Por esta altura, são cerca de 20 milhões os motivos que separa a nação benfiquista da direção liderada por Rui Costa. O presidente foi, precisamente, um dos rostos do descontentamento de mais um desaire nesta edição do Campeonato Nacional. De regresso ao Minho depois da derrota contra o Famalicão na primeira jornada (2-0), o Benfica pouco melhorou e conseguiu um ponto graças ao penálti tardio de Marcos Leonardo (1-1). Para a história fica a imagem de uma equipa que não o é e de um clube à deriva que não consegue conter a insatisfação dos adeptos.

A arte feita sem artistas esbarra num xadrez de cónegos difíceis de derrubar (a crónica do Moreirense-Benfica)

Com o Benfica a jogar praticamente em casa, já que os adeptos encarnados cobriram grande parte das cadeiras do Comendador Joaquim de Almeida Freitas, a contestação dos adeptos começou durante a primeira parte, mas teve um pico no seu final. Apesar de não ser de agora — nem desta época —, o ponto alto deu-se em cima do minuto 45, quando o Moreirense inaugurou o marcador por Gabrielzinho, golo que entretanto foi anulado. Numa fase em que André Narciso ainda não tinha decidido, os adeptos presentes na bancada central levantaram-se e aproximaram-se do banco de suplentes — que é bastante próximo da bancada — com apupos e gestos de insatisfação dirigidos a Schmidt.

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O caldo entornou pouco depois, quando a primeira parte terminou. A verdade é que nem a decisão de Narciso, de anular o golo, conteve os adeptos, que se dirigiram para junto do túnel de acesso aos balneários, abanaram-no e continuaram com os impropérios. Com o ambiente bem mais calmo, o Benfica até deu boa mostra no arranque da segunda parte, mas os ânimos voltaram a exaltar-se aos 78 minutos. Motivo? Schmidt mexeu no ataque e tirou Di María — que saiu com queixas no pé direito, segundo as imagens da SportTV — e Pavlidis, ouvindo alguns assobios.

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Os ingredientes estavam todos reunidos para a explosão, que se registou pouco depois. Ofori colocou os cónegos em vantagem aos 84 minutos e Roger Schmidt, que permaneceu sempre impávido e sereno — a sua imagem de marca —, voltou a escutar a ira dos adeptos. Como se isso não bastasse, logo a seguir ao golo Rui Costa abandonou a tribuna de imprensa, não escondeu o descontentamento e saiu rapidamente para a zona de acesso aos balneários, documentam a Antena 1 e a TSF, e as imagens da SportTV+.

Ainda antes de Marcos Leonardo empatar a partida, os adeptos começaram a cantar “O Benfica é nosso”, mas a contestação voltou a ter um novo capítulo após o apito final. Assim que André Narciso terminou o jogo, Schmidt saiu rapidamente para o balneário e nem chegou a cumprimentar César Peixoto ou a despedir-se dos adeptos juntamente com a equipa. Com os jogadores sozinhos numa metade do terreno de jogo do estádio do Moreirense, a massa adepta voltou a expressar a sua fúria e exigiu a demissão do treinador. Mas a imagem que fica desta noite é aquela: a de um conjunto de jogadores abandonado pelos líderes perante um conjunto de adeptos claramente insatisfeito.

Alguns minutos depois, o técnico alemão marcou presença na flash-interview da SportTV e mostrou-se “desapontado com o resultado”. “Tivemos boas chances para marcar primeiro no início da segunda parte, o que seria muito importante. Não sei exatamente porque é que temos problemas para marcar, criamos oportunidades, rematamos, mas a precisão no remate não está lá. E assim pode acontecer como hoje [sexta-feira], um remate desviado dar em golo. Ainda salvámos um ponto, mas estamos desapontados”.

“Tivemos boas oportunidades. A equipa está bem a defender. Quando jogámos aqui no ano passado percebemos que era difícil. O que nos faltou foi ser eficazes. Faltava levar o jogo na nossa direção. Aqui e em Famalicão não é fácil, podíamos ter marcado primeiro e falhámos duas vezes. Às vezes no futebol passas por este tipo de fases. Temos condições para trabalhar isto e melhorar no futuro. Temos de aceitar que não podemos ganhar todos os jogos”, acrescentou Schmidt.