Emmanuel Macron nomeou Michel Barnier como o novo primeiro-ministro de França, dois dois meses após as eleições legislativas em que nenhum partido assegurou uma maioria absoluta. Durante uma conferência de imprensa na tarde desta quinta-feira, Gabriel Attal passou o testemunho a Barnier, que assumiu que “havia muito trabalho a fazer”.

Barnier lembrou os ensinamentos da sua mãe, “uma mulher cristã de esquerda”, e as lutas que travou ao longo da vida, destacando as palavras que lhe disse: “Michel, acredita no que quiseres, mas nunca sejas demasiado sectário nas tuas crenças. Quando és sectário significa que não acreditas nas tuas próprias ideias”, declarou.

A recusa do sectarismo marcou o seu discurso de aceitação. Agradecendo a Gabriel Attal, assinalou a sua tomada de posse como “um ponto de viragem” para França, que vai “entrar numa nova era”. Neste momento, o país vive uma “era de disrupção”, à qual quer pôr fim, apostando no “respeito e na união”.

Para quando tiver de apresentar ao parlamento francês o seu programa de governo, Barnier prometeu que as prioridades serão a “segurança, as migrações e a subsistência dos franceses”, em linha com “a escola tradicional da república francesa”. O novo primeiro-ministro prometeu ainda “respeitar todas — e quero dizer todas — as forças políticas no parlamento”.

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“Enquanto escrevemos esta nova página na história de França, quero fazê-lo com todos os que estiverem dispostos a tal, trazendo as suas experiências, que eu vou precisar”, afirmou. Esta colaboração inclui todos os partidos, mas também os parceiros económicos e os cidadãos franceses no país e no estrangeiro. Barnier explicou ainda que considera que a humildade e a honestidade são “os critérios chave de um bom primeiro-ministro” e que, por isso, vão guiar o seu trabalho. “Estou aqui para vos ouvir e vos servir: vamos ao trabalho”, rematou o novo primeiro-ministro.

Antes de lhe passar a palavra, Gabriel Attal também discursou, agradecendo a oportunidade de cumprir “a honra de uma vida” no cargo de primeiro-ministro, desejando felicidades ao seu sucessor e destacando os desafios que França enfrenta. “A política francesa está doente”, mas a cura é possível e está nas mãos de Barnier, defendeu Attal, que esteve apenas oito meses à frente do executivo.

Na sua carreira política, Barnier foi ministro enquatro executivos desde a década de 1990: passou pelas pastas do Ambiente, dos Negócios Estrangeiros, dos Assuntos Europeus e da Agricultura e Pescas. Em Bruxelas, foi comissário europeu para o Mercado Interno e Serviços e vice-presidente da sua família europeia, o Partido Popular Europeu. Entre 2016 e 2019, foi o negociador-chefe da União Europeia para o Brexit.

A sua nomeação foi oficializada pela presidência francesa em comunicado, pedindo-lhe que “forme um governo de união ao serviço do país”. Macron garantiu que o político conservador reúne as “melhores condições de estabilidade” para governar. Apesar da nomeação, a oficialização de Barnier enquanto primeiro-ministro depende de aprovação do parlamento.

Emmanuel Macron estava há dois meses a ponderar o candidato ideal para a posição. Apesar da vitória da Nova Frente Popular nas eleições legislativas de julho, o Presidente francês acreditou que o candidato proposto pela coligação não reunia as condições de estabilidade que desejava, bloqueando a hipótese de ter um primeiro-ministro da extrema-esquerda francesa.

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De França a Bruxelas: as reações à escolha de Macron

A primeira reação na esfera política francesa foi a de Yaël Braun-Pivet, presidente da Assembleia Nacional, eleita pelo o centro macronista e outros partidos centristas e de direita, incluindo o de Barnier. Braun-Pivet felicita a nomeação feita pelo Presidente e apela ao executivo que convoque uma sessão extraordinária para os partidos ouvirem o primeiro-ministro apontado.

Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, um dos partidos que fazem parte da coligação que obteve a maioria no parlamento francês, reagiu à nomeação declarando que Macron “negou o resultado das eleições legislativas”. E convocou um protesto contra a escolha do Presidente para o dia 7 de setembro.

Também Marine Le Pen, líder da União Nacional (UN), o partido de extrema-direita que ficou em terceiro lugar na segunda volta das eleições de julho, reagiu à indicação do Presidente declarando que irá estar “atenta ao projeto apresentado” por Barnier. Le Pen espera que exista consideração pela voz da terceira força política do país. De acordo com a France24, é provável que a UN aprove a nomeação.

Michel Barnier, aos 73 anos, é deputado do Partido Republicano (Les Républicains), fundado pelo ex-Presidente francês Nicolas Sarkozy, mas começou a sua carreira parlamentar aos 27 anos pelo partido União pela República. Assumiu a pasta de três ministérios ao longo da sua carreira política, incluindo a de ministro dos Negócios Estrangeiros em 2004. No entanto, foi na Comissão Europeia que teve maior destaque, ao ser nomeado o principal negociador do acordo Brexit, que viu a saída britânica da União Europeia (UE).

Em 2022, Barnier tentou concorrer à Presidência do país, mas acabou por perder nas eleições internas do seu partido atual contra Valérie Pécresse. Durante a sua breve campanha, adotou uma posição firme sobre imigração, propondo uma moratória de três a cinco anos para pessoas que venham de países fora da UE. Em 2005, como referenciado por Mélenchon na rede social X, votou contra a descriminalização da homossexualidade.

Jordan Bardella, jovem presidente do Rassemblement National, também reagiu na rede social X à escolha de Emmanuel Macron. “Após uma espera interminável e indigna de uma grande democracia, reconhecemos a nomeação de Michel Bernier”.

Também Edouard Philippe, o primeiro primeiro-ministro nomeado por Emmanuel Macron reagiu no X à nomeação de Bernier, afirmando que terá “uma tarefa dura”, mostrando-se disponível para ajudar.

Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, também felicitou Bernier pela nomeação, reiterando que sabe que “os interesses da Europa e de França são queridos ao coração de Michel Bernier.