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A discórdia dentro do executivo de Benjamin Netanyahu pode ser ainda maior do que Telavive tem dado a entender. Uma ata confidencial da reunião do Gabinete de Guerra na madrugada de quinta para sexta-feira revela que o primeiro-ministro israelita e o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, se envolveram numa discussão acesa.

O Gabinete de Guerra israelita reuniu-se na noite de quinta-feira, num encontro que se prolongou pela madrugada para debater a medida que tem criado mais debate nas negociações de um cessar-fogo: a presença das tropas israelitas no corredor de Philadelphi, a fronteira sul de Gaza com o Egito. Netanyahu tem insistido que não há acordo sem presença militar israelita neste território. Mas, segundo os documentos divulgados pelo canal israelita Channel 12, nem todos os membros do seu executivo concordam com este plano.

“Estes não são os planos que as IDF querem. Eles propuseram um mapa diferente. E [o primeiro-ministro] forçou estes mapas”, acusou Yoav Gallant, depois de terem sido apresentados os planos para votação, segundo a transcrição da reunião. “Eu forcei?”, questionou o primeiro-ministro.

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“Claro, [as IDF] tinham o seu próprio plano. Está a conduzir as negociações sozinho. Insistiu que estes eram os planos e eles desenharam o que queria. Eles tinham uma posição diferente”, argumentou o ministro, ao que Netanyahu se terá exaltado e “com um murro na mesa” exigido um voto imediato.

Neste ponto da discussão, o chefe das IDF e o diretor da Mossad intervieram na discussão, do lado de Gallant, notando que a prioridade não devia ser este território. “As IDF saberão como voltar a entrar em Philadelphi no fim das seis semanas de cessar-fogo. Já há restrições suficientes às negociações, não há necessidade de adicionar mais uma”, admitiu o general Herzi Halevi.

Já David Barnea, que tem liderado a equipa de negociações israelita, afirmou que esta votação “não tinha lógica” e que as negociações estavam focadas na devolução dos reféns e não neste corredor. Com o apoio de Barnea e Halevi, o ministro da Defesa dirigiu-se aos outros nove ministros que estavam na reunião.

“Temos duas opções à nossa frente — ou ficamos em Philadelphi ou trazemos os reféns — e decidimos ficar em Philadelphi! Isto faz sentido para vocês? Há pessoas vivas lá!”, apontou Gallant, obtendo como resposta do ministro dos Assuntos Estratégicos que Netanyahu podia fazer “o que quisesse”.

O ministro da Defesa criticou então que a decisão do primeiro-ministro estava a ser a de “executar todos os reféns”, acusação que foi recebida com gritos dos outros ministros e de Netanyahu, argumentando que não aceita imposições.

“Primeiro-ministro, se Sinwar [o novo líder político do Hamas] lhe colocar o dilema: ou sai de Philadelphi ou recupera os reféns. O que faria?”, questionou inequivocamente. A resposta de Netanyahu foi igualmente clara: “A decisão para ficar é política. Fico em Philadelphi“. Gallant questionou-o então por que motivo a ocupação militar era mais política que a “vida de 30 pessoas”, sem obter resposta.

Na hora de votar a proposta, Yoav Gallant foi o único ministro que votou contra. O ministro de extrema-direita Ben Gvir absteve-se, por, segundo os media israelitas, desejar medidas ainda mais agressivas contra a resistência palestiniana. Os restantes oito ministros votaram a favor, tendo a proposta sido aprovada.

A insistência de Netanyahu em manter a presença militar em Philadelphi é justificada com uma necessidade de prevenir a entrada de mais armamento em Gaza. Contudo, os mediadores, incluindo o Egito, do outro lado da fronteira, já terão concordado com uma presença internacional durante seis meses, enquanto as tropas israelitas saem de Gaza, os reféns regressam a casa e a ajuda humanitária entra no enclave para a sua reconstrução.

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A divulgação desta discussão à porta fechada expôs a divisão dentro do próprio executivo israelita, com alguns dos líderes a discordarem da vontade de Benjamin Netanyahu em perseguir objetivos políticos menores, em vez de definir o salvamento de todos os reféns como prioridade. A mesma crítica foi deixada pelos familiares dos reféns, que afirmaram que as palavras de Netanyahu “não deviam deixar dormir nenhum israelita”.

“Todos os cidadãos israelitas devem saber que, se forem raptados em pijama num sábado de manhã, o Primeiro-Ministro fará tudo para manter o seu governo, mesmo à custa de lhes causar a morte enquanto estiverem em cativeiro do Hamas nos túneis de Gaza”, afirmou o Fórum das Famílias dos Reféns, num comunicado citado pelo Haaretz.