas, até ficou espantado quando olhou para o lado e viu vários atletas no chão e sem ninguém a correr ao seu lado. “Não sei o que se passou, não senti nada. Fiquei surpreendido quando George (Mills) veio ter comigo depois da corrida. Os últimos 400 metros foram um verdadeiro massacre. Eu senti como sempre quando há encostos. Virei-me e não havia ninguém lá”, declarou o francês no final da corrida, citado pelo L’Équipe. Na altura não sabia ainda se poderia chegar uma desqualificação.
“Não sei o que se vai passar, e isso assusta-me. Para mil foi limpo. Vou ver as imagens e se for culpado, peço desculpa. É bizarro, porque me sinto muito bem”. O atleta, que estudou na Escola Superior de Jornalismo em Lille, conta que a 400 metros da meta ficou bloqueado pelo atleta norueguês Narve Nordas (que acabou por passar nesta meia final em primeiro lugar) e pensou que ele faria uma aceleração gradual. “Estávamos cotovelo com cotovelo, pressionei um pouco mas não houve nada. Estamos a grande velocidade e, por isso, qualquer contacto ligeiro é impressionante”.
Durante praticamente toda a corrida o grupo de 21 atletas esteve sempre compacto com alguns encontrões durante a corrida. Foram uns cinco mil metros atribulados ao ponto do vice-campeão olímpico em Tóquio dos 5.000 e ouro em Paris pelos 10 mil metros, Mohammed Ahmed, pelo Canadá, ter caído e não ter conseguido chegar à final.
Já na outra meia final houve também incidentes, com um desfecho idêntico ao de Mills. Na meia final vencida por Jakob Ingebrigtsen, que acabou em quarto nos 1.500 metros, o júri resolveu requalificar para a final o francês Yann Schrub que foi, segundo reclamação da Federação de França, prejudicado pela queda de um outro atleta.
No sábado todos estarão na final dos 5.000 metros.