“Nos 248 anos de História da nossa nação, nunca houve um indivíduo que fosse uma maior ameaça à nossa República do que Donald Trump.” Foi assim que Dick Cheney, antigo vice-presidente norte-americano e conhecida figura do Partido Republicano, justificou a sua decisão de votar na candidata democrata Kamala Harris, nas eleições presidenciais de 5 de novembro.
Cheney é uma figura histórica dos republicanos, tendo feito parte da administração de George W. Bush e sido um dos principais promotores da guerra no Iraque de 2003. Agora, afirma que a atuação de Trump após as eleições de 2020, que deram a vitória a Joe Biden, é razão suficiente para votar na adversária: “Ele tentou roubar a última eleição através de mentiras e violência para se manter no poder”, disse em comunicado o antigo vice-presidente, referindo-se ao não reconhecimento do resultado eleitoral e ao ataque ao Capitólio. “Nunca mais lhe pode ser confiado o poder.”
A decisão de votar em Kamala Harris, explicou, em vez de se abster, baseia-se no “dever” de “colocar o país acima do partidarismo”, para defender “a Constituição”.
A posição de Dick Cheney já tinha sido revelada pela sua filha, a ex-senadora Liz Cheney (que fez parte do comité de investigação ao ataque ao Capitólio). Depois de ela própria ter assumido que vai votar em Harris, Liz Cheney afirmou numa conferência onde estava a participar na passada sexta-feira que o seu pai iria fazer o mesmo. A confirmação chegou algumas horas depois, no comunicado de Dick Cheney.
O anúncio é particularmente relevante por não se cingir apenas à decisão de não votar em Trump, mas com o republicano a ir mais longe e a assumir o voto na candidata democrata. E ganha uma dimensão ainda maior por vir de um dos políticos historicamente mais relevantes do Partido Republicano e que está longe de ser próximo da esquerda norte-americana — e de ser sequer uma figura acarinhada por grande parte dela.
Em reação, a campanha de Kamala Harris agradeceu o apoio. “A vice-presidente está orgulhosa de ter o apoio do vice-presidente Cheney e respeita profundamente a sua coragem de colocar o país acima do partido”, afirmou a diretora de campanha, Jen O’Malley Dillon.
Do lado oposto, Donald Trump reagiu na sua rede, Truth Social. Afirmou que Dick Cheney é um “RINO irrelevante”, usando o acrónimo para Republican In Name Only (“Republicano apenas de nome”) e acusou-o de ser “O Rei das Guerras Eternas e Sem Sentido, desperdiçando Vidas e Biliões de Dólares”. “Eu sou o Presidente da Paz e só eu irei travar a III Guerra Mundial!”, acrescentou.