A generalidade dos construtores de automóveis, que comercializam os seus veículos na Europa, enfrentou um desafio muito difícil em 2020, para conseguir que a média das emissões da sua gama ficasse abaixo dos 95g de CO2 por quilómetro segundo o antigo método NEDC (o equivalente hoje a 115,1g/km de acordo com o novo método europeu WLTP, mais rigoroso), valor a partir do qual tinham de pagar multas milionárias. Passados quatro anos sempre a respeitar a fasquia dos 115,1g/km, a União Europeia prepara-se para baixar o limite para apenas 94g/km em 2025, um corte de 19% que vai obrigar muitos construtores a desembolsar centenas de milhões de euros.
Depois de calculada a média das emissões dos veículos vendidos durante os 12 meses de 2020, não faltaram os fabricantes a pagar autênticas fortunas. À Volkswagen, por exemplo, foi aplicada uma multa de 100 milhões, apesar de os alemães terem ficado apenas 0,5g acima do limite, por terem adquirido créditos de carbono à MG (dos chineses da SAIC). A fórmula para atingir valores astronómicos é relativamente simples: multiplicam-se os gramas acima do limite por 95€ e, depois, pelo número de veículos automóveis comercializado durante o ano. Outro exemplo, mas ainda mais extremo, foi protagonizado pela Fiat. A marca italiana arriscava uma penalização ainda mais pesada, segundo as normas da União Europeia, o que a levou a fazer negócio com a Tesla. Por fabricar exclusivamente veículos eléctricos, o construtor norte-americano tem muitos créditos de carbono para vender às marcas que excedem os limites impostos, como era o caso da Fiat. Com esta operação, a Fiat poupou uns largos milhões e a Tesla encaixou 1,8 mil milhões de euros em créditos.
Reduzir 22g de CO2 será missão impossível para muitos
Em 2025, o limite das emissões de CO2 na Europa vai voltar a baixar, desta vez 19%, para um valor de 93,6g/km em WLTP (o equivalente a 77g/km se ainda fosse utilizado o antigo método NEDC). Ora, esta redução de emissões implica vender menos carros a combustão e mais veículos eléctricos, o que será complicado numa fase em que a venda destes últimos desacelerou, por continuarem a faltar no mercado modelos mais baratos a bateria e por países como a Alemanha, ainda antes de surgirem carros eléctricos mais pequenos e acessíveis, terem retirado os incentivos à venda deste tipo de veículos — com o acordo dos construtores locais, o que explica que tenham sido mantidas as ajudas aos híbridos plug-in (PHEV).
De acordo com a DataForce, as vendas de veículos equipados com motores a gasolina ou a gasóleo na UE aumentaram 107 mil unidades, no primeiro semestre de 2024, atingindo 65% do volume total de vendas, enquanto os híbridos conquistaram 11% do mercado (mais 130 mil unidades do que em 2023) e os eléctricos 13% (e mais 6000 unidades). Menos bem estiveram os PHEV, cujas vendas caíram 14 mil unidades, o que reduziu a respectiva quota para 7%. Sucede que apenas os modelos eléctricos e os PHEV contribuem para uma redução das emissões de CO2, sendo que estes últimos só “contribuem” devido à actual legislação europeia, pois os dados relativos ao consumo real confirmam que um volume considerável de veículos com esta tecnologia não recarrega regularmente a bateria, acabando por consumir e emitir mais CO2 do que os simples híbridos.
O incremento das vendas de motores a combustão explica que somente as poucas marcas que vendem veículos eléctricos — exclusivamente ou em grandes quantidades — estejam à vontade perante os limites de CO2 fixados para 2025. Todos os restantes construtores de automóveis arriscam multas que facilmente poderão superar as várias centenas de milhões de euros. E entre os potenciais fustigados estão a Ford, com uma média na primeira metade de 2024 de 125g/km, seguida dos grupos VW (123g/km), Renault-Nissan-Mitsubishi (114g/km), Stellantis (113g/km), Hyundai/Kia (108g/km), Mercedes (108g/km), BMW/Mini (106g/km) e Toyota/Lexus (105g/km). Todos eles bem acima dos 93,6g de CO2/km, o tecto máximo que a média da gama a comercializar durante 2025 pode atingir.