O Ministério da Educação, Ciência e Inovação vai manter os manuais escolares digitais no próximo ano letivo, mas com a avaliação do seu impacto nas aprendizagens para decidir a continuidade do projeto-piloto que não convenceu todas as escolas.

O projeto-piloto dos manuais escolares digitais vai entrar na quinta fase no próximo ano letivo, depois de, este ano, ter envolvido cerca de 24 mil alunos a partir do 3.º ano em 103 escolas.

No entanto, segundo o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI), os impactos do formato digital na aprendizagem dos alunos ainda não foram avaliados e, por isso, a tutela vai pedir um estudo de avaliação de impacto que poderá ditar a continuidade do projeto a partir de 2025/2026.

Quatro em cada cinco encarregados de educação insatisfeitos com manuais digitais

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Para já, esclareceu o ministério em resposta à Lusa, mantêm-se os mesmos moldes para os alunos do 2.º e 3.º ciclos, com a possibilidade de novas turmas aderirem aos manuais digitais, mas não serão integradas novas turmas do 1.º ciclo e do ensino secundário.

Do lado das escolas, nem todas parecem estar convencidas com a transição digital a esse nível e estabelecimentos de ensino que no ano passado aderiram ao projeto-piloto estão agora a recuar.

“Muitas escolas estão a colocar os projetos em banho-maria”, disse à Lusa o presidente Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep) que, sem precisar, explicou que várias decidiram não alargar a mais turmas.

Noutras, o projeto parece mesmo ter sido suspenso e na região de Lisboa há, pelo menos uma escola onde os encarregados de educação de alunos que utilizavam manuais digitais receberam indicação para ir levantar os livros em papel para o próximo ano letivo.

O problema está sobretudo na falta de condições técnicas, considerou Filinto Lima, que relatou que a ligação à Internet falha com frequência e que nem todos os alunos têm computador.

“Temos de começar a construir o edifício digital pelos alicerces”, defendeu o representante dos diretores escolares, considerando que a aposta, neste momento, deveria ser o reforço das condições antes de os alunos largarem os manuais em papel.

A opção de adiar a transição digital também não desagrada aos pais.

Em maio, um inquérito sobre o projeto-piloto dos manuais digitais, realizado pelo Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida revelou que mais de quatro em cada cinco encarregados de educação estão insatisfeitos e defendem o fim da iniciativa.

Entre as 462 respostas, 90% dos encarregados de educação dizia preferir os livros em papel por permitirem uma maior concentração dos alunos e apenas 8% preferem os manuais digitais. Quase um terço continuava a comprar os manuais em papel, apesar da transição.

Pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Mariana Carvalho reconheceu vantagens na utilização de manuais digitais, mas entende que não existem condições para a substituição dos livros em papel.

“Os manuais digitais poderiam ser uma alternativa caso o planeamento fosse um bocadinho diferente e se tivéssemos infraestruturas para ter uma boa implementação”, considerou a presidente da Confap.

Além da ligação à Internet nas escolas, Mariana Carvalho acrescentou que nas salas de aula não existem, por exemplo, tomadas para carregar o computador de todos os alunos e que, muitas vezes, os aparelhos não têm capacidade para que os manuais sejam descarregados e possam ser utilizados ‘offline’.

“Há vantagens, mas como não temos infraestrutura, não conseguimos apoiar a 100% a transição digital neste caso específico”, lamentou a representante dos pais.

No ano passado, os manuais digitais chegaram a 24.011 alunos, a maioria do 3.º ciclo (46,8%), seguido do 2.º ciclo (28,5%), secundário (16,3%) e 3.º e 4.º anos (8,4%), segundo dados da Direção-Geral da Educação.

Foi o ano mais participado do projeto-piloto que se iniciou em 2020/2021, em plena pandemia de covid-19, com cerca de mil alunos em nove escolas.