Era 26 de agosto, de madrugada, quando Lisboa “foi sacudida”, enquanto “muitas pessoas se preparavam para começar mais um dia de trabalho”. Podia ser uma descrição do que aconteceu esta segunda-feira, mas é a que o “Diário de Lisboa” fez, neste mesmo dia, em 1966. Há exatamente 58 anos, às 5h56 da manhã, registou-se um sismo de “3-4 na escala internacional” na zona da capital.

Naquele ano, a semana estava a terminar — era sexta-feira — e, segundo a notícia que fez capa no Diário de Lisboa, o “sismo de pequena intensidade causou natural apreensão” nos habitantes da capital. O seu epicentro foi registado no mar, a 100 quilómetros da capital, e fez-se sentir na “faixa costeira entre Porto e Sagres”.

No Instituto Dom Luiz, Observatório Meteorológico e Geofísico de Portugal, “foi recebido um elevado número de comunicações telefónicas, como acontece sempre que se registam abalos telúricos”, relata-se no jornal que era publicado com o selo do regime: “Visado pela Censura”.

Captura de ecrã da versão digitalizada do Diário de Lisboa de 26 de agosto de 1966

O vespertino informava que em outros pontos do país, como Santiago do Cacém, o registo sismográfico dava conta de um nível de intensidade mais elevado do que aquele que tinha sido monitorizado em Lisboa: 5 na escala de Richter. Com maior ou menor intensidade, o sismo foi “sentido em numerosas localidades do país e da Espanha”, como apurado por correspondentes do jornal em Setúbal, Évora, Benavente, Beja, Montemor-o Novo, Entroncamento, Montargil, Sousel, Guarda, Barreiro e Bombarral. “Nalgumas destas localidades houve alguma inquietação e até pânico entre a população, não havendo, porém, prejuízos dignos de registo”, relatava-se.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

[Já saiu o quarto episódio de “Um Rei na Boca do Inferno”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de como os nazis tinham um plano para raptar em Portugal, em julho de 1940, o rei inglês que abdicou do trono por amor. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube. Também pode ouvir aqui o primeiro, o segundo e o terceiro episódios]

O Diário de Lisboa dava conta da inexistência de danos na então designada Ponte sobre o Tejo, agora Ponte 25 de Abril. “Fomos informados, no entanto, de que a ponte não registou quaisquer efeitos do sismo. (…) Aquando da construção da ponte, foram estudadas todas as possibilidades de abalos telúricos”, lê-se na notícia, onde se esclarece que a ponte foi construída com base em estudos norte-americanos em territórios com “afinidades sísmicas com as da capital portuguesa”.

Sismo de 5,3 sentido em várias cidades de norte a sul de Portugal

“Aliás, durante a construção das torres, simulou-se um forte abalo telúrico, para que fossem submetidas a uma prova cabal aquelas estruturas básicas”, referia o diário.

Poucos dias antes, a 19 de agosto de 1966, um terramoto de 6,8 na Escala de Richter em Varto, na Turquia, havia provocado a morte a mais de três mil pessoas. Na notícia do Diário de Lisboa era esclarecido que o abalo não se relacionava com esse tremor de terra, uma vez que Lisboa não se encontra, sequer, na mesma z0na sísmica, mesmo que o pânico de muitos estivesse relacionado com a memória fresca da destruição do desastre natural além fronteiras.