Após o grupo 3 de qualificação do primeiro dia de ginástica feminina, Filipa Martins estava eufórica com o que fizera no apuramento. O sorriso de orelha a orelha denunciava o estado de espírito, a forma emocionada como ia ouvindo no telefone algumas mensagens de voz que lhe iam deixando entre família e amigos contava o resto. Aí, ainda não era certo o que poderia acontecer a nível de final, sobrando apenas a esperança de que o que fizera, a começar por um salto no cavalo que treinava desde 2014 ou 2015 mas que só nos Jogos decidiu arriscar, seria suficiente para alcançar a decisão do all-around. “Depois de Paris? Não sei, não é altura. Agora é esperar e festejar o que fiz”, referiu na zona mista. Foi mesmo à final. Teve mesmo o adeus que queria.

A guerreira que mudou a história para fazer a sua história: Filipa Martins arriscou e conseguiu chegar à final do all-around dos Jogos

Através de um vídeo emotivo partilhado este domingo nas suas redes sociais, Filipa Martins, que fica como a melhor ginasta portuguesa de todos os tempos com uma capacidade única de superação para resistir a todas as lesões e operações para continuar a ser um exemplo, anunciou o final da carreira aos 28 anos.

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“Foram 24 anos da montanha-russa mais intensa da minha vida. Aos quatro anos não imagina que chegaria tão longe, que alcançaria sonhos e que seria tão feliz. Aquela menina de quatro anos que só queria treinar e ser melhor, hoje estaria orgulhosa. Nem sempre foi fácil mas sinto que cada gota de suor e cada lágrima valeu a pena para chegar até aqui. Cada treinador que passou pelo meu caminho fez de mim uma atleta melhor. Aprendi, cresci, tornei-me mais forte e a cada etapa fui levando um pedacinho de cada um comigo, tornando-me cada vez melhor atleta mas, acima de tudo, melhor pessoa”, começou por referir num vídeo acompanhado por várias imagens de quando era ainda uma pequena atleta em busca de um sonho.

“A todas as ginastas que dividiram o treino comigo, os estágios e as competições, obrigada por fazerem parte desta caminhada comigo. Aprendi um bocadinho com cada uma de vocês. Vivemos momentos únicos em cada competição e muitas de vocês estarão comigo para a vida. Foi no Sport Clube do Porto que dei os meus primeiros passos como ginasta e que alcancei tantos sonhos e objetivos. Durante quase 19 anos foi quase uma segunda família, a minha segunda casa”, prosseguiu, entre as dedicatórias particulares.

“Cristina, a ti não chegam palavras para agradecer tudo aquilo que fizeste por mim. Formaste-me enquanto atleta, educaste-me enquanto pessoa. Sei que não foi fácil, gostava de ser malandra e acabaste por gastar todos os puxões de orelhas comigo mas vivemos momentos lindos, rimos, chorámos e fomos fazendo história. Joana Ferreirinha, um obrigado por estes cinco anos tão intensos. Vivemos muitas alegrias, algumas tristezas mas foram mais os momentos bons e de superação. Vibrámos com momentos que se calhar não imaginávamos serem possíveis”, salientou entre o início e a parte final de uma carreira marcada também pelas várias lesões que levaram a que fosse cinco vezes operada aos tornozelos entre outras mazelas.

“Termino a minha carreira com um sentimento de dever cumprido e grata por tanta história que fizemos para o nosso país e para a nossa modalidade. Foram 16 vezes campeã nacional consecutiva, 13 Campeonatos da Europa, oito Campeonatos do Mundo, duas Universíadas, uns Jogos Europeus, uns Jogos do Mediterrâneo e três Jogos Olímpicos, e tantas Taças do Mundo que já perdi a conta. Hoje, olhando para trás, parece que tudo passou tão rápido. Um obrigado especial a todos os fisioterapeutas e médicos que me acompanharam ao longo destes 24 anos, sem vocês nada disto seria possível”, apontou.

“Fazemos história desde 2013, na primeira final all-around do Campeonato da Europa. Em 2014, foi a primeira final all-around do Campeonato do Mundo. Primeiro diploma, com oitavo lugar, na final all-around do Campeonato da Europa de 2015. Primeira medalha em Universíadas, 2015. Primeiros Jogos Olímpicos, 2016. Primeiro elemento do Código de Pontuação Internacional e primeira vez na final das paralelas num Campeonato da Europa. Segundos Jogos Olímpicos. Primeira vez diploma com sétimo lugar no Campeonato do Mundo na final all-around de 2021. Primeira final de paralelas num Campeonato do Mundo. Primeira medalha em paralelas nos Jogos do Mediterrâneo. Quinto lugar na final das paralelas do Campeonato da Europa de 2024. Prémio Carreira da European Gymnastics em 2024. Termino com os terceiros Jogos Olímpicos, finalmente com a grande dupla no saltos a fazer história uma última vez sendo a primeira finalista olímpica. Havia tanta coisa por dizer mas por agora, é isto”, concluiu Filipa Martins.

Histórico: Filipa Martins consegue diploma e faz melhor resultado de sempre numa final all around do Mundial