A agência de saúde da União Africana (UA) vai, “provavelmente, declarar uma emergência de saúde pública” na próxima semana em resposta à epidemia da “varíola dos macacos” em África, anunciou esta quinta-feira o seu diretor.

Esta declaração de “emergência de saúde pública”, que terá lugar “provavelmente” na próxima semana, é a primeira do CDC África [Centros de Controlo e Prevenção de Doenças da UA] “desde que lhe foi atribuído o mandato em 2023”, disse aos jornalistas o seu diretor, Jean Kaseya.

“É um pedido do CDC em África para que seja declarado. Temos de passar por uma série de etapas para compreender a magnitude do problema e as medidas adequadas que devem ser tomadas para evitar que esta situação se torne noutra pandemia”, alertou Kaseya.

O diretor da agência da UA sublinhou a importância de “mobilizar a comunidade internacional para saber o que se passa em África”, embora seja a Organização Mundial da Saúde (OMS) a responsável por fazer a declaração.

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De acordo com os dados fornecidos por Kaseya, entre 2023 e 2024 registou-se um aumento de 160% dos casos, o que significa que este ano haverá “mais do dobro do que havia em 2023 e ainda mais”.

“Este é um dos aspetos que nos alarma (…). Para além do facto de 70% das pessoas afetadas terem menos de 18 anos. Estamos a perder a juventude em África”, afirmou.

“Estamos a trabalhar com os jovens, ajudando-os a obter informação adequada para que a possam partilhar”, acrescentou.

Face a esta situação, o responsável referiu que são necessárias “pelo menos dez milhões de vacinas”, um número que está muito aquém das 200.000 disponíveis até à data.

“A varíola [mpox] é uma realidade, está a afetar os nossos países. As pessoas estão a morrer. Aprendemos com a covid-19 e não queremos repetir o mesmo erro”, alertou.

Por isso, indicou que está a reunir-se com os líderes políticos e a comunidade internacional para “obter a bênção e a orientação para declarar o estado de emergência”, o que permitirá desbloquear fundos e montar uma resposta continental.

De acordo com informações divulgadas esta quinta-feira pela OMS, 15 países africanos registam atualmente um surto da chamada “varíola dos macacos”, provocada por uma nova estirpe do vírus mpox, com um total de 2.030 casos confirmados e 13 mortes até agora este ano, em comparação com 1.145 casos e sete mortes em todo o ano de 2023.

Na quarta-feira, o diretor-geral da agência da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus, confirmou que o Comité de Emergência que o aconselha sobre surtos que podem ter repercussões internacionais irá discutir o mais rapidamente possível se deve declarar novamente a varíola como uma emergência sanitária.

Esta qualificação é o alerta mais elevado que a OMS pode desencadear e é o chefe da OMS que o pode lançar com base no parecer do comité.

Os casos da doença, cujo principal foco infeccioso foi a República Democrática do Congo (RDCongo), país que faz fronteira com Angola, e que já foi uma emergência sanitária internacional entre 2022 e 2023, estão a multiplicar-se em África.

Foram notificados casos pela primeira vez no Burundi, Quénia, Ruanda e Uganda, enquanto na RDCongo também foram observados casos em províncias anteriormente não afetadas.

A República Centro-Africana foi o último país africano a declarar um surto de varíola em 1 de agosto.

O vírus da varíola é transmitido principalmente através do contacto direto ou indireto com sangue, fluidos corporais, lesões cutâneas ou membranas mucosas de animais infetados.

A nova estirpe do mpox conduz ao aparecimento de erupções cutâneas em todo o corpo, enquanto as provocadas pela anterior estavam localizadas na boca, face ou nos genitais.