Com o objectivo de reduzir os custos de produção para ganhar competitividade, o Grupo Volkswagen, o maior grupo automóvel europeu e o 2.º maior do mundo, precisa de cortar 10 mil milhões de euros nos próximos dois anos, o que passa por encerrar duas das suas fábricas germânicas. Sucede que se a Alemanha tem a sua economia largamente dependente do sucesso da sua indústria mais forte, a automóvel, os fabricantes germânicos dependem igualmente das ajudas e do apoio do Estado alemão que, como maior contribuinte da União Europeia, tem a capacidade de alterar leis de forma a favorecer os interesses das marcas da casa. Ainda assim, a estratégia aplicada não parece estar a funcionar de forma positiva, e a vários níveis.

Segundo a Reuters, a Volkswagen, como a primeira marca do grupo, será igualmente a primeira a implementar cortes nos gastos, visando uma economia de 10 mil milhões de euros até 2026, com o objectivo de controlar os investimentos nos veículos eléctricos. E em cima da mesa, pelo que foi anunciado ao forte sindicato da indústria, o IG Metal, está o facto de o grupo considerar que duas das suas fábricas são dispensáveis e o objectivo é encerrá-las, o que acontece pela primeira vez em 87 anos e vai implicar um corte considerável no número de postos de trabalho. Esta medida não será fácil de implementar, pois em 1994 a Volkswagen prometeu proteger os postos de trabalho, medida que deveria estar em vigor até 2029, o que agora é colocado em causa.

De acordo com o CEO do grupo alemão, Oliver Blume, “a indústria automóvel europeia atravessa um período muito difícil e exigente” e, face à chegada de novos concorrentes, “é forçoso agir decididamente”. O CEO da marca Volkswagen, Thomas Schaefer, apoia a nova estratégia. Segundo ele, “os esforços do passado para reduzir custos deram resultados, mas os novos desafios que se aproximam estão a revelar-se ainda mais fortes”. Esta é uma referência óbvia aos carros feitos na China que usufruem de benefícios do Estado considerados ilegais pela Organização Mundial do Comércio, sendo que os construtores alemães, como a VW, são os únicos fabricantes europeus a não defender penalizações mais gravosas — os EUA e o Canadá prometem um imposto adicional de 100%, enquanto a Europa penaliza carros chineses entre 17% e 38% —, tudo para evitar que o Estado chinês faça incidir retaliações sobre os veículos de luxo que os alemães querem comercializar na China.

Fechar duas fábricas fica aquém das necessidades

Além da oposição aos despedimentos e cortes, a Volkswagen enfrenta outras dificuldades, sobretudo aquelas que indicam que não deverá conseguir reduzir os custos em 10 mil milhões nos próximos dois anos, como pretendido. Segundo os analistas, tão pouco ajuda o anúncio de lucros operacionais de 966 milhões de euros na primeira metade de 2024, longe dos 1,64 mil milhões em período homólogo do ano anterior. A imprensa germânica acredita ser difícil defender a totalidade dos cerca de 680.000 funcionários do grupo alemão em todo o mundo, indicando para já as fábricas de Osnabrueck e a de Dresden como as maiores candidatas ao encerramento.

Osnabrueck, com apenas 2300 empregados – por comparação, a Autoeuropa, em Palmela, anunciava 4980 funcionários em Dezembro de 2022 -, produz veículos em pequenas quantidades, como o VW T-Roc Cabriolet e os Porsche Cayman e Boxster, sendo que estes três modelos já tinham o final da produção agendado para 2025. A segunda fábrica apontada para ser sacrificada é Dresden, de longe a mais bela fábrica de automóveis do mundo, toda revestida em vidro e daí que seja conhecida como a Transparent Factory. Contudo, não é uma verdadeira fábrica — não tem estampagem, estações de soldadura ou de pintura e muito menos produção de motores e de caixas —, mas apenas uma linha de montagem, recebendo os chassis já construídos e pintados do ID.3 enviados de Zwickau, para aí acabarem de ser montados, com a possibilidade de os clientes, mediante um custo adicional, acompanharem a produção do seu veículo eléctrico, exactamente como acontecia antes com o e-Golf e, uns anos antes, com o VW Phaeton. A confirmar-se o fim destas duas instalações fabris, não será fácil para o grupo alemão conseguir grandes poupanças, sobretudo com Dresden, uma fábrica bela no meio de um parque da cidade, mas que conta com apenas 340 empregados.

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