As causas ainda não estão apuradas, mas já há algumas hipóteses em cima da mesa para explicar o que levou à queda do avião da companhia aérea Voepass em Vinhedo, no interior do estado brasileiro de São Paulo. Aquela que tem reunido maior apoio é a formação de gelo no avião, mas há quem defenda também uma falha na posição das hélices. Especialistas afastam possibilidade de falha elétrica e falta de combustível.

Na passada sexta-feira, o Brasil viveu o pior acidente de aviação desde junho de 2007, quando um avião chocou com um prédio ao tentar pousar no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, matando 199 pessoas, disse a Força Aérea brasileira citada pela CNN. O avião partiu de Cascavel e dirigia-se para Guarulhos, mas a 8 minutos do destino caiu a pique, levando à morte das 62 pessoas que seguiam a bordo.

As autoridades já recuperaram uma das caixas negras do avião — pouco tempo depois da queda — mas ainda não conseguiram explicar o que terá corrido mal. No entanto, uma das hipóteses que mais apoio tem reunido é a acumulação de gelo nas asas do avião. Isto porque foi emitido um alerta meteorológico que indicava que podia formar-se gelo e vento severo entre os 12 mil e os 21 mil pés, sendo que o avião circulava a 17 mil pés (5181 metros), detalha o Globo.

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Gelo nas asas

“A asa tem um perfil aerodinâmico e a acumulação de gelo, geralmente na frente da asa, pode fazer com que esse avião perca as características aerodinâmicas que ele tem”, dificultando a sua deslocação, apontou Geraldo Portela, engenheiro aeronáutico e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, ao Globo.

O especialista em segurança de voo, Roberto Peterka, concorda. Em declarações à Folha de S. Paulo diz que este “avião voa a um nível [de altitude] onde há muito gelo, então o gelo pode ter-se acumulado nas asas e alterado o perfil de sustentação”, ou seja, as asas pararam de trabalhar, deixando de sustentar o avião. Ao sofrer esta alteração, o avião “perde velocidade e vem abaixo”, remata o especialista.

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Contudo, Hildebrando Hoffman, engenheiro e professor jubilado de Ciências Aeronáuticas na Universidade Católica do Rio Grande do Sul, afasta esta hipótese. À Folha de S. Paulo começa por dizer que, mesmo que se tivesse formado gelo nas asas do avião, isto não seria suficiente para levar a que o avião caísse na vertical em direção ao solo (denominado “flat spin”, em inglês).

E depois explica que o modelo de avião em causa (o ATR-72-500) tem um sistema para prevenir a formação de gelo. Uma das características deste avião é que tem a possibilidade de direcionar ar quente saído do motor para partes críticas do avião, evitando que se forme gelo, explica. Mas o Globo escreve que este sistema anti-gelo não é automático, tendo de ser acionado pelo piloto — algo que não se sabe ainda se terá acontecido.

Falha nas hélices

Para Hoffman, a origem do problema está nas hélices do avião. A queda da aeronave aconteceu porque, “por algum motivo, deixou de ter tração”. “Os motores deixaram de funcionar normalmente. O avião perdeu tração e veio em queda livre, praticamente na vertical, a girar. Isso pode ter ocorrido porque algo aconteceu com o sistema de hélices, que precisa de estar na posição correta para causar tração”, disse à Folha.

A mudança de posição das pás das hélices pode ser explicado por “uma série de motivos”, como por exemplo uma determinada manobra”, acrescenta o engenheiro.

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As teorias que ficam de fora

Ainda é cedo para saber o que levou a que o avião com 62 pessoas se despenhasse. Mas os especialistas ouvidos pela Folha de São Paulodescartaram algumas hipóteses, nomeadamente uma falha elétrica, porque há sistemas de emergência previstos para assegurar quando algo falha. E também falta de combustível, porque este queimou no solo após a queda do avião.

Além disto, o engenheiro Hildebrando Hoffman recusa a ideia de ter havido um problema de aerodinâmica, porque nas imagens da queda do avião não se via a fragmentação e queda de qualquer peça importante, diz.

Até ao momento não há informações concretas sobre a causa do acidente, tendo a Força Aérea brasileira acionado o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) para analisar a situação. Mas o CEO da companhia aérea Voepass, Eduardo Busch, garantiu que a tripulação do voo era experiente e muito competente e disse que todas as teorias que têm circulado, inclusivamente nas redes sociais, é especulação, escreve a BBC.