O Campeonato do Mundo de ginástica, na cidade japonesa de Kitakyushu, teve três tipos de abordagem logo à partida por parte de federações e ginastas tendo em conta a colocação no calendário internacional apenas dois meses depois dos Jogos Olímpicos. Várias atletas que estiveram em Tóquio, como as campeãs Sunisa Lee, Jade Carey ou a inevitável Simone Biles, decidiram encerrar mais cedo . Outras federações optaram por iniciar já o novo ciclo olímpico de Paris, lançando novos talentos para os próximos anos. No caso de Portugal, foram as melhores. Sobretudo, a melhor. E conseguiu fazer história.

Filipa Martins faz história e chega às finais de “all around” e paralelas nos Mundiais de ginástica artística

Após ter conseguido o apuramento para a final do all around com o sexto melhor registo, Filipa Martins tornou-se a primeira ginasta portuguesa a alcançar uma final de aparelhos em Mundiais, com a oitava melhor pontuação entre as apuradas para a decisão nas paralelas assimétricas onde registou o movimento que ganhou o seu próprio nome, o “Martins”. “Estou super contente com os resultados que consegui nas qualificações. Nas paralelas foi mesmo em último lugar, mas foi fantástico, porque foi a primeira vez que consegui. E no all around passei em sexto, o que foi muito bom”, comentou à Federação de Ginástica.

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Esta quinta-feira, a ginasta do Acro Clube da Maia tinha a primeira final, neste caso do concurso do all around, com o objetivo de melhorar o melhor resultado de sempre em Mundiais, a 16.ª posição em 2014 na China (Naning), a que se seguiu um 18.º lugar em 2017 no Canadá (Montreal). E fez mais história: a ginasta portuguesa alcançou o primeiro diploma de sempre, o melhor resultado na ginástica artística feminina e que só não foi ainda melhor porque acabou penalizada num ponto no exercício nas paralelas.

A ginasta portuguesa começou a primeira rotação no salto com o resultado de 13.466, acima dos 13.300 que tinha feito na qualificação e também da notas alcançada numa outra ocasião em que chegou à final do all around em Mundiais, neste caso o 13.166 de 2017. Melhor só mesmo os 13.800 da decisão de 2014, numa fase diferente da carreira em que não tinha por exemplo os recursos que ganhou com o tempo nas paralelas assimétricas. Um início sem falhas que colocava Filipa Martins à condição no oitavo lugar.

O início tinha sido prometedor para a passagem ao aparelho onde é especialista, as paralelas assimétricas. E tudo começou da melhor forma, com a execução perfeita do “Martins” que mereceu muitas palmas por parte dos espectadores presentes no recinto. No entanto, uma falha numa passagem quase no final do exercício acabou por condicionar e muito a nota da portuguesa, que acabou com 13.000 quando tinha feito na qualificação 14.100, o melhor registo pessoal em Mundiais. No final da segunda rotação, a portuguesa mantinha a oitava posição mas sabendo que o que se seguia iria complicar a tarefa de chegar ao diploma.

Angelina Melnikova, atleta da Federação russa que ganhou a medalha de ouro por equipas e duas de bronze no all around e no sol nos últimos Jogos Olímpicos, liderava a prova à frente de Leanne Wong, Vladislava Urazova e Kayla di Cello (que cometera um erro penalizador nas paralelas assimétricas), as principais candidatas às medalhas. E foi a primeira na trave na terceira rotação, antecedendo a entrada em cena de Filipa Martins com o “peso” do erro cometido uns minutos antes. Um “peso” que não condicionou em nada a prestação da portuguesa, que acabou com 12.933, quase 0.3 acima da qualificação (12.666). Com isso, ia para a quarta e última rotação no sétimo lugar, com Wong a pressionar Melnikova na frente.

Filipa Martins iria terminar a final do solo, um aparelho onde foi ficando “condicionada” pelos sucessivos problemas num pé ao longo da carreira. Ainda assim, a portuguesa conseguiu defender-se bem, marcando 12.800 (ligeiramente abaixo dos 12.933 da qualificação) que a deixavam à espera do que poderiam fazer as adversárias mais diretas na luta por um diploma. A confirmação desse melhor resultado de sempre viria pouco depois, com uma sétima posição que poderia colocá-la na luta pelo top 5 da prova. Melnikova segurou a vitória, sucedendo a Simone Biles, com 56.632, à frente das americanas Leanne Wong (56.340) e Kayla di Cello (54.566). Urazova falhou o pódio e acabou no quarto lugar (53.598), seguida da neerlandesa Naomi Visser (52.832), da chinesa Xiaoyuan Wei (52.699) e de Filipa Martins (52.199) entre 24 finalistas.