O governo israelita terá pago uma campanha publicitária no Google para divulgar alegações, que vem defendendo ao longo de meses, de que a UNRWA, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) que apoia refugiados palestinianos, tem ligações a atividades terroristas do Hamas, segundo a revista WIRED.
O governo liderado por Benjamin Netanyahu comprou publicidade para pesquisas com as palavras-chave “UNRWA” e “UNRWA USA”. Pretendia direcionar a atenção de potenciais doadores da agência para informações sobre as suas supostas ligações ao grupo terrorista. Nos sites para que os utilizadores são encaminhados a delegação da ONU é descrita como uma fachada para o Hamas e governos como o dos EUA são instados a deixar de financiar a agência.
Em janeiro, quando os primeiros anúncios foram detetados, Israel já tinha acusado 12 funcionários da UNRWA de participarem no ataque mortal do Hamas a Israel a 7 de outubro, identificando pouco depois nove deles. No início de agosto, as Nações Unidas admitiram que estes nove funcionários “podem ter estado envolvidos” no ataque do Hamas e informou que seriam despedidos da organização, quase 10 meses após as alegações terem sido feitas.
Mara Kronenfeld, diretora-executiva da UNRWA, foi uma das primeiras pessoas a deparar-se com os anúncios que surgiam perante a pesquisa da agência da ONU. Depois de verem os anúncios – pagos pela agência de publicidade do Governo de Israel, de acordo com os detalhes do próprio anúncio -, Kronenfeld e a sua equipa pediram de imediato ajuda à Google para combater o que consideram ser uma campanha de desinformação.
Vários funcionários e ex-funcionários da Google relataram à WIRED que a campanha anti-UNRWA é apenas um de vários anúncios que Israel orquestrou nos últimos meses e que suscitou queixas dentro e fora da empresa. Confrontado com as alegações da agência, o porta-voz da Google, Jacel Booth, disse à revista que os governos podem publicar anúncios que cumpram as políticas da empresa e que, da mesma forma, os utilizadores e funcionários têm sempre o direito de denunciar alegadas violações. “Aplicamo-las de forma consistente e sem preconceitos”, respondeu à revista. “Se encontrarmos anúncios que violam essas políticas, tomamos medidas rápidas”, garantiu.
Em janeiro, os anúncios com o título “UNRWA for Human Rights” foram retirados depois de a agência de ajuda humanitária se ter queixado, apesar de a Google ter assegurado que não havia violação das suas políticas.