O líder de um culto no Quénia, que alegadamente encorajou mais de 400 seguidores a matarem-se à fome, declarou-se inocente da acusação de homicídio involuntário associada a um dos piores casos de suicídios em massa relacionados com seitas.

Paul Mackenzie, líder da Good News International Church, ou “Igreja Internacional das Boas Notícias”, apareceu esta segunda-feira diante o tribunal em Mombaça, juntamente com 94 outros suspeitos. Foi preso em Abril de 2023, no seguimento de terem sido descobertos 429 corpos — incluindo crianças — em valas comuns num terreno florestal — Shakahola — pertencente ao culto. A grande maioria dos cadáveres mostravam sinais de fome e de agressão.

Segundo os procuradores revelaram à AFP, mais de 400 testemunhas vão prestar declarações durante os próximos dias. “Nunca houve um caso destes no Quénia”, revelou o procurador Alexander Jami Yamina, explicando ainda que os suspeitos serão julgados perante uma lei relacionada com pactos suicidas.

Para além do caso de homicídio involuntário, Mackenzie está também acusado de terrorismo e abuso de crianças, crimes também refutados pelo arguido.

Sobreviventes do “Massacre da floresta Shakahola” revelaram que o planeado era as crianças serem as primeiras a morrer de fome, seguidas pelos solteiros, pelas mulheres, homens e, em último lugar, os líderes do culto.

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A “Igreja Internacional das Boas Notícias” foi fundada em 2003, com Mackenzie a tentar impulsionar os seus seguidores a mudar-se para a floresta Shakahola, de modo a prepararem-se para o “fim do mundo” e “conhecerem Jesus”. Dentro do terreno de 800 hectares, dividido em três porções com nomes de território bíblicos — Judéia, Belém e Nazaré — não existia rede telefónica.

Os líderes do culto defendiam que a educação formal era “satânica” e utilizada para extorquir dinheiro, o que levou à detenção de Mackenzie, em 2017 e 2018, por encorajar crianças a não ir à escola, devido a “não estar reconhecida na Bíblia”. Para além disso, encorajou mães a não procurarem ajuda médica durante o parto e a não vacinarem os seus filhos, dizendo que os médicos “servem outro deus”.

Os seus “sermões” eram transmitidos no YouTube e tinham por base um suposto iminente Apocalipse, incluindo muitas referências satânicas e a teorias de conspirações globais, como a “Nova Ordem Mundial”.